Aos poucos surgem mais informações que indicam falha humana no planejamento do voo que levava o time da Chapecoense a Medellín, na Colômbia. A viagem no limite da capacidade da aeronave LMI-2933, realizada pelo piloto Miguel Quiroga, classificada como "irresponsável" pelo especialista em segurança de voo Carlos Camacho, repetiu-se em outras quatro oportunidades nos últimos seis meses. Foram voos que superaram o tempo de autonomia do avião. A pequena margem de erro que Quiroga se dava encontrou um imprevisto na noite de segunda-feira, em Medellín, e resultou na morte de 71 pessoas, incluindo ele.
A LMI 2933, modelo britânico Avro RJ 85, tem autonomia para 4h22 de voo, ou 2.985 quilômetros. Além disso, de acordo com códigos internacionais de segurança, os pilotos ainda devem ter no mínimo 30 minutos de combustível além do necessário para realizar uma viagem. São esses limites e cuidados que foram ignorados pelo piloto, conforme demonstram relatórios preliminares da investigação sobre o acidente em Medellín e também o histórico dos últimos 83 voos da aeronave da empresa boliviana, disponibilizado pelo FlightRadar24, site especializado em tráfego aéreo.
A própria viagem entre as cidades de Santa Cruz de La Sierra e Medellín já chega no limite da autonomia da aeronave, com 3 mil km de distância. Entre agosto e novembro deste ano, Quiroga já tinha feito esse trajeto, mas da cidade colombiana para a boliviana, em três oportunidades (veja abaixo). Em todas, o tempo de duração foi igual ou superior ao que a Lamia informa em seus planos de voo como limite de autonomia do avião: 4 horas e 22 minutos. Com experiência como piloto de aviação comercial e especialista em segurança de voo, Carlos Camacho não poupa críticas ao histórico de voos da LaMia:
– É inacreditável esse histórico de voos com mais de quatro horas de duração com esse tipo de aeronave. Isso mostra que o piloto foi irresponsável e viajou com a faca na boca. Camacho ainda explica que o número elevado de passageiros no voo para Medellín não pode ser considerado como um fator grave no consumo de combustível a ponto de justificar a queda.
No caminho para a final da Copa Sul-Americana, os jogadores do time catarinense também tiveram que ir à Colômbia, dessa vez à cidade de Barranquilla, para enfrentar o time local. Era a primeira partida das quartas de final e a delegação da Chape contratou os serviços da LaMia nos voos de ida e de volta. As viagens realizadas em outubro duraram quase quatro horas, um tempo prudente, considerando que os voos deveriam ter uma folga de 30 minutos de combustível. O mesmo ocorreu com voos da seleção do craque Lionel Messi em novembro. Quiroga levou o time da Argentina nos voos de ida e de volta entre Buenos Aires e Belo Horizonte, quando os hermanos enfrentaram o Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Na viagem de volta, a mesma aeronave do acidente demorou 4h04 para percorrer 2.217 km.
Histórico da aeronave
LMI-2933:
1- Três voos entre Medellín e Santa Cruz de La Sierra: Em agosto, outubro e novembro, aeronava da Lamia percorreu o trajeto inverso ao da última terça-feira. Nas duas oportunidades, ultrapassou 4h20 no ar. Clique nos links para saber mais sobre cada voo no site FlightRadar24.
- 04/11/16: Medellín (COL) - Santa Cruz de La Sierra (BOL). Duração: 4h33
- 29/10/16: Medellín (COL) - Santa Cruz de La Sierra (BOL). Duração: 4h32
- 22/08/16: Medellín (COL) - Santa Cruz de La Sierra (BOL). Duração: 4h28
- 29/10/16: Medellín (COL) - Santa Cruz de La Sierra (BOL). Duração: 4h32
- 22/08/16: Medellín (COL) - Santa Cruz de La Sierra (BOL). Duração: 4h28
2 - Voo da Chapecoense na Sul-Americana: Para enfrentar o Junior Barranquilla, da Colômbia, o time da Chapecoense utilizou os serviços da Lambia em dois voos, um com escala em Cobija, na Bolívia.
- 18/10/16: Cobija (BOL) - Barranquilla (COL). Duração: 3h56
- 20/10/16: Barranquilla (COL) - Cobija (BOL). Duração: 3h50
- 20/10/16: Cobija (BOL) - Foz do Iguaçu (BRA). Duração: 3h133
3 - Seleção da Argentina: A seleção da Argentina fretou o avião da empresa boliviana em novembro para enfrentar a seleção brasileiro em Belo Horizonte, pelas Eliminatórias da Copa. O voo de volta também ultrapassou 4 horas de duração.
- 06/11/16: Buenos Aires (ARG) - Belo Horizonte (BRA). Duração: 3h29
- 11/11/16: Belo Horizonte (BRA) - Buenos Aires (ARG). Duração: 4h04
- 20/10/16: Barranquilla (COL) - Cobija (BOL). Duração: 3h50
- 20/10/16: Cobija (BOL) - Foz do Iguaçu (BRA). Duração: 3h133
3 - Seleção da Argentina: A seleção da Argentina fretou o avião da empresa boliviana em novembro para enfrentar a seleção brasileiro em Belo Horizonte, pelas Eliminatórias da Copa. O voo de volta também ultrapassou 4 horas de duração.
- 06/11/16: Buenos Aires (ARG) - Belo Horizonte (BRA). Duração: 3h29
- 11/11/16: Belo Horizonte (BRA) - Buenos Aires (ARG). Duração: 4h04
4 - Empresa conhecia Aeroporto Internacional de Medellín: Nos últimos seis meses, a aeronave LMI-2933 realizou três aterrissagens no aeroporto que deveria pousar na noite de segunda-feira. Um deles chegou a 4h27 de duração.
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