terça-feira, 25 de abril de 2017

Como o Atlético Nacional se transformou no clube mais dominante da América do Sul



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O ano de 2016 marcou o reconhecimento que se esperava há tempos. Desde o início da década, o Atlético Nacional se colocou como um dos melhores clubes da América do Sul. Os verdolagas conquistaram cinco títulos do Campeonato Colombiano e três da Copa da Colômbia a partir de 2011, um sucesso que não viveram nem nos fartos anos 1990, e que os transformou nos maiores campeões nacionais. Faltava apenas uma taça internacional para ratificar tamanha dominância. A Copa Libertadores estava presa na garganta, depois de três eliminações, enquanto o vice da Copa Sul-Americana em 2014 também deixou um gosto amargo. Até que a glória do time de Reinaldo Rueda se tornasse inquestionável, com o seu segundo título da Libertadores em 2016, além da campanha até a final da Sul-Americana.

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A presença no Mundial de Clubes é apenas a cereja do bolo, de todo um processo de reformulação do Atlético Nacional. Uma longa caminhada que foi colhendo frutos até chegar o topo. E os méritos dos paisas abrangem diferentes aspectos. Vão desde a montagem do elenco à escolha de seus treinadores, passando também por aquilo que se faz nos bastidores, com uma gestão altamente competente.
Acusado de se beneficiar do Cartel de Medellín, o Atlético Nacional se desvencilhou desta imagem a partir dos anos 1990. A modernização do clube começa em 1996, quando foi adquirido pela Organização Ardila Lülle, de Carlos Ardila Lülle, um dos homens mais ricos da Colômbia e dono de um conglomerado que inclui a marca de refrigerantes Postobón. Neste sentido, os verdolagas deram passos a frente de seus concorrentes em termos de gestão profissional. A estabilidade financeira, entretanto, não necessariamente era garantia de títulos. E um homem fundamental nesta nova fase é Juan Carlos de la Cuesta, escolhido presidente pelo conselho executivo depois que Victor Marulanda renunciou ao cargo.

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De la Cuesta assumiu o comando sem necessariamente possuir grande experiência no futebol. Então com 36 anos, o executivo era empregado da Postobón, antes de se tornar gerente administrativo e financeiro do Atlético Nacional no início de 2010. Em março, a presidência lhe caiu no colo. E a visão trazida pelo novo mandatário foi importante para a ascensão dos verdolagas. Um dos pilares do trabalho veio com a aproximação aos torcedores e a busca por possibilidades comerciais. As receitas cresceram de US$ 8 milhões para US$ 25 milhões anuais desde então. Já esportivamente, os paisas passaram a investir mais na observação de jogadores, buscando também técnicos com perfis específicos, voltados a uma filosofia de jogo mais dinâmica.
sachi
A primeira grande aposta do presidente foi Santiago Escobar. Depois que o clube fez apenas figuração no Campeonato Colombiano em 2010, o treinador chegou para o ano seguinte. Um personagem identificadíssimo com a história e a identidade verdolaga. Irmão de Andrés Escobar, Sachi foi meio-campista do clube durante os anos 1980. Começou a carreira como técnico logo após pendurar as chuteiras e já tinha uma passagem vitoriosa pelo Atlético Nacional em 2005, conquistando o Apertura. Voltou para ser campeão mais uma vez.
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O aporte financeiro durante a segunda passagem de Escobar pelo banco de reservas era grande. Segundo o presidente De la Cuesta, aquele ano de 2011 foi o último que a Organização Ardila Lülle injetou seu próprio dinheiro no Atlético Nacional. Resultou na conquista do Apertura em 2011, valendo vaga na Copa Libertadores do ano seguinte. Entretanto, o time de Sachi caiu de rendimento. Fez campanhas medíocres no Clausura 2011 e no Apertura 2012. A ponto de causar a demissão do técnico, mesmo depois de classificar os verdolagas às oitavas de final da Libertadores, com grandes atuações na fase de grupos. A saída afetou o time, eliminado pelo Vélez. Em compensação, o erro pela turbulência desnecessária naquele momento permitiu também um acerto ao futuro.
O Atlético Nacional contratou Juan Carlos Osório para substituir Sachi Escobar. O “professor” já era sonho antigo dos verdolagas, sondado quando o ex-jogador acabou escolhido como novo treinador. Veio endossado pela diretoria. “Ele foi contratado pela experiência esportiva que tem, sua parte humana e, obviamente, a sua formação. Ele trabalhou com equipes de alto desempenho e, por isso, nos pode dar uma mão aqui. Antes de ganhar títulos, que é o importante, o objetivo é recuperar um estilo futebolístico atraente, que você goste de ver e seja eficaz”, comentou De la Cuesta, na época da apresentação do técnico, em maio de 2012.
ATLÉTICO NACIONAL VS DEPORTIVO CALI.
A verdadeira revolução do Atlético Nacional em campo começou a partir daquele momento. Osório possuía experiência nos Estados Unidos e em alguns clubes colombianos, como Once Caldas e Millonarios. Por quatro anos, atuou como assistente do Manchester City, mas distante dos períodos endinheirados. O Atanásio Girardot era uma porta que se abria ao comandante. E com as melhores condições possíveis, diante da estabilidade econômica e da estrutura oferecida. Em junho de 2010, os verdolagas inauguraram o moderno CT de Guarne, um dos melhores do país. O profe usufruía de relativa paciência para executar suas ideias.

Em pouco tempo, o Nacional se transformou em uma máquina ofensiva. Osório tinha total respaldo do clube para montar um elenco amplo, que permitisse as suas rotações. E implantava a sua filosofia de troca de passes e verticalidade. Em 2013, o primeiro ano de comemorações como o novo treinador, os paisas conquistaram tanto o Apertura quanto o Clausura. Exibiam um futebol vistoso e imparável. As fronteiras da Colômbia já se sugeriam como insuficientes para a grandeza daquele time.
Quando teve a oportunidade de se mostrar às Américas na Libertadores, todavia, o Atlético Nacional sucumbiu. Avançou em um grupo duríssimo, que tinha Grêmio, Newell’s Old Boys e Nacional de Montevidéu. Nas oitavas de final, conseguiu derrubar o atual campeão Atlético Mineiro. Mas terminou eliminado nas oitavas de final, em um duelo inacreditável contra o Defensor. Os colombianos massacraram durante boa parte dos 180 minutos. A bola custou a entrar, tanto pela competência defensiva dos oponentes quanto pela falta de sorte. Uma queda bastante dolorida, por tudo aquilo que a equipe jogava.

Não foi a eliminação, ao menos, que esmoreceu o Atlético Nacional. Seis dias depois, o time se tornou tricampeão nacional, faturando o Apertura nos pênaltis contra o Junior de Barranquilla. Não conseguiu emendar mais uma taça, no Finalización, mas ao menos chegou à decisão da Copa Sul-Americana. Eliminou o São Paulo nas semifinais, derrotado na final pelo River Plate. Após o empate por 1 a 1 em Medellín, a vitória dos Millonarios no Monumental acabou sendo fatal. Neste momento, Osório já enfrentava seus atritos. E o momento de renovar o banco de reservas chegou após mais uma queda na Libertadores. Líderes de um grupo com Estudiantes, Libertad e Barcelona, os verdolagas derraparam outra vez nas oitavas, para o Emelec.
rueda
A saída de Osório, no fim das contas, representou mais um aperfeiçoamento do Atlético Nacional. Reinaldo Rueda parecia mesmo uma contratação certeira. Tinha a experiência em seleções nacionais e uma visão que complementaria o que já estava sendo feito. Outro “professor”, estudioso e cuja rodagem só se complementou com as especializações que seguiu fazendo. O time não perdeu a ofensividade de Osório. E, mais do que isso, ele conseguiu oferecer uma consistência defensiva bem maior à equipe, assim como uma sequência maior aos jogadores. Se o sistema defensivo passou a contar com uma base mais definida, a linha de frente se adaptava ao adversário.

Em seu primeiro campeonato com Rueda, o Atlético Nacional devastou o Finalización. Liderou a temporada regular, antes de superar Deportivo Cali, Independiente Medellín e Junior de Barranquilla nos mata-matas. Embalo capaz de levá-lo a reconquistar também a Libertadores, depois de 27 anos. Que se questione a arbitragem envolvendo os verdolagas, sobretudo na classificação diante do Huracán, nas oitavas de final, não dá para negar que eles exibiram o melhor futebol do torneio continental. Fizeram a melhor campanha da fase de grupos, superaram o épico contra o Rosario Central, amassaram o São Paulo. Até o sonho se concretizar em Medellín, diante do Independiente del Valle.
Desde janeiro, o desempenho do Nacional beira a perfeição. No Apertura do Colombiano, caiu apenas nos pênaltis para o Junior. Conquistou a Copa da Colômbia e chegou até as semifinais do Finalización – quando, por conta do calendário encavalado com a viagem ao Mundial de Clubes, precisou escalar o sub-20. Avançou até a decisão da Copa Sul-Americana, para se engrandecer ao oferecer o troféu à Chapecoense. Somando as duas competições continentais, os verdolagas entraram em campo 24 vezes. Registraram 15 vitórias, 8 empates e somente uma derrota, na ida contra o Rosario Central. Marcaram 41 gols e tomaram apenas 11. Conquistaram 88,9% dos pontos em casa.
Retrospecto invejável, que endossa ainda mais a candidatura do Atlético Nacional no Mundial de Clubes. É verdade que alguns jogadores importantes se foram desde (e durante) a conquista da Libertadores. De qualquer maneira, o nível de desempenho se mantém, algo raro entre os últimos sul-americanos que disputaram a competição da Fifa. Deixam uma margem de esperança sobre aquilo que Reinaldo Rueda e seus comandados poderão realizar no Japão.
A montagem do elenco
guerra
Durante o ciclo vitorioso, o Atlético Nacional se destacou também pelos excelentes elencos que formou. Perdeu muitos jogadores durante esses anos, mas também soube se reconstruir continuamente. E o trabalho de montagem do grupo partiu de três preceitos básicos: as categorias de base, as boas observações no mercado e as apostas em jovens jogadores ascendentes na Colômbia. Poucos foram os reforços estrangeiros dos verdolagas neste período – mais precisamente, apenas dez desde 2010, sendo que o goleiro argentino Franco Armani e o meia venezuelano Alejandro Guerra foram os únicos que realmente se firmaram. Os medalhões também rarearam. As exceções são Macnelly Torres, Víctor Ibarbo e Juan Pablo Ángel, levando em conta que os dois últimos ainda optaram por voltar ao clube no qual iniciaram as carreiras.
Olhando para os jogadores que já deixaram o Atanásio Girardot, o Atlético Nacional soube muito bem analisar o mercado interno. Assim, por exemplo, chegaram jogadores como Dorlan Pabón (Envigado), Alexander Mejía (Once Caldas), Edwin Cardona (Independiente Santa Fe), Sherman Cárdenas (Junior de Barranquilla), Jefferson Duque (Leones) e Jonathan Copete (Independiente Santa Fe). Alguns deles não vingaram depois que saíram de Medellín, mas deixaram frutos aos verdolagas em campo e nos cofres.
Ao mesmo tempo, as categorias de base não perderam espaço. O Atlético Nacional conseguiu lançar vários garotos de destaque durante a bonança dos últimos anos. Subiram aos profissionais, participaram dos títulos e deram sequência na carreira em outros países. Marlos Moreno, grande revelação da Libertadores e levado pelo Manchester City, é apenas o exemplo mais recente. A lista ampla inclui também o volante Sebastián Pérez, o zagueiro Davinson Sánchez, o lateral Stefan Medina e o atacante Victor Ibarbo. Todos eles com passagem pela seleção colombiana. A venda de jogadores, inclusive, representa a maior fatia da receita do clube atualmente: desde 2010, os verdolagas já geraram cerca de € 50 milhões em negociações.

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