Ronaldinho Gaúcho, 40, completa nesta segunda-feira exatos 20 dias que deixou o quartel no Grupamento Especializado de Assunção, no Paraguai, onde ficou preso de 6 de março até 7 de abril. Desde então, ele e o irmão, Roberto de Assis, 49, cumprem prisão domiciliar em um hotel de luxo na cidade. E pela primeira vez ele falou sobre tudo o que aconteceu e o que passou.
Em entrevista exclusiva ao jornal paraguaio “ABC Color” publicada nesta sexta-feira, o Bruxo, estrela de times como Barcelona e Paris Saint-Germain, disse que recebeu carinho na prisão e não vê a hora de voltar ao Brasil.
Destacou que sabe que terá impacto em sua vida o que aconteceu e confessou saudade da mãe, que sofre à distância e está confinada em casa por causa da quarentena do novo coronavírus.
Confira abaixo a entrevista feita pelo jornal paraguaio com Ronaldinho Gaúcho:
ABC Color - Muito obrigado, Ronaldo, pela atenção e a possibilidade de te fazer perguntas do campo esportivo. Você surgiu em um Mundial sub-17 [no Egito, em 1997], e imagino que te marcou porque foi seu primeiro título mundial. Você se lembra disso?
Ronaldinho -
Sim, é uma lembrança muito bonita, eu era muito jovem. Era um título que o Brasil não tinha, foi importante para o início da minha carreira. Graças a esse título, quando voltei ao Grêmio já passei para o elenco profissional.
ABC Color - Em 2002, outra vez campeão mundial, mas agora com a seleção principal. O sentimento foi maior ou menor do que aquele primeiro título?
Ronaldinho -
Todos foram especiais. Ganhar Mundiais sempre é algo muito emocionante, muito importante. Então, tive a sorte de conquistar com meus 17 anos, depois com 22, então foram duas experiências muito bonitas.
ABC Color - E dentro de toda essa experiência que viveu, para qualquer jogador sul-americano, chegar à Europa, jogar a Champions League, chegar ao Barcelona, são coisas importantes. E você conseguiu ser campeão com o Barcelona, dar um título [europeu] ao Barcelona depois de muitos anos de jejum do clube catalão. Qual foi a sensação nesse momento?
Ronaldinho -
Foi outro momento mágico, creio que joguei, não por muito tempo... Mas conquistar uma Champions League com o Barça foi algo muito especial, o clube não vinha de anos bons e voltar a conquistar algo importante foi muito especial.
ABC Color - Jogou muitas partidas contra o Paraguai, marcou muitos gols, inclusive em 2005 no próprio Paraguai. Qual a sensação tinha cada vez que jogou contra a Alvirrubra? O que esperava dos jogadores guaraní?
Ronaldinho -
Sempre encontramos muita dificuldade. Tive a oportunidade de jogar muitas vezes contra a seleção do Paraguai, desde meus 13, 14 anos, quando comecei a ser chamado para as seleções de base no Brasil. Sempre esperávamos muita dificuldade, sempre, mas fizemos grandes partidas.
ABC Color - E sobre o Paraguai, um momento que te marcou e está relacionado ao Paraguai foi o título da Copa Libertadores. Assim como ganhou a Champions League, ganhou a Copa Libertadores, o torneio mais importante da América do Sul, com o Atlético-MG. E ganhou contra uma equipe paraguaia. O que lembra dessa final? O Olimpia ganhou aqui por 2 a 0 e vocês viraram em Belo Horizonte.
Ronaldinho -
Sim, também tive a sorte de ganhar uma Libertadores, então, era um título que faltava para minha carreira. Conquistamos, foi um momento muito lindo contra uma equipe paraguaia e desde que cheguei ao Paraguai todos se lembram muito bem dessa partida. Então uma lembrança mais, muito bonita.
ABC Color - Como foi a visita de [Carlos] Gamarra, em nome dos jogadores paraguaios?
Ronaldinho -
Foi muito lindo recebê-lo aqui, nos conhecíamos já do Brasil, de jogar contra, temos amizade, foi muito legal recebê-lo aqui. Me deu muito ânimo, muita força. É uma grande pessoa.
ABC Color - Dizem que você é um homem de fé. Como isso te ajuda a passar por esta situação de privação de liberdade em nosso país?
Ronaldinho -
Eu creio que sim, tenho minha fé, sempre faço minhas orações para que as coisas saiam bem e, bom, tomara que dentro de pouco tempo isso acabe.
ABC Color - Qual foi o motivo da sua visita ao Paraguai? Você disse que veio para dois eventos.
Ronaldinho -
Sim. Tudo o que faço é com base em contratos que são administrados pelo meu irmão, que é meu representante. Neste caso, viemos para participar do lançamento de um casino online conforme se especificava no contrato e para o lançamento do livro 'Craque da Vida', que foi organizado por uma empresa no Brasil que tem os direitos de exploração do livro no Paraguai.
ABC Color - Desde que chegou, captou a atenção de todos... Foi impressionante que, apesar da situação delicada, como quando foi depor à Justiça, os funcionários e os policiais te pediam fotos para os filhos e autógrafos. Como se sentiu nesse momento?
Ronaldinho -
O calor, o carinho e o respeito de todos os paraguaios foi sentido desde o primeiro dia que cheguei no país até hoje e sou muito grato.
ABC Color - Quando descobriram que os passaportes que utilizavam eram falsos, qual foi sua reação?
Ronaldinho -
Ficamos totalmente surpresos ao saber que os documentos não eram legais. Desde então nossa intenção tem sido colaborar com a Justiça para esclarecer tudo como estamos fazendo desde o início. Desde então até hoje, explicamos tudo e fizemos tudo o que a Justiça nos pediu.
ABC Color - O que sentiu na noite de 6 de março quando te disseram que ia à prisão, depois que parecia tudo resolvido?
Ronaldinho -
Foi um golpe duro, nunca imaginei que passaria por uma situação assim. Toda a vida busquei chegar ao mais alto nível profissional e levar alegria às pessoas com meu futebol.
ABC Color - Quando terminou a audiência com o juiz Mirko Valinotti, ao dar suas explicações para a imprensa, disse que não havia restrição de liberdade para você, que podiam voltar ao Brasil. O que aconteceu?
Ronaldinho -
Nosso voo estava previsto para o sábado [7 de março], às 3 da manhã porque ia para o aniversário do meu filho. Sobre o que aconteceu depois, não sei.
ABC Color - A estadia na Agrupacão Especializada foi muito comentada. Todos esperavam ver sua destreza esportiva... Apenas se movimentava e te tiravam fotos. Todos queriam jogar futebol com você ou futevôlei. Era contraditório... Estava preso, mas todos queriam estar com você. Como se sentiu durante esse tempo?
Ronaldinho - Todas as pessoas com quem tive a oportunidade de conviver na Agrupação me receberam com carinho. Jogar futebol, dar autógrafos, sair em fotos, é parte da minha vida, não tinha nenhum motivo de deixar de fazer, ainda mais com pessoas que estavam vivendo um momento difícil igual eu.
ABC Color - O que espera daqui em diante da Justiça paraguaia?
Ronaldinho -
Esperamos que possam usar e confirmar tudo o que entregamos sobre nossa posição no caso e que possamos sair dessa situação o mais rápido possível.
ABC Color - Quais planos você tem para quando terminar tudo?
Ronaldinho -
O primeiro será dar um beijo grande na minha mãe que vive estes dias difíceis desde o início da pandemia de COVID-19 em sua casa, depois será absorver o impacto que essa situação causou e seguir adiante com fé e força.
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