Sérgio Pires
Benfica venceu nono jogo pela diferença mínima e vê o tetra ao fundo da Luz
De novo o Rio Ave como um dos mais difíceis obstáculos na corrida para a conquista do título, de novo Raúl Jiménez (apenas quinto jogo na Liga a titular) no papel de herói improvável. Tal como na época passada, o Benfica foi a Vila do Conde e ultrapassou um jogo de dificuldade máxima ao vencer por 1-0.
Duas pequenas diferenças sublinham a coincidência: desta vez o jogo foi na jornada 32 (e não na 31, como em 2015/16) e o ponta-de-lança mexicano marcou aos 75’ (e não aos 73’, como na época passada).
Foi uma jornada decisiva e a conclusão é óbvia: o Benfica aumenta para cinco pontos a vantagem sobre o FC Porto, quando faltam disputar apenas seis, e vê o tetra inédito na sua história ao fundo da Luz, onde na próxima jornada poderá fazer a festa.
A jornada decisiva é, no fundo, um bom resumo do campeonato: em jogos de grande equilíbrio, o FC Porto empata, enquanto o Benfica consegue vitórias curtas.
A equipa de Rui Vitória venceu nove jogos por um golo de diferença, sendo que cinco das seis vitórias conseguidas fora de casa nos últimos onze jogos foram pela margem mínima.
O último triunfo folgado fora aconteceu há uma volta completa, há quatro meses, a 7 de janeiro, em Guimarães (0-2). Daí em diante, com o Benfica na condição de forasteiro, aconteceu uma derrota (V. Setúbal), dois empates (Sporting e Paços) e quatro triunfos por 0-1: Sp. Braga, Feirense, Moreirense e agora Rio Ave – que vem na sequência uma vitória caseira por um golo, 2-1 ao Estoril.
Nuno: o mais empatador da era Pinto da Costa
Porém, se o Benfica vence por poucos, o FC Porto empata e desta vez cumpriu uma amarga tradição dos últimos anos.
Os dragões voltaram a não vencer no Estádio dos Barreiros. O último triunfo diante do Marítimo aconteceu em abril de 2012. A maldição madeirense averbou o quinto empate nas últimas sete jornadas: dez pontos desperdiçados em 21 possíveis na fase decisiva da prova hipotecaram o título.
Se é verdade que o FC Porto perdeu apenas uma vez, já na distante 3.ª jornada (frente ao Sporting, 2-1), também o é que a equipa de Nuno Espírito Santo leva 10 empates na Liga – ou seja, empatou praticamente um terço das jornadas.
Pior registo de empates portistas aconteceu só por uma vez neste século, quando em 2004/05, na ressaca da conquista da Liga dos Campeões, a equipa orientada por Fernández (que sucedeu a Del Neri) e Couceiro empatou onze vezes.
Considerando toda a era Pinto da Costa, só por outra vez o FC Porto empatou mais vezes no campeonato: em 1988/89 foram 14 empates, com Artur Jorge a suceder a Quinito. De referir ainda que, em 1993/94, numa temporada que começou com Tomislav Ivic e terminou com Bobby Robson, o número de empates foi também de dez.
Ou seja, Nuno é o único treinador portista da era Pinto da Costa a ser responsável por dez empates num campeonato. Em todos os outros casos, o FC Porto mudou de treinador a meio.
Considerando o registo dos rivais, o Sporting de Marco Silva também teve 10 empates em 2014/15, enquanto o Benfica chegou aos 13 em 2007/08 (com Fernando Santos, Camacho e Chalana a passarem pelo comando técnico).
Jesus: na iminência da pior classificação num grande
Se o Benfica vence à tangente e o FC Porto empata, o Sporting… perde. E perde com estrondo, em casa, num dérbi matinal diante de quase 46 mil adeptos, perante um adversário que jamais havia vencido tanto no novo como no antigo Estádio de Alvalade.
O último triunfo do Belenenses em casa do Sporting aconteceu em janeiro de 1955, há 62 anos (ainda no estádio do Lumiar, um ano antes da construção do antigo Alvalade), com um bis de Matateu (1-2).
Falando em história (mais recente), o último não grande a marcar três golos em Alvalade foi o Marítimo (2-3), em 2011, também com reviravolta.
Com a derrota diante do Belenenses, o Sporting deixou matematicamente de poder chegar ao título e praticamente ficou arredado do segundo lugar.
Para almejarem ao «vice» (que vale entrada direta na Liga dos Campeões da próxima época), os leões teriam de vencer as duas jornadas que faltam, esperar que o FC Porto perdesse os seus dois jogos e recuperar de uma diferença de 21 golos para os dragões.
É uma missão praticamente impossível. Portanto, Jorge Jesus está na iminência de formalizar um registo negativo na sua carreira: nunca foi terceiro classificado no comando técnico de um grande.
Nas sete épocas anteriores, Jesus foi sempre campeão (três vezes) ou «vice» (quatro). A última vez que tal não aconteceu foi em 2008/09, quando levou o Sp. Braga ao 5.º lugar.
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