Em entrevista à SIC, no "Jornal da Noite" desta quarta-feira, o presidente do Sporting falou sobre os danos causados pela covid-19 na indústria do futebol e sobre o seu regresso ao ativo enquanto médico, que diz até ter ajudado o Governo a tomar uma decisão relativamente ao retomar da I Liga
Voltar a ser médico
"Uma pessoa nunca deixa de ser médico. Foi arregaçar as mangas e voltar. O facto de ser presidente do Sporting tornava as coisas, a nível da vida hospitalar, um pouco mais animadas. É engraçado que mesmo só pelos olhos havia doentes que me reconheciam: "Você não é o doutor Varandas? Temos de tirar uma selfie, nem que seja à distância". [risos]
No primeiro serviço de urgência, havia lá uma sala com um quadro do Benfica, então a minha primeira medida foi fazer desaparecer o quadro [risos]."
O regresso do futebol
"Se o futebol profissional não pode arrancar, então que empresa em Portugal pode arrancar? Não há nenhuma empresa em que os trabalhadores tenham tão pouco fator de risco e tão boas condições para desempenhar as suas funções. Nem os técnicos de saúde, médicos e enfermeiros, fazem os testes que os jogadores estão a fazer.
O vírus existe e vamos ter de viver com ele. O que não pode acontecer é uma pessoa precisar de uma cama nos cuidados intensivos e não ter e poder morrer. E isto o governo conseguiu com 100% de sucesso.
Vamos continuar a ter as pessoas fechadas? Ter Portugal parado? Não, temos de começar de uma forma progressiva a adquirir essa imunidade."
O comité médico da FIFA recomendou o regresso só em setembro
"O comité médico da FIFA é desatualizado, irresponsável e pobre cientificamente. Entendo que um político possa dizer que o futebol só pode reabrir em setembro. Agora um médico? Porquê setembro?"
Os danos na indústria do futebol
"A crise do covid afetou muito a indústria do futebol europeu. Portugal é se calhar o país mais afetado. O grande problema vai ser o mercado de transferências, onde temos aí 50% das receitas. Vai demorar uns bons anos para os clubes voltarem a ter a capacidade financeira que tinham antes do covid, muito devido ao mercado de transferências.
E nem falo das limitações que o governo já nos disse: para o ano se calhar só vendemos 1/4 da capacidade dos estádios, 1/4 da receita de bilhética, de sponsors... vai ser um problema gravíssimo."
Os presidentes dos três grandes unidos
"Aqui é mais sobrevivência. Se não defendermos a indústria do futebol numa altura destas então não vamos estar cá muito tempo. Houve uma coincidência muito feliz para o futebol português de um dos presidente ser médico e ter estado no terreno, penso que isso deu confiança ao Governo. Ajuda quando há um presidente que é médico e esteve no combate ao covid e tem uma uma visão mais científica e técnica do que os meus colegas Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa."
A aposta na formação
"Mais do que nunca, o Sporting vai ter de viver da formação. Em boa hora investimos na formação, há dois anos. Temos um projeto de crescimento centrado no jogador. Hoje já tivemos, no campo principal, seis miúdos entre os 17 e 18 anos a treinar, e vão fazer parte da equipa principal."
O pagamento da cláusula de Rúben Amorim
"Foi uma novela. Eu recebi um email do banco a perguntar se queria atrasar o pagamento do empréstimo da casa e o Governo fez igual com os impostos. O único problema foi o Sporting não fazer um pagamento na data X. Não vou alimentar mais essa novela. O Sporting é um clube de bem e cumpre e vai pagar. Como o Braga, o Sporting tem cinco ou seis clubes que também não conseguem pagar agora. O Sporting sabe o que os clubes estão a sentir e não vai para a praça pública expor esses clubes."
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