autor ; Felipe Lobo
Steven Gerrard encerrou a carreira como jogador com muitas glórias e idolatria enorme do Liverpool, o clube da sua vida. Ele terminou jogando pelo Los Angeles Galacy, nos Estados Unidos, em uma passagem que passou longe de ser um sucesso. Mas a carreira tem grandes pontos positivos e entre eles está ter jogado três Copas do Mundo pela Inglaterra, sendo duas delas como capitão. Desta vez, porém, ele estará de fora. Aposentado, verá do lado de fora. Em entrevista ao Joe.co.uk, o ex-jogador falou sobre a sua carreira de treinador, a Copa do Mundo, seleção inglesa e sobre o embate entre Liverpool e Manchester City pela Champions League, que acontece no começo de abril.
“Eu tenho uma perspectiva completamente diferente do jogo”, afirmou Gerrard. “Quando eu assisto agora, não se trata apenas acontecendo na superfície. Eu foco na forma, identificando que estratégias estão no lugar por todo o campo e como cada time está tentando garantir que o seu plano dite a partida. Eu quero entender as razões para tudo que está acontecendo, substituições, posicionamento, apertar botões, e eu posso apreciar agora o nível de pensamento que vai em tudo isso”.
“Eu estou aproveitando muito. Há muitas novas experiências, lições e testes. Eu estou pensando em coisas continuamente, eu estou cometendo erros, eu estou fazendo as coisas bem, estou trabalhando nas coisas que eu posso fazer melhor. Está sendo algo de abrir os olhos e muito recompensador. Eu ume sinto muito abençoado por ter o ambiente de apoio e encorajamento que eu tenho na Academia e eu continuo crescendo na função e usando qualquer oportunidade que eu tenho para progredir o meu conhecimento”, contou Gerrard.
Seleção inglesa
Com 114 jogos pela seleção inglesa, Gerrard comentou sobre a batalha para estar entre os três goleiros que Gareth Southgate irá levar à Rússia. “Há uma grande batalha entre as quatro opções: Joe Hart, Jordan Pickford, Jack Butland e Nick Pope, para chegar aos três nomes finais”.
“É encorajador que Gareth tenha dado a oportunidades aos jogadores jovens. Ele deixou claro que ele queria selecionar jogadores em boa fase e Nick Pope certamente se encaixa nisso. Eu sei que há muitas pessoas na imprensa e em qualquer outro lugar tirando Joe Hart, mas eu não faria isso, ele ainda é talentoso e um goleiro muito especial”, analisou Gerrard.
“Eu não acho que o camisa 1 está definido ainda, então é uma batalha empolgante para os caras para tentarem dar o seu melhor e ir em frente. Para ser honesto, eu acho que Gareth tem algumas decisões duras para fazer. Nós estamos falando do maior palco que um técnico ou um jogador pode estar e não pode haver mais pressão ou responsabilidade”.
“A situação do goleiro é uma das decisões mais difíceis, mas então ele também tem que decidir a dupla de zagueiros. Ele vai com dois ou três na defesa? Eu tenho certeza que a formação será flexível e poderá mudar dependendo de quem for o adversário”, analisou.
“Há também muito futebol a ser jogado domesticamente e é importante avançar até o fim da temporada com um elenco em forma. Isso é onde Gareth ganha seu dinheiro, se você preferir, tomar essas grandes decisões. É claro, ser um técnico jovem, eu gostaria de um dia estar em uma posição que tenha que tomar essas grandes decisões, mas eu não o invejo por ter que pensar nisso agora”, brincou Gerrard.
O ex-capitão do Liverpool jogou as Copas do Mundo de 2006, 2010 e 2014 e viverá pela primeira vez um clima de Copa do Mundo como torcedor. “Eu costumava gostar de estar envolvido no burburinho, o preparo, a preparação e o esforço para tudo isso, mas, ao mesmo tempo, é bom estar fora da pressão e poder aproveitar a Copa do Mundo como torcedor”, afirmou o atual treinador do sub-18 do Liverpool.
“Eu estou impaciente com o jogo de abertura, que sempre dá um sabor do nível e o que você pode esperar do torneio. Eu estou realmente ansioso para ver como a Inglaterra vai chegar, especialmente depois de uma campanha decepcionante na última vez. Eu estou esperando que eles tenham um começo forte, eu estou muito confiante que eles irão passar por esse grupo e espero que eles possam ir o mais longe possível”, declarou.
“Como torcedor agora, eu vou saborear poder tomar uma cerveja e aproveitar toda a ação. Assim como eu amava ser um jogador, a Copa do Mundo é uma pressão sem fim, responsabilidade e foi duro em muitos aspectos, então será bom viver a experiência de maneira diferente”.
Liverpool x Manchester City na Champions League
“Esses jogos não podem chegar cedo o bastante para analisar na BT Sport [onde o ex-jogador é comentarista em jogos da Champions League]. É o tipo de jogo imperdível que você genuinamente fica entusiasmado e pode aprender muito”, afirmou Gerrard.
“São jogadores do mais alto nível que estão ansiosos para enfrentar um ao outro em um estilo muito dominante e ofensivo com dois técnicos que têm filosofias muito claras. É um encontro emocionante para os dois times e os dois irão acreditar que vão passar para as semifinais. Nós vimos alguns jogos incríveis de futebol entre eles recentemente e de um ponto de vista neutro, eu acho que é um embate 50% a 50%: o City tem mostrado sua inacreditável qualidade nesta temporada e o Liverpool provou que podem vencer qualquer time no jogo, incluindo o City”.
“Agora de um ponto de vista tendencioso, eu estou muito confiante que Jürgen Klop e o time pode entregar nas duas partidas porque eles motraram que podem fazer isso. O técnico tem um grande retrospecto na Europa, conhece Guardiola bem e o adversário até do avesso”, analisou.
Admiração por Rafa Benítez
“Eu poderia escrever um livro sobre Rafa e a compreensão que ele me deu”, afirma o ex-jogador. “Rafa me tornou um jogador de alto nível. Quando ele me conheceu, eu era um bom jogador, mas ele realmente me ajudou a avançar. Eu atingi muitas das coisas que eu consegui na minha carreira por causa dos seus conselhos sobre o meu jogo e seu apoio tático”, contou.
“Eu acho que seria muito inocente e estúpido para mim não ouvir as mensagens chave como técnico, já que ele é alguém que eu olho como um jovem técnico”, continuou Gerrard. “Eu tentei tirar um pouco de cada técnico que eu joguei e mais certamente de Rafa. Ele foi o melhor tático que eu trabalho ao longo da minha carreira”.
Futuro
“Eu cresci em muitos aspectos”, disse. “Estar no campo todos os dias aumentou a minha confiança em fazer treinos. Eu aproveitei o quanto eu pude no ano passado de tantas pessoas quanto eu pude. Estando por perto, com treinadores de qualidade em Kirkby certamente me ajudou e me encorajou”.
“Eu me sinto um homem em movimento. Eu não quero ficar parado muito tempo. Eu quero progredir, eu quero melhorar, eu quero continuar me testando”, disse. “Não há um tempo para isso, mas eu certamente quero treinar no mais alto nível. Se isso irá acontecer em um, dois, três ou quatro anos, é difícil prever, mas está definitivamente no meu pensamento. Eu estou realmente com muita fome e eu vou garantir que eu continue seguindo em frente na direção certa”.
Craque, líder e provavelmente o maior jogador da história do Liverpool. Esse é o tamanho de Steven George Gerrard no Liverpool. É o jogador que mais representa o que é jogar em Anfield Road, um dos templos do futebol, o que é representar uma torcida que canta, apoia e emociona com a sua “You’ll Never Walk Alone” entoada a cada jogo no estádio. Gerrard anunciou nesta sexta-feira que sua trajetória no Liverpool se encerra ao final da temporada. Ele não irá se aposentar, mas irá jogar em algum lugar que não tenha que ter o Liverpool como adversário. Algo que era difícil imaginar no começo da temporada, quando o time vinha de quase ganhar o título inglês tendo Gerrard como um dos seus pilares. Mas algo mudou e que levou o capitão a escolher não ficar.
“Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida e que tanto eu quanto minha família têm agonizando há um bom tempo”, disse o camisa 8. “Eu estou fazendo o anúncio agora para que o técnico e o time não sejam distraídos por histórias ou especulações sobre o meu futuro”, afirmou o capitão. “O Liverpool Football Club tem sido uma parte tão grande de todas nossas vidas por tanto tempo e dizer adeus é difícil, mas eu sinto que é algo que é do melhor interesse de todos os envolvidos, incluindo minha família e o clube”, explicou Gerrard. Sim, até no anúncio, ele pensa no clube.
As especulações giram em torno de uma transferência para a MLS, que há tempos se interessa pelo capitão do Liverpool. “Eu continuarei jogando e embora eu não possa confirmar neste momento onde será, eu posso dizer que será em algum lugar que signifique que eu não estarei jogando em um clube que compita e não jogará contra o Liverpool, algo que eu nunca poderia contemplar”, revelou o jogador.
“Minha decisão é completamente baseada no meu desejo de experimentar algo diferente na minha carreira e vida e eu quero também garantir que eu não tenha arrependimentos quando a minha carreira acabar”, declarou o jogador, que isentou Brendan Rodgers, elogiando-o, assim como toda diretoria do Liverpool. “Eu não posso agradecer o bastante Brendan, os proprietários e todos no clube por como eles lidaram com isso e estou saindo em ótimos termos. Além disso, eu agradeço meus companheiros e toda comissão técnica pela ajuda e apoio contínuo”, agradeceu Gerrard.
“É um lugar especial de se fazer parte. É minha sincera esperança e desejo que um dia eu possa retornar e servir ao Liverpool novamente, em qualquer capacidade que melhor ajude o clube”.
“Um ponto que é importante ressaltar é que de agora até o último chute do último jogo da temporada, eu estarei completamente comprometido com o time como eu sempre estive e dando o meu melhor para ajudar o Liverpool a vencer jogos”.
“Minha mensagem final às pessoas que fazem o Liverpool Football Club o maior do mundo, os torcedores. Foi um privilegio representar vocês, como jogador e como capitão. Eu tenho curtido cada segundo dele e é meu sincero desejo terminar esta temporada e minha carreira em alta”.
Para alguém que tem a Champions League de 2004/05 no currículo como protagonista, além dos títulos da Copa da Inglaterra em 2000/01, 2005/06, Copa da Liga em 2000/01, 2002/03 e 2011/12 e a Copa da Uefa em 2000/01, nem era preciso agradecer. Faltou uma Premier League na lista de títulos, algo que ele e a torcida queriam muito, mas não aconteceu. Mesmo assim, ele é um exemplo de profissional, um jogador que liderou o time, dentro de fora de campo, e se tornou um exemplo vivo, um legítimo representante da torcida. Aos oito anos, viu seu primo morrer na tragédia de Hillsborough. Alguém que tem o nome confundido com o clube, tamanha a identificação.
A temporada difícil e o tempo no banco
Ficar no banco pode não ser um problema para Gerrard em alguns jogos. Aos 34 anos, a ideia era poupá-lo de uma temporada desgastante, com o Liverpool de volta à Champions League. Só que o que se viu, desde o começo da temporada, é algo além disso. Brendan Rodgers passou a ser pressionado para sacar o capitão do time. Alguns torcedores passaram a questionar a titularidade do capitão. A ideia de se aposentar da seleção inglesa após a Copa do Mundo para estender a sua vida no Liverpool acabou não sendo suficiente.
Gerrard não é o responsável pelo time do Liverpool não funcionar tão bem nesta temporada quanto na passada. Foi Gerrard que escorregou na temporada passada no jogo crucial contra o Chelsea, que praticamente jogou fora o título inglês. É verdade. Mas ele foi o líder de assistências na temporada inglesa. Foi fundamental para o time chegar onde chegou. Só perdeu em importância para Luis Suárez, o craque do time.
Mesmo assim, a sua saída do time foi especulada várias vezes. Depois do empate contra o Leicester City, na quinta-feira de ano novo, alguns torcedores pediram a saída do capitão do time. Com Gerrard no banco, na segunda, o time tinha vencido o Swansea por 4 a 1. Talvez tenha sido demais para o capitão.
Depois de 17 anos no clube, aos 34 anos de idade, sendo tão importante para o time na temporada passada e com capacidade de ainda ajudar muito, Gerrard talvez tenha sentido que será triste demais, para ele e para o clube, se essa situação continuar e se agravar. Sentir-se menos importante, menos útil e ver a sua presença no time contestada como ele passou a ser talvez seja demais. É quase como se ele e o Liverpool estivessem olhando um para o outro e pensando que é melhor se separar antes que comecem a se magoar mutuamente.
Talvez seja um problema que Brendan Rodgers não soube lidar tão bem, mas não dá para dizer que ele tenha maltratado Gerrard. Colocou o jogador em uma função mais ofensiva em determinado momento da campanha na Champions League, por exemplo, quando as coisas não iam bem. Talvez não houvesse o que fazer. Gerrard ainda tem desempenho acima da média em alguns jogos, mas abaixo da média em outros. Da sua média, que é muito alta. E isso torna a cobrança muito grande para alguém que é um ídolo, uma bandeira.
Gerrard será para sempre uma lenda de Anfield. Terá enormes faixas em seu nome no estádio, não importa quanto tempo passe. Completará 35 anos em maio e certamente tem físico e especialmente futebol para continuar no futebol. Talvez continuar no Liverpool seja difícil demais para ele. Ir para os Estados Unidos, jogar a MLS, talvez seja uma forma de continuar jogando sem concorrer com o Liverpool, e onde poderá construir outra história. Mais curta e certamente menos marcante que aquela que tem com os Reds. Mas nos dará a chance de continuar vendo um dos jogadores mais marcantes da sua geração. Um meio-campista completo, capaz de ser um meia ofensivo ou um volante à frente da zaga. Um ídolo que certamente receberá tantas homenagens quantas forem possíveis daqui até o fim da temporada, em maio. Merecidamente.
Alguns podem lembrar que Ryan Giggs jogou até os 41 anos e Frank Lampard tem causado um impacto extremamente positivo no Manchester City aos 35 anos. Por que não Gerrard continuar? Gerrard é diferente desses dois. Giggs, no Manchester United, e Lampard, agora no Manchester City, tornaram-se coadjuvantes silenciosos. Entram, fazem o seu papel e continuam sendo admirados. Gerrard é diferente. É um líder. Um jogador que sempre se caracterizou por ser completo, defender e atacar com vitalidade, pelos chutes fortes de fora da área, as comemorações enlouquecidas balançando os braços, os carrinhos cheios de vontade no meio-campo, as corridas até a área para finalizar.
Gerrard não é um jogador para ser coadjuvante de luxo. Não parece ter o perfil de um grande coadjuvante. Foi protagonista na temporada passada e não ser um herói, capaz de jogadas fantásticas e liderar o time rumo ao título, parece não caber no jogador que é Gerrard. Se Lampard e Giggs se consagram como jogadores de classe no seus finais de carreira, Gerrard é o jogador da técnica, sim, mas também da força, da vitalidade, do empanho, dos gritos, da vibração. E se for para não ser isso, melhor abrir espaço para quem vier. Jordan Henderson, atualmente o vice-capitão, deve assumir a braçadeira de Gerrard na próxima temporada. É elogiado como um jogador que tem perfil de liderança e pode exercer o papel também na seleção inglesa, não apenas em Anfield. Gerrard estará observando e, certamente, dará palavras de incentivo ao jogador. E seguirá na memória, na história, nas paredes de Anfield. Porque lendas são eternas.
autor Felipe Lobo
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