Angelino Ferreira, responsável pela pasta das finanças da SAD do FC Porto de 2010 a 2014 e que saiu em rutura com a administração portista, acedeu a comentar para A BOLA, na condição de analista financeiro, o momento conturbado que vive o futebol em geral e o FC Porto em particular.
Há um mês a SAD azul e branca apresentou prejuízos de quase 52 milhões de euros nas contas do primeiro semestre da época em curso e a atual paralisação do futebol na Europa, devido à pandemia do novo coronavírus, levanta ainda mais preocupação.
«Segundo sei, a UEFA deu uma margem de mais um mês para se apresentar os comprovativos necessários ao Comité de Controlo Financeiro dos Clubes, cuja função é supervisionar a aplicação do Sistema de Licenciamento de Clubes e Regulamentos de Fair-Play Financeiro da UEFA, analisar detalhadamente se as regras estão a ser cumpridas. Nessa fase, são apenas requisitos que têm de ser entregues, mas as contas finais do ano civil, ou seja, do final da época em curso é que são de levar em linha de conta, com os Relatórios e Contas a serem esmiuçados ao pormenor», explica Angelino Ferreira, antigo dirigente e antigo administrador portista.
Consequência do rombo nas receitas com que a SAD do FC Porto se deparou pelo clube ter falhado a fase de grupos da Liga dos Campeões, Fernando Gomes, atual responsável pelos dinheiros dos dragões, foi obrigado a recorrer a uma operação financeira para minimizar os estragos causados pela despromoção dos dragões à Liga Europa - prova da qual entretanto também já foram eliminados - e superar o défice de dinheiro em caixa. A solução passou pela antecipação de receitas futuras provenientes de direitos televisivos, com o clube a encaixar 30 milhões de euros em novembro passado, ficando em aberto a possibilidade de obter um encaixe suplementar de 20 milhões de euros nos primeiros meses deste ano. «Creio que este mecanismo feito pela SAD já apontava nesse sentido, de ter dinheiro destinado a fazer face a um conjunto de compromissos financeiros e também para estar alinhado com as regras do fair-play financeiro da UEFA», acredita Angelino Ferreira.
«Acho que uma tranche considerável desse dinheiro antecipado em receitas televisivas terá sido canalizada como recurso para suprir a falta de liquidez, atendendo a que o clube não foi feliz em termos desportivos, ao ser eliminado na pré-eliminatória da Champions», analisa ainda, não deixando de olhar um pouco mais além e de distribuir alguns alertas.
«O facto de o FC Porto não ter entrado na Champions teve influência óbvia nas contas apresentadas recentemente [ndr: o primeiro semestre fechou com um prejuízo de 51,8 milhões de euros], mas a razão é bem mais profunda. Nessa conformidade, o clube está obrigado a realizar vendas avultadas», perspetiva Angelino Ferreira, igualmente conhecedor da obrigatoriedade de os portistas terem que garantir 100 milhões de euros ou mais em mais valias com a venda de passes de jogadores.
«Mas crucial mesmo será o FC Porto sagrar-se campeão nacional, pois isso ajudaria os cofres da SAD sobremaneira, com a entrada de uma receita garantida na ordem dos 60 milhões de euros», sustenta.