quarta-feira, 3 de maio de 2017

Givanildo… o “Topo Gigio” de Olinda

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Sentado em sua confortável e puída poltrona de couro, o presidente Vicente Matheus estava visivelmente preocupado .
Foram várias tentativas para dedilhar cifras tão altas em sua velha e surrada calculadora Burroughs. Dessa vez, o Corinthians tinha investido alto em três grandes contratações que poderiam realmente dar certo.
A máquina parecia rejeitar os R$ 2,5 milhões de cruzeiros investidos no promissor volante Givanildo, que chegava do Santa Cruz, mais os R$ 1,2 milhões de cruzeiros destinados ao meia Neca junto ao Grêmio.
Sem contar ainda com os 500.000 cruzeiros referentes ao atacante João Paulo do Esporte Clube XV de Novembro de Piracicaba, caso ele fosse aprovado no final do período de empréstimo.
Cromo de Givanildo no Santa Cruz. Álbum de figurinhas Bola de Prata 1971. Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.
Cromo de Givanildo no Santa Cruz. Álbum de figurinhas Bola de Prata 1971. Crédito: albumefigurinhas.no.comunidades.net.
Neca, Givanildo e João Paulo. Os novos reforços do Timão em 1976. Crédito: revista Placar - 17 de setembro de 1976.
Neca, Givanildo e João Paulo. Os novos reforços do Timão em 1976. Crédito: revista Placar – 17 de setembro de 1976.
Era preciso contratar e dar condições para o técnico montar uma boa equipe. Matheus se estica na velha cadeira. Manda chamar o técnico Duque e o preparador físico Roberto Brida.
Em tom amigável, o bate papo da alta cúpula do Corinthians começa com um sentimento de que o dinheiro foi bem gasto.
– Coloquem os novos contratados para treinar rapidamente. Não temos mais tempo para perder!
Disse Vicente Matheus, enquanto toma seu café ao mesmo tempo em que olha os jornais para ver o que estavam dizendo sobre os novos contratados.
Chegada de Givanildo ao Parque São Jorge. Crédito: revista Placar - 17 de setembro de 1976.
Chegada de Givanildo ao Parque São Jorge. Crédito: revista Placar – 17 de setembro de 1976.
Por um instante, Matheus abaixa o jornal e dispara uma pergunta:
– E esse tal de Givanildo… Foi caro hein! Ele é bom mesmo ou é só conversa?
– É sim… Vale cada centavo. Conheço o garoto desde que chegou ao Santa Cruz. É um autêntico “motorzinho”! Respondeu imediatamente o técnico Duque.
Givanildo José de Oliveira, nasceu no bairro de Vila Popular em Olinda (PE), no dia 8 de agosto de 1948. De origem humilde, sua infância foi marcada por sacrifícios para ajudar sua família.
Carregou sacolas na feira em troca de alguns trocados e mais tarde conseguiu um emprego de Office Boy na agência do publicitário Paulo Duarte. Emprego este que, curiosamente, lhe abriu os horizontes para o mundo do futebol.
Givanildo! Uma grande surpresa nas apurações da Bola de Prata de 1971. Crédito: revista Placar.
Givanildo! Uma grande surpresa nas apurações da Bola de Prata de 1971. Crédito: revista Placar.
Formação do Santa Cruz no início dos anos setenta. Em pé: Gena, Vila Nova, Válter, Detinho, Rivaldo e Antoninho. Agachados: Cuíca, Fernando Santana, Paulinho, Luciano e Givanildo.
Formação do Santa Cruz no início dos anos setenta. Em pé: Gena, Vila Nova, Válter, Detinho, Rivaldo e Antoninho. Agachados: Cuíca, Fernando Santana, Paulinho, Luciano e Givanildo.
Em pouco tempo, o publicitário Paulo Duarte notou uma grande quantidade de visitantes que, coincidentemente, apareciam sempre no final de cada semana para convidar o garoto para jogar nos badalados times de várzea da cidade.
Não demorou muito para que o próprio publicitário conseguisse que seu Office Boy fizesse um teste nas categorias de base do Santa Cruz no ano de 1966. Aprovado, Givanildo foi desenvolvendo suas habilidades no time Coral.
Baixinho, magro e sem chute, com o passar dos anos seu futebol de fôlego “incansável” foi aproveitado pelo técnico Gradim, inicialmente atuando em algumas partidas como ponta esquerda.
É fácil encontrar um pôster do Santa Cruz do início dos anos setenta com Givanildo pela ponta esquerda.
Crédito: revista Placar - 14 de dezembro de 1973.
Crédito: revista Placar – 14 de dezembro de 1973.
Jogando como ponta esquerda, Givanildo liderou praticamente boa parte das votações da “Bola de Prata” da revista Placar em 1971, perdendo para o ponteiro Edu (Santos F.C) justamente nas últimas apurações.
Com o passar do tempo, ocupou uma merecida posição no meio campo da equipe que levantou o inesquecível pentacampeonato pernambucano (1969–1973).
Entretanto, em 1973 aconteceu o susto. Em uma partida contra o Náutico, válida pelo campeonato brasileiro, Givanildo levou um empurrão do jogador Chico do Náutico e caiu na lateral do campo.
O lance, aparentemente casual e sem maldade, ocasionou a fratura de sua clavícula direita com encavalamento do osso, exigindo uma pronta intervenção cirúrgica e o afastamento por três meses dos gramados.
Givanildo e Darcy em treino no Parque São Jorge. Crédito: revista Placar.
Givanildo e Darcy em treino no Parque São Jorge. Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar -  8 de outubro de 1976.
Crédito: revista Placar –  8 de outubro de 1976.
E foi no campeonato nacional de 1975, que o excelente time do Santa Cruz surpreendeu o Brasil quando chegou em quarto lugar naquela competição, sendo eliminado apenas pelo forte time do Cruzeiro em um confronto direto.
Aquela memorável equipe do Santa contava com grandes valores como o jovem Levir Culpi, Pedrinho (ex Corinthians), Ramón (artilheiro do brasileirão de 1973) e o centroavante Nunes, que posteriormente fez muito sucesso pelo Flamengo.
Com seu futebol em alta, o *Topo Gigio (um de seus apelidos) começou a ser cobiçado por grandes clubes do futebol brasileiro. Acabou permanecendo no Arruda e continuou amadurecendo.
*O personagem Topo Gigio foi criado em 1958 pela italiana Maria Perego. No Brasil, o personagem apareceu pela primeira vez no programa Mister Show, na Rede Globo, em 1969, quando dividia a telinha com o humorista Agildo Ribeiro. 
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista do Corinthians - Edição comemorativa do título de 1977.
Crédito: revista do Corinthians – Edição comemorativa do título de 1977.
Em 1976 Givanildo foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou e venceu o Torneio bicentenário dos Estados Unidos, além da conquista da Taça do Atlântico no mesmo ano.
Suas exibições com o uniforme canarinho puderam demonstrar toda sua habilidade e capacidade de cobertura. Giva rodava o perímetro defensivo com grande disposição, como um autêntico limpador de para brisas.
Quando o comando do escrete foi assumido por Cláudio Coutinho, Givanildo foi praticamente deixado de lado nas convocações seguintes.
Esse “esquecimento” do treinador Cláudio Coutinho, pode ter influenciado bastante em sua adaptação e permanência no futebol paulista.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar - 11 de junho de 1976.
Crédito: revista Placar – 11 de junho de 1976.
Com todas essas credenciais, Givanildo chegou ao Corinthians em setembro de 1976 para disputar o campeonato brasileiro do mesmo ano, onde participou da épica campanha que levou o time ao vice campeonato.
Em 1977, depois da chegada do técnico Brandão, Givanildo não quis entrar em uma disputa pela posição. Era sacado constantemente da equipe, além dos boatos sobre o interesse do alvinegro por Caçapava e Falcão.
Magoado, Givanildo pedia para ir embora. Não queria mais permanecer no Corinthians e sonhava com sua vida pacata em Recife.
Mesmo com uma permanência relativamente curta no Parque São Jorge, o volante é lembrado até hoje pelo ótimo futebol que apresentou, sempre dedicado e incansável dentro de campo.
Crédito: revista Placar - maio de 1977.
Crédito: revista Placar – maio de 1977.
Givanildo não queria permanecer no Corinthians. Crédito: revista Placar - 6 de maio de 1977.
Givanildo não queria permanecer no Corinthians. Crédito: revista Placar – 6 de maio de 1977.
Na bagagem que levou de volta para Recife, estava o importante título paulista de 1977. Mesmo que boa parte da torcida alvinegra não se lembre, ele também participou naquela campanha atuando em algumas partidas.
Voltou ao seu querido Santa Cruz e conquistou o bicampeonato pernambucano em 1978/1979. Logo em seguida, Givanildo foi negociado com o Fluminense.
O Rio de Janeiro, além de seus encantos, também era cercado de cobranças por parte dos diretores, imprensa e torcida.
Não permaneceu muito tempo no tricolor das Laranjeiras e mesmo com o título carioca de 1980, Givanildo também pediu para sair.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Novamente voltou para sua querida Recife, agora para defender o Sport Club do Recife.
Apesar da polêmica envolvendo sua transferência justamente para o “Rival da Ilha”, Givanildo levantou o caneco de tricampeão pernambucano em 1982.
No findar de 1983, o velho “Giva” decidiu deixar os gramados. Assim, começou sua destacada carreira ocupando o cargo de treinador. Sério e competente, ficou conhecido como o “Rei dos Acessos”.
São quase trinta anos de bons serviços como treinador atuando em várias equipes pelo Brasil. Um dos maiores vencedores do futebol nordestino.
Assim como no Corinthians, Givanildo ficou pouco tempo no Fluminense.
Assim como no Corinthians, Givanildo ficou pouco tempo no Fluminense.
Crédito: revista Placar.
Crédito: revista Placar.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por José Maria de Aquino, Carlos Maranhão e Lenivaldo Aragão), revista Manchete Esportiva, revista do Corinthians, site do Milton Neves, robertoblogdo.blogspot.com, coralnews.com.br, campeoesdofutebol.com.br, blogdosantinha.com (por Inácio França), loucospelosantacruzfc.blogspot.com, albumefigurinhas.no.comunidades.net.

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