Média baixa de idade e desempenho impressionante empurram o Ajax rumo a mais uma final europeia. Para ser campeão da Liga Europa após 25 anos, a equipe holandesa conta com o talento da meninada e um ídolo como auxiliar técnico.
A temporada poderia ter sido um fiasco para o Ajax, não fosse a Liga Europa. Em segundo lugar na Eredivisie e eliminada ainda nas quartas de final da Copa da Holanda, a equipe de Amsterdã chega com moral e um placar excelente para colocar um dos pés na final do torneio continental. O atropelamento contra o Lyon por 4-1, na última quarta-feira, colocou em evidência o bom trabalho de revelação e observação de atletas.
Treinado por Peter Bosz, que teve boa passagem pelo Vitesse antes de fazer uma temporada à frente do Maccabi Tel-Aviv, o Ajax tem mais da metade do elenco composta por holandeses. E o que mais impressiona é a média de idade geral: 22,65 anos, uma geração muito jovem para ser competitiva. E no banco, ao lado de Bosz, está o memorável Dennis Bergkamp, ídolo holandês de marca maior. Outros craques como Edwin Van der Sar e Marc Overmars ocupam cargos diretivos, na tentativa de devolver os amsterdanenses ao caminho das glórias.
Tem sido uma tendência revelar bons jogadores nas últimas décadas, pois a categoria de base dos Godenzonen é uma das mais eficazes da Europa. Não só formam meninos de alto nível para vender ao mercado externo, mas quase sempre concedem espaço para que os garotos evoluam no esporte da maneira correta. É claro que a posição atual da agremiação não é a mesma da década de 1990, com alta profusão de craques nacionais e internacionais. Mas dentro das suas capacidades, o Ajax quer dominar a Liga Europa, que está a seu alcance.
Verdade seja dita: o Ajax e o próprio futebol mudaram muito desde 1995, quando aquele time de Louis Van Gaal e uma constelação de pratas da casa conquistaram a última taça fora da Holanda. Os Godenzonen não são mais uma potência continental e sequer conseguiram ultrapassar as quartas de final da Champions desde 1997. O histórico recente pelas principais competições europeias tem sido decepcionante, para dizer o mínimo.
Agora este velho campeão pede passagem no torneio secundário da Uefa, que ganha um pouco mais de relevância a cada vez que uma grande força lhe dá prioridade. É natural que a Champions esteja dominada por quatro ou cinco times ano após ano, e da mesma forma, a Liga Europa caminha para retomar o prestígio conforme esses gigantes do passado se empenham para conquista-la.
Então, qual é o segredo deste Ajax?
Destacam-se no plantel amsterdanense o goleiro Onana, os defensores Sánchez, Veltman, Riedewald, Sinkgraven e Viergever; os meias Ziyech, Klaassen e Schone; além dos atacantes Dolberg, Traoré, David Neres, Younes e Justin Kluivert. Destes listados, apenas Veltman, Viergever e Schone têm mais de 25 anos. E Schone é o mais velho entre eles, com 30. No ataque, o “tiozão” é Younes, com apenas 23. Dolberg e Kluivert, que chamam muita atenção, têm 19 e 17 anos, respectivamente.
Até aqui, a temporada foi de altos e baixos. Sem o título holandês desde 2015, o Ajax tenta compensar a falta de conquistas com bom futebol. E a meninada de Bosz está dando conta do recado. Eliminados ainda nos playoffs da Champions, eles viram na Liga Europa uma chance de redenção. Com 14 pontos na fase de grupos em uma chave ao lado de Celta, Panathinaikos e Standard Liège, os holandeses avançaram com moral, marcando 11 gols em seis jogos.
Das equipes que ainda restaram no torneio, o Ajax é a que mais marcou: 23 gols em um total de 13 partidas, totalizando uma média de 1.76 gols por jogo. Entretanto, a melhor marca ainda pertence ao Genk, com 25 em 12 confrontos. Os belgas caíram nas quartas, diante do Celta.
Daí em diante, só emoção: vitória apertada contra o Legia Varsóvia, por 1-0 no agregado em Amsterdã na segunda fase; classificação igualmente suada contra o Copenhagen com triunfo por 2-0 em casa (3-2 no agregado) nas oitavas; sem falar no verdadeiro dramalhão diante do Schalke, pelas quartas de final. Vencendo em casa por 2-0, o Ajax precisou da prorrogação na Alemanha quando os azuis-reais foram buscar o placar que precisavam para chamar o tempo extra. E os alemães ainda saíram na frente para fazer o terceiro, se aproximando da semifinal. Nos nove minutos finais, veio a reação: Viergever e Younes (pouco antes do apito final) castigaram o Schalke para garantir a vaga, no limite.
Aí tivemos a atuação da temporada, aquela que coloca o Ajax em ótima posição para chegar à final em Estocolmo. Os meninos de Bosz envolveram o Lyon e fizeram um jogo impecável. Traoré (2x), Dolberg e Younes anotaram os tentos dos donos da casa na Amsterdam Arena. Algumas marcas deste estilo encantaram o grande público: a facilidade de chegar até a área, a rapidez na troca de passes, a habilidade para cortar marcadores e achar espaços na defesa oponente, e, por último, a frieza na finalização. Dolberg e Younes provaram esta tese com gols em lances que exigem atenção e qualidade no arremate.
Quem quer que venha para fazer a final, seja Celta ou Manchester United, terá que ficar atento à intensidade proporcionada pelos jovens de Peter Bosz. Uma geração precoce e que quer mostrar seu valor por meio de taças, o jeito mais eficaz de chamar a atenção do público e marcar lugar na história deste clube tão rico em talentos desde os anos 1960. Simplesmente porque formar craques está no DNA do Ajax.
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