terça-feira, 8 de novembro de 2016

Baltazar, o artilheiro de Deus, do Atlético e do Goiás

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Relembre a história do religioso centroavante, que iniciou carreira no Dragão e também marcou época no Verdão.

Os clássicos são marcados pelos grandes personagens. Na história do dérbi Goiás e Atlético não é diferente. Muitos atletas fizeram história nesse confronto, alguns, inclusive, defendo a camisa dos dois clubes. É o caso de Baltazar, o artilheiro de Deus.
Baltazar Moreira de Morais Júnior. Esse é o nome de um atacante que marcou época no futebol goiano defendendo as cores rubro-negra e alviverde. Natural de Goiânia, Baltazar iniciou a carreira nas categorias de base do Dragão. Com 15 anos já realizava alguns treinos com a equipe profissional e, três anos depois, já brilhava como titular do Atlético, sendo artilheiro do Goianão de 78, com um recorde que perdura até os dias atuais. Hoje com 57 anos, o jogador se lembra da felicidade que viveu em seu primeiro clube.
“Foi um orgulho muito grande vestir a camisa do Atlético. A partir dos 15 anos de idade, já estava atuando algumas vezes no profissional, mas só me profissionalizei mesmo no ano de 1978, com 18 anos. Foi muita alegria, foi o clube que propiciou a oportunidade para me tornar profissional e chegar à Seleção Brasileira de Juniores pelo Atlético”, afirma.
O fato curioso é que, se não fosse um certo treinador, Baltazar jamais teria sido artilheiro. Antes zagueiro, o jogador só virou atacante por conta de seu Ataídes, então técnico rubro-negro, e considerado por Baltazar como um dos principais incentivadores de sua carreira.
“Posso mencionar o seu Ataídes, porque ele foi um grande treinador. Houveram outros treinadores, mas ele foi o mais influente. Ele foi da base à formação. Teve a visão de me tirar de zagueiro e colocar de centroavante. Eu devo bastante à ele. Ele conhecia bastante e tinha uma visão muito grande”, elogia.
HISTÓRIA NO DRAGÃO
Logo em seu primeiro jogo como profissional, o prodígio Baltazar marcou três dos quatro gols anotados pelo Atlético. Como se fosse ontem, o artilheiro lembra do seu primeiro passo rumo à glória.
“Eu me lembro muito bem. Foi um jogo contra o Inhumas, o qual vencemos por 4 a 0 no estádio Olímpico. Eu pude marcar três gols. Parecia que eu estava nas nuvens. Foi algo deslumbrante para mim, muito emocionante, sempre vou me recordar disso. A cada ano que ia passando, fui tendo mais oportunidades nos profissionais e assim, pouco a pouco, me tornei profissional em 1978”, rememora.
Logo em seu primeiro ano no profissional, a estrela do predestinado Baltazar brilhou. Em 1978, ele conseguira um feito inédito: a artilharia do Goianão com 31 gols marcados. O número é, até hoje, o mais alto na história do estadual.
“É uma marca que me deixa muito feliz. Sempre tenho boas recordações, tantos gols. Foi um campeonato bastante longo. Hoje é difícil bater esse recorde devido ao número de jogos, mais reduzidos. As equipes também têm mais dificuldade de marcar gols. Para mim foi um marco muito grande fazer 31 gols no Campeonato Goiano, algo maravilhoso para mim”, afirma.
Dentre as vítimas de Baltazar estava o Goiás Esporte Clube, que viria a ser a equipe do artilheiro de Deus anos depois. Saudoso, o ex-jogador se remete aos momentos de glória do futebol de Goiás e relata os grandes públicos e emoções dos clássicos de sua época.
“Eu me lembro de ter jogado contra o Goiás. Não me lembro tão bem. Do outro lado, acabei jogando pelo Goiás contra o Atlético também. Os jogos eram sempre muito disputados. O público era bastante dividido. Torcida dos dois lados, bem expressiva. Eram momentos muito importantes. Me lembro, com muita satisfação, de poder disputar o clássico”, assevera.
O ARTILHEIRO DE DEUS E DE GOIÁS
Após a grande temporada no Atlético, Baltazar despertou o interesse de grandes clubes do futebol nacional e foi vendido para o Grêmio: “Naquela época, as dificuldades dos clubes em contratar era maior. Os contratos te prendiam mais às equipes. Para mim foi bom, porque acabei me transferindo para o Grêmio, o Atlético teve uma participação financeira muito boa e eu fico muito feliz com isso também”, conta o ex-atacante.
Foi no Tricolor Gaúcho que Baltazar recebeu a alcunha de artilheiro de Deus. De 1979 a 1982 defendendo a camisa do Imortal, o então atacante perdeu um pênalti  no primeiro jogo da decisão do Brasileiro de 81 e, mesmo assim, os gaúchos venceram. Após o jogo, Baltazar declarou: “Deus está reservando algo melhor para mim”. Por conta dessa afirmação e da devoção religiosa, o ex-atleta ganhou o apelido que o consagrou.
Depois de passar pelo Grêmio e rodar o mundo da bola, Baltazar chegou ao Goiás, grande rival do clube que o revelou. Mesmo com a idade avançada levando em conta os padrões da época, o artilheiro de Deus fez história no Esmeraldino e é, até hoje, considerado um ídolo do clube alviverde.
“Depois de ter rodado bastante o Brasil, ter jogado na Seleção, sete anos na Europa, retornei ao Goiás. Para minha surpresa, foram momentos de muitíssima alegria. Um ambiente que pude desfrutar, muito saudável, de amizade com os jogadores, com a diretoria, treinadores. Eu já com mais experiência, 33 anos de idade, pude desfrutar de bons momentos, de ter alegria para jogar, satisfação de ter alvos, metas. E conseguimos novamente subir o Goiás para a primeira divisão, ser novamente artilheiro do Campeonato Goiano, isso mostra que eu estava motivado também”, lembra Baltazar.
Jogar em um rival nunca é fácil. O artilheiro de Deus, entretanto, afirma que, apesar da identificação com o rival de Campinas, encarou o clássico com profissionalismo.
“É um pouco difícil. A gente tem um carinho muito grande pelo Atlético, mas, como um atleta profissional, eu precisei me empenhar o máximo, me concentrar e creio que fui bem. Consegui marcar gol contra o Atlético. Acho que sempre tive uma cabeça, sendo um profissional, de que, se eu estiver defendendo uma equipe, tenho que defendê-la bem”, diz.
Com a idolatria de duas das maiores torcidas do Centro-Oeste brasileiro, o ex-atleta demonstra felicidade. Contudo, quando questionado sobre qual time é mais especial em sua vida, Baltazar se esquiva.
“Vai ser uma resposta muito difícil. Um foi o início da minha carreira, que me projetou, me deu todo o suporte, a infraestrutura, a condição para que eu pudesse nascer para o futebol. O outro me acolheu no final da minha carreira, me recebeu também e lá tive o melhor ambiente da minha carreira esportiva. São dois momentos diferentes, mas dos dois tenho as melhores recordações e sou grato às duas equipes, que realmente estão no meu coração. Eu estou em cima do muro, pois sou muito grato às duas equipes, porque elas tiveram uma participação fundamental na minha carreira”, pondera.
ANÁLISES
Quando questionado sobre o favoritismo para o clássico deste sábado, 06, Baltazar saiu do muro e apontou um candidato ao triunfo.
“Eu creio que o Atlético tem o favoritismo devido a estar tão bem no campeonato, com 99% de possibilidade de estar na primeira divisão. O Goiás também não tem mais perigo de cair para a Série C. É um jogo mais tranquilo para o Goiás e onde o Atlético, com a vitória, pode estar na primeira divisão e praticamente ser o campeão da segunda divisão”, avalia.
Apontado por Baltazar como o favorito a vencer o clássico, o Atlético é líder da Série B com 61 pontos e, além de estar próximo de conquistar o acesso, pode ser campeão nacional. Para isso, o Rubro-negro precisa superar o Vasco, gigante da competição nesta temporada. Apesar da concorrência, o artilheiro de Deus crê que a taça vai para o Urias Magalhães.
“Não é fácil. A vantagem de três pontos é considerável restando tão poucos jogos. Creio que o Atlético tem a maior possibilidade de conquistar o título, apesar do Vasco ser uma equipe grande. Mas essa vantagem que o Atlético construiu é muito grande em um número de jogos tão pequeno que temos pelo frente”, analisa.
Diferentemente do rival rubro-negro, o Goiás vive um momento difícil. Antes favorito ao acesso, o Alviverde teve uma temporada aquém das expectativas e esteve mais próximo da degola que do G-4. Baltazar prevê o fim da derrocada esmeraldina neste ano e projeta o retorno à elite em breve.
“Tem que se fazer um preparo muito grande,tem que ter um acerto nas contratações, tanto de treinador como de jogadores. Os valores que se manejam no futebol goiano, quando é na segunda divisão, são bem inferiores aos da primeira. Isso dificulta muito. As equipes ficam muito niveladas. Porém, o Goiás é um dos que tem melhor estrutura no futebol brasileiro e eu creio que tem todas as condições para poder voltar à Série A no próximo ano”, completa.
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