Sporting-Benfica, 0-0 (crónica)
Dérbi em Lisboa, festa no Porto
Houve dérbi em Lisboa e festa no Porto. Este Sporting-Benfica foi um caso pouco normal na grandiosa e bela história de uma rivalidade que conheceu mais um episódio e que fez do FC Porto campeão nacional. Também fez do leão segundo classificado, afinal a principal coisa que aqui estava em causa, tamanha era já a probabilidade de título no Dragão.
E foi coisa rara porque pela 16ª vez ninguém marcou golos. Alguns fatores levaram a isso. Desde logo, um com nome de gigante na baliza: Rui Patrício.
Depois, e uma coisa tem a ver com a outra, a ineficácia encarnada e, por fim, o controlo que o Sporting teve no segundo tempo, que o deixa na frente da corrida ao último lugar português de acesso à Liga dos Campeões.
A baliza de Rui Patrício
Vistos os onzes, faltava ver Pizzi na direita do meio-campo encarnado e um William mais apagado do que o habitual. Sem jogar há um mês, o jogo do leão ressentiu-se numa primeira fase e o Benfica anulou bem duas unidades de peso no rival. O tal 14 e o 8, de Bruno Fernandes.
Com isso, a águia quis dar algum conforto ao leão para depois o incomodar com velocidade. Rafa atirou ao poste aos oito minutos naquela que foi, durante largos minutos, a única ocasião do primeiro tempo.
O dérbi passou assim a ser um jogo de controlo, com um lado e outro a tentar arranjar espaços que não existiram durante algum tempo até que a meia hora mudou a tendência: o Benfica ameaçou.
Após um remate à figura de Coentrão na ressaca de um canto, a ofensiva encarnada explorou e bem o mau posicionamento dos dois médios centrais dos verdes e brancos.
Veja-se o lance em que Rafa atira de frente para a baliza. A bola está em Grimaldo e tanto Battaglia como William estão não só à frente da linha da bola, como criaram um latifúndio para o Benfica explorar. Uma tabela de um espanhol e um mexicano e teve de vir Rui Patrício a salvar o leão com uma daquelas defesas espantosas que valem milhões. O ferro estava lá para ajudá-lo depois.
Esse quarto de hora final, diga-se, foi aquilo que o dérbi é normalmente. Frenético, apaixonante, veloz. Porquê? Porque apesar de o Benfica ter descoberto caminhos para a baliza de Patrício e o golo pressentir-se mais do lado encarnado da contenda, a verdade é que o Sporting também lembrou à águia que estava ali.
Coentrão de cabeça e Bas Dost numa finta inaudita do holandês responderam ao assomo da águia que também levou Samaris à cara de Patrício. Toda a gente viu a grande defesa do guardião, embora o juiz do encontro tenha dito que o grego atirou para fora.
No final do primeiro tempo, havia a sensação de que o Benfica tinha estado mais perto do golo, desperdiçou mais do que devia e deu oportunidade a Jorge Jesus de corrigir.
O segundo tempo concordou com essa ideia. O leão entrou ainda com mais controlo, aumentou ligeiramente a percentagem da posse de bola e deixou a águia mais distante da área que ele próprio defendia.
O desgaste de Pizzi contribuiu para isso, mas Jesus também percebeu o menor fulgor de William, trocou peças no miolo e ainda tentou que Acuña explorasse o flanco de Douglas, nesta noite em bom plano. Apesar de a melhor ocasião ter estado nos pés de Raul Jimenez, a verdade é que o segundo tempo foi muito menos brilhante que o primeiro.
Na verdade, Alvalade excitou-se mais com os vários excessos de Rúben Dias – é um dérbi, é óbvio que há vários casos - do que com jogadas de golo iminente fosse em que baliza fosse.
Sem perigos a correr, mesmo que Rui Vitória ainda tenha lançado Jonas para chegar ao golo e a uma vitória num clássico em 2017/18, o público leonino sentiu-se mais feliz com essa condição de maior acalmia. O Benfica talvez tenha sido melhor em dérbi e meio na temporada, mas o 1-1 da Luz com este nulo permtiu a ultrapassagem, ainda que o leão tenha de confirmar o vice-campeonato na Madeira. E que do dérbi tenha nascido o 28º campeonato do FC Porto, o verdadeiro vencedor.
Odérbi entre Sporting e Benfica terminou empatado sem golos, no Estádio de Alvalade. Um resultado que dá vantagem aos “leões” em relação às “águias” na luta pelo segundo lugar, devido ao confronto directo, e que consagra de imediato o FC Porto como novo campeão nacional, época 2017/18. Num jogo muito disputado e com várias oportunidades de golo, em especial na primeira parte, a formação benfiquista foi a mais perigosa, mas desperdiçou o que não podia e acaba punida pela falta de eficácia.
Resumo
O Jogo explicado em Números
- O dérbi começou de estudo e muita luta no “miolo”. Mas a primeira grande oportunidade surgiu logo aos oito minutos, com Rafa a fugir em velocidade pela esquerda, após passe de Raúl Jiménez da direita, e a atirar ao poste esquerdo da baliza de Rui Patrício, só com o guardião pela frente. Mas a acção do guarda-redes foi decisiva.
- Domínio leonino no primeiro quarto-de-hora, com 56% de posse e o único canto da partida, mas as rápidas transições “encarnadas” valiam aos visitantes o único remate do encontro e a única ocasião flagrante.
- Benfica bem a tapar os caminhos para a sua baliza e a pressionar o portador da bola, para encetar as tais transições rápidas. Porém, o Sporting foi-se adaptando a esse jogo benfiquista, pelo que o seu domínio à meia-hora já se cifrava em 59% de posse. No entanto, as duas formações apenas registavam um remate cada, sem a melhor direcção.
- Aos 38 minutos, Rafa, em zona frontal, ganhou espaço à entrada da área e rematou forte para grande defesa de Rui Patrício, com a bola a embater ainda no seu poste direito. Foi o terceiro disparo das “águias” no jogo, primeiro enquadrado (2-1 para os “leões” nesta altura).
- Na resposta, Fábio Coentrão rematou de cabeça, com muito perigo, mas ao lado. Isto perto do intervalo, altura em que o Benfica já havia reequilibrado as operações, registando 46% de posse. Aliás, o final de primeira parte foi de susto para Rui Patrício, que evitou por duas vezes o golo do Benfica, primeiro a Samaris, depois a Jiménez. A terminar, Bas Dost teve uma brilhante iniciativa individual, isolou-se, mas optou pelo passe e a jogada perdeu-se.
- Intervalo Jogo intenso e emocionante em Alvalade, com alguns momentos de bom futebol e oportunidades de golo, mas o nulo a persistir. Apesar do domínio do Sporting em termos de posse de bola (ao descanso registava 51% de posse, mas chegou a ter 60%), o Benfica foi claramente a equipa mais perigosa em campo, com nove remates contra apenas quatro dos da casa, três enquadrados (um para os “leões”). As venenosas transições dos “encarnados” permitiam-lhes registar duas ocasiões flagrantes, contra nenhuma do Sporting. Excelente jogo de Douglas neste primeiro tempo, o melhor em campo nesta fase. O lateral brasileiro registou um GoalPoint Rating de 6.9, e foi praticamente um extremo (Pizzi tapou muito bem o seu flanco), registando um remate (bloqueado), três passes para finalização, um deles para ocasião flagrante, 21 passes certos de 23, mas apenas dois desarmes (falhou outros tantos). Rui Patrício, com quatro defesas e um rating de 6.2, era o segundo melhor.
- Reinício de jogo pausado, à imagem do que aconteceu no arranque do primeiro tempo. O Sporting voltou a assumir a bola, registando 55% de posse nos primeiros 15 minutos do segundo tempo. Porém, não conseguiu mais do que um só disparo, desenquadrado.
- Jorge Jesus percebeu que estava a ser difícil a sua equipa abrir a defesa benfiquistae, aos 63 minutos, tirou William Carvalho para colocar Marcos Acuña na esquerda, para tentar contrariar essa tendência de jogo. Rui Vitória respondeu com a entrada de Salvio e a saída de Pizzi.
- Por volta dos 70 minutos o “leão” continuava a dominar o segundo tempo, com 55% de posse. A formação leonina registava três remates, a “encarnada”, dois, mas nenhum enquadrado com as balizas. Nesta altura, o Sporting ganhara 22 dos 31 duelos individuais registados na etapa complementar.
- Gelson Martins desaparecia muito do jogo, mas quando pegava na bola representava sempre um problema. Perto do fim, o extremo registava já sete dribles eficazes em nove, recuperara dez vezes a bola e ganhara 12 de 17 duelos. Mas faltava influência ofensiva.
- Os últimos minutos foram confusos, com ambas as equipas a tentarem o golo de forma tímida, de novo o Benfica muito perigoso nas transições. Mas o resultado não viria a sofrer alterações, ficando para a história um Sporting com ligeiro ascendente, terminando com 51% de posse de bola, mas um Benfica perigoso, com 14 remates contra oito dos da casa (3-1 em enquadrados) e as três únicas ocasiões flagrantesdo encontro.
O Homem do Jogo
Muitos temiam que a titularidade de Douglas perante a lesão de André Almeida fosse prejudicial para o Benfica em Alvalade. Mas a verdade é que, terminado o grande dérbi, o brasileiro cotou-se como o melhor em campo. O jogador emprestado às “águias” pelo Barcelona terminou a partida com um excelente GoalPoint Rating de 7.1, tendo liderado nesta nossa avaliação de desempenho durante quase todo o jogo. Douglas fez três passes para finalização e criou uma ocasião flagrante, ganhou 11 de 25 duelos individuais, recuperou a posse em oito ocasiões e registou cinco desarmes, apenas superado pelos sete de Álex Grimaldo. Uma verdadeira surpresa.
Jogadores em foco
- Rodrigo Battaglia 6.4 – O melhor do Sporting foi Battaglia. O médio argentino esteve muito activo, em especial em tarefas defensivas, ganhando oito de 12 duelos. No final registou sete recuperações de posse e 11 acções defensivas, entre elas cinco alívios.
- Fábio Coentrão 6.3 – O lateral leonino teve pouco que fazer em termos defensivos no seu flanco, com apenas três desarmes realizados. Teve, por isso, espaço para atacar, registando dois remates, dois passes para finalização, dois dribles eficazes e dez duelos ganhos em 13.
- Álex Grimaldo 6.2 – O espanhol esteve muito certo no seu flanco. Os nove duelos ganhos em 12 e os sete desarmes realizados (o máximo da partida) obrigaram Gelson Martins a procurar terrenos mais centrais.
- Rui Patrício 6.1 – O guardião leonino foi verdadeiramente decisivo para o nulo, em especial pela primeira parte que realizou. Nessa altura fez quatro defesas, algumas espectaculares, negando o golo ao Benfica. Teve menos trabalho no segundo tempo.
- Raúl Jiménez 5.9 – Continua sem fazer os benfiquistas esquecer Jonas. O mexicano esteve muito esforçado, com quatro remates (um enquadrado) e uma ocasião flagrante criada em dois passes para finalização. Porém, pecou no capítulo da finalização, desperdiçando uma oportunidade flagrante.
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