É que não é só a elevada percentagem de jogos empatados a surgir como sinal. Só três dos nove jogos que terminaram com um vencedor tiveram mais de um golo de diferença entre as duas equipas – e dois deles envolveram o CD Aves, que já tem a cabeça no cadafalso para descer de divisão. Como dizia Rúben Amorim, na conferência de imprensa de antecipação do jogo do Sporting frente ao FC Paços de Ferreira, “preferia ter as bancadas cheias nem que fosse de público a protestar contra a equipa e a direção”, porque até o protesto acorda os jogadores e é, por isso, melhor do que o silêncio sepulcral em que se joga. Não deve ser fácil para quem está habituado a jogar em ambientes com dezenas de milhares de espectadores ter de repente de o fazer a ver o cimento das bancadas – e a dificuldade aumenta tanto mais quanto mais público uma equipa costumava ter. Portanto, a influência da ausência do público no apoio a uma equipa não se reflete da mesma forma em todos os estádios – e a falta que faz nem se resume a isso, pois há estudos, esses sim científicos, a mostrar que até a tomada de decisão dos árbitros pode inconscientemente favorecer de forma marginal as equipas da casa se houver público a pressionar.
E, no entanto, a ver os jogos que já se realizaram, estou convencido de que este reequilíbrio de forças na Liga não tem a ver apenas com a ausência do público. Olha-se para as equipas e todas elas parecem em pré-época. Depois do jogo com o Marítimo, Sérgio Conceição lançou um desabafo: “não pensei que fosse tão difícil jogar nestas condições”. “Não é normal, por exemplo, vermos tantos erros individuais em todas as equipas”, explicou. A esses erros, há a juntar a inadequação coletiva mostrada, por exemplo, pelo SC Braga na Cidade do Futebol face ao Santa Clara ou pelo Benfica em pelo menos duas metades dos seus jogos contra o CD Tondela e o Portimonense. São fatores como esses que me levam a crer que parte da distância entre os melhores e os outros se conquista pela qualidade de trabalho em continuidade. Sei que pode parecer uma noção um pouco contraditória com a de chicotada psicológica, mas até acho que é complementar.
A marca de uma equipa técnica numa equipa pode ser feita de duas formas: ou no imediato, mais pelo impacto psicológico da mudança – que leva todos a dobrar o empenho e a atenção, quanto mais não seja para impressionar – que pela alteração de métodos em si; ou no médio e longo prazo, pela consolidação de ideias, princípios e pela solidificação de processos. Para já, creio que a interrupção dos treinos e da competição veio torpedear esta consolidação e que os melhores vão levar algum tempo a atingir o patamar de excelência que os distingue dos outros. No meu ponto de vista, é também um pouco por isso – e por não haver impacto psicológico da mudança – que se tem empatado tanto.
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