segunda-feira, 8 de maio de 2017

Rildo… figurinhas para o futuro



Corria o festivo mês de junho de 1958. Em verde e amarelo, balões e bandeirinhas, ofereciam um colorido diferente na vizinhança.
Com seu ouvido colado ao velho rádio de madeira, o entusiasmado Rildo acompanhava o triunfo brasileiro na Suécia.
E nada era capaz de desviar sua atenção, nem mesmo os gritos dos amiguinhos com uma bola batendo no portão.
Depois do jogo, em meio ao barulho da grande festa que tomou ruas e avenidas, Rildo segura em suas mãos o álbum de figurinhas da Copa do Mundo.
Durante um bom tempo, Rildo olhou com orgulho os cromos de todos os jogadores e em especial para aquele que era o seu grande ídolo: Nilton Santos!

Nilton Santos no álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 1958.

Rildo também virou figurinha famosa. Entretanto, um corte mal explicado o tirou do que poderia ser a sua segunda Copa do Mundo em 1970.
E assim como o ídolo Nilton Santos, Rildo também jogava pela lateral esquerda.
Sonhava em ser uma nova “Enciclopédia do Futebol” como Nilton Santos, ou quem sabe um dia, também vestir os uniformes do Botafogo e da Seleção Brasileira.
Talvez, uma nova versão de “Enciclopédia”, bem mais simplificada é verdade, pois Nilton Santos era intocável para ele!
Rildo da Costa Menezes nasceu em Recife (PE), em 23 de janeiro de 1942.
Iniciou sua carreira nas divisões amadoras do Sport Club do Recife, onde quase que diariamente treinava duro no sol que castigava o gramado da ilha.

Crédito: revista do Esporte número 194 – 24 de novembro de 1962.

Antes de um jogo entre Botafogo e Santos, o lateral Rildo e Pelé são entrevistados pelo repórter Reali Júnior. Crédito: site do Milton Neves.
Em 1959, quando Rildo já atuava pelo quadro de Aspirantes, uma notícia inesperada fez sua boca secar e seu coração acelerar:
O Botafogo de Futebol e Regatas confirmou sua presença em Recife para enfrentar o Sport. E a cidade rapidamente se mobilizou para receber o times de astros da “Estrela Solitária”.
Quando o dia do esperado jogo chegou, Rildo atuou na lateral esquerda do time de Aspirantes. Encerrado o confronto, Rildo recebeu com surpresa uma notícia que mal conseguia acreditar.
O Botafogo mandaria uma passagem para que ele fosse treinar no “Glorioso”, pois o técnico João Saldanha tinha assistido ao jogo preliminar e demonstrou muito interesse em seu futebol.

Crédito: revista do Esporte número 236 – 14 de setembro de 1963.
Então, os meses passaram rapidamente pelo calendário. Como o envelope contendo a tal da passagem não chegava nunca, seus companheiros de clube o molestavam.
Diziam que João Saldanha tinha se arrependido ou que o carteiro certamente entregou seu sonho em lugar errado.
Até que um dia a passagem chegou e Rildo abriu o envelope rapidamente. Menor de idade, o jovem lateral seguiu munido de sonhos e de uma autorização especial para o Rio de Janeiro.
Aprovado nos testes, Rildo foi aproveitado no juvenil e semanalmente treinava contra o time principal. Como que por magia, sua rotina agora era conviver com os craques que tanto admirou nos álbuns de figurinhas.

Em 1966 Rildo reencontrou Mané Garrincha que estava em São Paulo defendendo o Corinthians. Crédito: revista do Esporte.
Toda semana era a mesma coisa. Inutilmente, Rildo tentava brecar o endiabrado Mané Garrincha.
Rildo sabia que o manjado drible de Garrincha seria pela direita. Tentava desarmar o ponteiro infernal… E de novo tentava… E de novo… Até escutar o Mané gargalhar.
E foi assim até 1960, quando finalmente foi relacionado no elenco de profissionais como reserva de Nilton Santos, que naquele período iniciava seu ciclo na quarta zaga.
Efetivado no time, Rildo participou da conquista do bicampeonato carioca de 1961/62, época em que também foi lembrado no selecionado carioca.
Suas primeiras convocações para o escrete canarinho aconteceram na preparação para o mundial de 1962. No entanto, Rildo perdeu seu lugar para o experiente Altair do Fluminense e não embarcou para o Chile.

Crédito: revista A Gazeta Esportiva Ilustrada número 228.
Campeão do Torneio Rio São Paulo nas edições de 1964 (título dividido com o Santos) e 1966 (título dividido com Vasco da Gama, Corinthians e Santos), Rildo continuou lembrado na seleção e disputou o mundial de 1966 na Inglaterra.
Lamentavelmente, em seu único jogo oficial em uma Copa do Mundo, Rildo participou da fatídica derrota para Portugal por 3×1, o que custou nossa desclassificação antecipada da competição.
Em 1967, quando o Botafogo passava por um momento de crise financeira, o companheiro de seleção Carlos Alberto Torres sugeriu novos ares para a carreira de Rildo com uma transferência para o Santos Futebol Clube.
A negociação com o Botafogo foi difícil e Rildo teve que abrir mão dos 15% que tinha direito. Tomado por uma grande empolgação, o pernambucano preparou suas coisas e deixou o Rio de Janeiro.

Crédito: revista O Cruzeiro – 1966.
Chegando em Santos, o diretores do clube praiano não questionaram o valor do salário pretendido pelo jogador.
Mostrando boa vontade, o clube ainda ofereceu metade dos 15% não pagos pelo Botafogo e instalou o jogador em um ótimo apartamento na praia. Jogando pelo “Peixe”, Rildo conheceu o mundo e faturou inúmeros títulos:
– Campeonato Paulista 1967/68/69, Torneio Robertão de 1968, Recopa Sul-Americana e Recopa dos Campeões Mundiais de 1968, além de inúmeros torneios nacionais e internacionais.
Na Vila Belmiro, Rildo assinou ótimos contratos e sempre guardou boas recordações dos grandes esquadrões que dominaram os anos sessenta.

Álbum de figurinhas Bola de Prata 1971.
Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.

O escrete nas eliminatórias de 1969. Partindo da esquerda, em pé: Carlos Alberto Torres, Felix, Djalma Dias, Joel, Piazza e Rildo. Agachados, na mesma ordem: Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Edu. Crédito: soccernostalgia.blogspot.com.br.
Ainda pela seleção, Rildo brilhou nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, sempre como titular. Tudo corria bem… Bem até acontecer um estranho exame no departamento médico.  
Depois da saída do técnico João Saldanha, Rildo foi cortado do time de Zagallo após um surpreendente diagnóstico que apontou problemas no coração.
Anos depois, o ainda inconformado Rildo questionava o Dr. Lídio de Toledo sobre o suposto problema no coração. E nada de respostas concretas! Rildo continuou sua carreira.
Em 1972 deixou o Santos e retornou ao mesmo Botafogo por um curto período. Em seguida jogou pelo CEUB de Brasília e pelo ABC de Natal. Em 1976 Pelé o convidou para jogar pelo Cosmos nos Estados Unidos.
Defendeu ainda o California Sunshine e em 1979 foi contratado pelo Los Angeles Aztec, onde encerrou a carreira em 1981 ao lado do lendário e saudoso irlandês George Best.

Rildo, ao lado de Pelé, reclamam com o árbitro. Crédito: revista Placar.

Formação do ABC de Natal (RN) em 1972. Em pé: Sabará, Édson, Tião, Nílson, Maranhão e Rildo. Agachados: Libânio, Alberí, Danilo Menezes, Petinha e Soares. Crédito: revista Placar – Outubro de 1972.

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