Quando chegou à Inter, em 1984, Karl-Heinz Rummenigge não precisava provar nada a ninguém. Desde os 19 anos integrando o elenco principal do Bayern Munique, o atacante já havia ganhado duas Copas dos Campeões, duas Bundesliga e duas Copas da Alemanha. Aos 29 anos, era o capitão do Bayern e da seleção da Alemanha Ocidental, vice-campeã do mundo em 1982 e campeã europeia em 1980.
Individualmente, Rummenigge já havia sido artilheiro do campeonato alemão por três vezes, estabelecendo o recorde de 29 gols em uma única temporada, até hoje não superado. Por suas grandes atuações, havia sido eleito, por duas vezes consecutivas, Bola de Ouro, em 1980 e 1981. Quando o novo presidente Ernesto Pellegrini investiu 10,3 milhões de liras – valor correspondente hoje a 5,7 milhões de euros – em sua primeira grande compra, não havia dúvidas de que era um ótimo negócio. Rummenigge, no entanto, nunca chegou a repetir em Milão os passos de sua trajetória em Munique.
Em Munique, Kalle, como era carinhosamente chamado, começou como trequartista. Jogando às costas dos centroavantes, ele desenvolveu dois aspectos fundamentais em sua carreira como atacante: os dribles curtos, a movimentação e as saídas da grande área para criar jogadas que, muitas vezes, ele mesmo concluiria depois. Após a chegada do húngaro Pál Csernai ao comando da equipe, Rummenigge foi avançado para o ataque e uniu as características desenvolvidas como meia-atacante com um poder realizativo muito acima da média, com chutes ou cabeceios certeiros, recebendo o apelido de Panzer – referência aos tanques de guerra germânicos.
Na Inter, porém, apenas uma faceta de Rummenigge foi vista: limitado por lesões, o atacante tinha menos movimentação e começou a ficar mais fixo na área, ao lado do capitão
Altobelli. Os dois eram apoiados pelos meias Brady, Mandorlini e
Causio. A grande sequência de lesões também impediu que Rummenigge jogasse muito em suas três temporadas na Beneamata. Sua primeira temporada foi a melhor: disputou, ao todo, 44 partidas pelo clube, com 18 gols marcados – apenas oito pela Serie A e cinco pela Copa Uefa. A Inter ficou no quase, assim como o Panzer.
Craques em alerta durante o dérbi (Interleaning)
A equipe, que era favorita ao título italiano, ficou em terceiro no campeonato, pouco atrás de Verona e Torino, além de ter caído nas semifinais da Coppa Italia para o Milan e nas semifinais da Copa Uefa para o Real Madrid. Na Serie A, o Panzer se destacou por ter feito seus primeiros gols vestindo nerazzurro contra a Juventus de
Trapattoni,
Scirea,
Cabrini,
Tardelli, Boniek,
Rossi e
Platini, no
4 a 0 contra uma das melhores equipes do futebol italiano. Na competição continental, Rummenigge teve seu grande momento pelo clube e marcou um dos gols mais belos de sua carreira, um
voleio contra o Rangers, que foi mal anulado por jogo perigoso.
A Inter, no entanto, foi mal na competição nacional e terminou apenas na sexta posição, conquistando a classificação para a Copa Uefa seguinte só porque a Roma venceu a Coppa Italia. Com o Milan na sétima posição, seria a primeira vez que um dos dois times de Milão ficariam de fora de competições europeias. Na Europa, por sua vez, Rummenigge não evitou que a Inter caísse novamente para o Real Madrid, nas semifinais. Na Copa do Mundo do México, em 1986, o atacante liderou a seleção da Alemanha Ocidental, que acabou sendo vice-campeã pela segunda vez consecutiva, desta vez ante a Argentina, de
Maradona. Rumennigge marcou na final, mas não conseguiu reverter a desvantagem no placar.
A terceira e última temporada do ídolo alemão foi melancólica e nem mesmo a chegada de Trapattoni para dirigir o time fez com que a Inter decolasse. Rummenigge participou de apenas 14 jogos na Serie A e suas lesões impediram que a equipe nerazzurra pudesse perseguir o Napoli de Maradona,
Careca e
Giordano, que acabou conquistando seu primeiro título na história. Em campo, o atacante alemão não conseguiu evitar as derrotas nas quartas de finais da Coppa Italia para o Cremonese e na mesma fase da Copa Uefa para o IFK Gotemburgo, que se sagraria campeão. Depois disso, Rummenigge seguiu para o Servette, da Suíça, clube pelo qual ainda venceu um campeonato local e sagrou-se artilheiro, antes de se aposentar. Foi vice-presidente do Bayern entre 1991 e 2002 e, desde então, é uma espécie de relações públicas do clube.
Mesmo sem títulos e sem poder ter contado com o atacante em tantos jogos, Rummenigge nunca foi considerado como um mau investimento. À época, talvez sem o mesmo brilhantismo, era para a Inter o que Platini era para a Juventus, em um dos momentos mais gloriosos do futebol italiano: um craque – que desfilava pouco pelos gramados. Mas isto não importava muito: Kalle era amado pela torcida por causa de sua classe,
gols decisivos e alguns golaços.
Além disso, a contratação do atacante foi o marco zero do movimento que levou outros jogadores alemães ao clube no decorrer dos anos 80. Depois dele, chegaram ao clube Andreas Brehme e
Lothar Matthäus, fundamentais para o scudetto conquistado, com uma série de recordes, em 1988-89, além de Jürgen Klinsmann, no ano seguinte. No entanto, para muitos, o alemão que deve ser idolatrado nunca levantou nenhuma taça vestindo azul e preto.
Karl-Heinz Rummenigge
Nascimento: 25 de setembro de 1955, em Lippstadt (Alemanha Ocidental)
Posição: atacante
Clubes: Bayern Munique (1974-84), Inter (1984-87) e Servette (1987-89).
Títulos: 2 Copas dos Campeões (1974-75 e 1975-76), 2 Bundesliga (1979-80 e 1980-81), 2 Copas da Alemanha (1981-82 e 1983-84), 1 Mundial Interclubes (1976) e 1 Eurocopa (1980).
Seleção alemã ocidental: 95 jogos e 45 gols.
AUTOR ; NELSON OLIVEIRA