sexta-feira, 1 de maio de 2020

Com acordos e novas iniciativas, patrocinadores e clubes evitam romper contratos na crise

e de exposição se dará em um período menor", afirma. "Ao comprimir vários campeonatos, vai ter tanto jogo que teremos um problema de televisionamento com menos jogos na TV aberta do que em uma temporada regular", acrescenta.
É uma argumentação, portanto, contrária a de alguns clubes, que apontam a busca pela manutenção do calendário intacto, especialmente a disputa do Brasileirão de pontos corridos e em 38 rodadas, para convencer parceiros a manter o apoio inalterado. "Acreditamos que o que não está sendo entregue agora, em termos de exposição, será recuperado lá na frente, pois o calendário não deve ser reduzido", defende Beto Carvalho, diretor executivo de marketing do Grêmio.
Independentemente de quem está com a razão nesse debate, o fato é que as rescisões de contrato pelos patrocinadores têm sido raras, com o caso mais conhecido sendo o da Azeite Royal, que logo no início da quarentena rompeu seus acordos com Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense e o Maracanã. "Foi algo totalmente isolado, o bom senso tem imperado em um momento inédito e de estresse", avalia Fábio Wolff, sócio-diretor da agência de marketing Wolff Sports.
O mais comum vem sendo a suspensão de contratos pelo período em que não há a entrega comercial da exposição da marca, em geral por dois meses, o que provoca a prorrogação dos vínculos. Ou seja, o valor acordado será recebido mais à frente, mas a receita imediata está perdida.
Clubes e empresas, seja por acordos de confidencialidade ou para evitar a exposição do patrocinador, evitam revelar quais contratos foram suspensos. Sabe-se, porém, que o Consórcio Multimarcas "congelou" seu acordo com os mineiros Atlético e Cruzeiro, em um cenário que se repete com alguns patrocinadores de pequeno e médio porte, como a Marjosports, que possui acordo com o Corinthians, e a Autoridade de Turismo da Tailândia, que apoia as divisões de base do Santos. "Tem renegociações, mas nenhum cancelamento. A empresa deixará de pagar, mas fará depois", explica Pedro Melo, gerente de patrocínios do Atlético-MG.
O momento também passa pela busca de soluções, em negociações com os patrocinadores, com a oferta de novos ativos para a manutenção do vínculo. "Nesta hora temos de entender o momento de cada parceiro comercial, e muitas vezes, enxergar também novas oportunidades que aparecem. O momento não é fácil, mas temos que caminhar juntos e as parcerias podem se fortalecer", argumenta Anísio Ciscotto, gestor do Cruzeiro responsável pelo departamento comercial. "Algumas dicas do departamento estão sendo implementadas no negócio dos nossos patrocinadores", acrescenta.
Além disso, uma suspensão precisa ser cuidadosa, para não estremecer a relação de parceria. "Isso precisa ser feito da forma mais serena possível. Qualquer movimento brusco ou errado, pode atrapalhar a continuidade do patrocínio no futuro", comenta Wolff.
Reforçar a relação entre clube e patrocinador em um momento de crise também pode ser uma importante ferramenta para fortalecer a identificação da marca com o torcedor. "Acredito que os clubes que possuem uma relação verdadeira de parceria com suas patrocinadoras vão em conjunto chegar ao melhor formato econômico nesse momento, seja postergando os acordos, dando algum desconto e compensando posteriormente, seja criando novas entregas", diz Gustavo Herbetta, diretor de comunicação da Lmid, empresa especializada em marketing esportivo.
O especialista, que foi gerente de marketing do Corinthians, lembra que, mesmo em um momento de crise, clubes, torcedores e patrocinadores têm interesses em comum. Basta usar a criatividade para uni-los. "Todos os elementos envolvidos nessa equação querem a mesma coisa: o clube quer continuar se relacionando com os torcedores, os torcedores querem continuar consumindo algum conteúdo de seus times de coração, e as marcas querem fazer parte dessa relação, se aproximando cada vez mais desses torcedores. O que mudou foi a forma. Pelo distanciamento social isso tem que acontecer de forma virtual", defende.
O momento de crise também é visto como oportunidade de fortalecimento para alguns patrocinadores. O São Paulo renovou dois contratos, até o fim do ano, com o Banco Inter e a MRV, que fazem parte do mesmo grupo empresarial. E a partir de agora, ambos passarão a exibir suas marcas nos uniformes das equipes feminina de futebol e masculina de basquete.
"Humanizar a marca em momentos como esse gera um vínculo sentimental mais duradouro. Mostramos que temos uma preocupação com o clube. Eu não estou preocupado com o dinheiro, não sei quando volta o campeonato, o contrato venceu em abril, poderíamos apenas não renovar, mas queremos estar juntos", comenta Rodrigo Resende, diretor de marketing e novos negócios da MRV.
Além disso, durante a quarentena, a MRV assumiu a ativação de sua marca e dos clubes ao organizar um campeonato de videogame envolvendo os quatro times que patrocina - os outros são Atlético-MG, Flamengo e Fortaleza -, seus torcedores e jogadores. Depois, produziu máscaras com os escudos das equipes e as distribuiu. "Ao mesmo tempo em que fazemos uma ativação da nossa marca, essas ações passaram duas mensagens: 'Fique em casa, jogue videogame' e 'Se você tiver de sair, use máscara'", diz Rodrigo Resende, diretor de marketing e novos negócios da MRV.
Atividades lideradas pelos patrocinadores também envolveram o BMG, que promoveu Live conjunta com ídolos de Atlético-MG, Corinthians e Vasco. Já o BS2 lançou uma playlist no Spotify dedicada ao Flamengo.

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