sexta-feira, 28 de abril de 2017

Mais união entre diretores, elenco e força da base: o que Marco Antônio vê do Náutico



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Líder do vestiário, camisa 10 analisou o mau momento do clube em todos os setores; Política e salários atrasados foram alguns dos assuntos comentados

Marco Antônio voltou ao Náutico para ser a peça que faltava no meio de campo em 2016. Um atleta experiente, que pudesse comandar o meio de campo e, o principal, tivesse identificação com a torcida. Característica única no elenco timbu. Caiu como uma luva e a engrenagem alvirrubra, que parecia estar pronta para quebrar voltou a funcionar. O problema é que, na reta final, faltou óleo. Tropeços inexplicáveis. O problema é que o que ocorreu no dia 26 de novembro de 2016, na derrota para o Oeste, na Arena de Pernambuco, reflete diretamente em 2017 com a perda da vaga na Série A. Essa é a visão do capitão, líder e camisa 10 do Náutico.

Porta voz dos atletas junto à diretoria, Marco Antônio falou um pouco de tudo o que pensa sobre o Náutico em entrevista exclusiva ao Superesportes um dia antes de tomar a frente na paralisação dos jogadores. Seu discurso parecia um prenúncio. Falou sobre os erros do início de temporada, criticou a falta de unidade dentro do clube, revelou que tem sido o bombeiro nessa crise de salários atrasados e ainda encontrou algo positivo em todo esse turbilhão: a união do grupo.

Para fechar, o meia falou sobre o que pensa para o seu futuro e elogiou os atletas que o Náutico vem produzindo. Apesar de serem lançados por urgência e falta de rendimento de quem foi contratado para ser titular, Marco Antônio enxerga futuro em todos eles. Só espera que recebam o apoio necessário para evoluírem e renderem, em desempenho e financeiramente, o que o clube espera.

O começo de ano foi marcado por uma renovação e criou uma expectativa enorme. Se falava em título estadual, avançar na Copa do Nordeste e, no fim das contas várias, vieram frustrações. Quais foram os erros que levaram a isso?

Com toda sinceridade, foi todo esse planejamento feito para a temporada. É difícil um time que bate na trave e ficar por uma rodada fora da Série A. Quando aqui cheguei, o Givanildo tinha chegado um dia antes, o time estava em 12º lugar e vinha de uma derrota. Praticamente, já tinham jogado a toalha e Givanildo chegou, ajeitou a situação da forma que ele achava e tivemos um fim de ano excepcional. Porém, tivemos a frustração do jogo do Oeste e a temporada foi por água abaixo. O Givanildo não teve a temporada toda, mas o trabalho de 15 jogos se resumiu a 38 do campeonato. Quando muda tudo é difícil. Sentaram com o Dado, fizeram um planejamento para a temporada e depois de um mês ele saiu. Acho difícil o time encaixar em tão pouco tempo e com uma filosofia nova de trabalho. A minha visão, estando aqui dentro, mesmo com todos os outros problemas do clube, foi essa mudança geral.

Depois da chegada do Milton houve uma mudança e evolução do time. O que isso pode influenciar na Série B?

A grande mudança foi nossa postura tática. O Milton optou por mudar, nos ouvir para saber onde preferíamos atuar e como poderíamos render mais. Acho que basicamente foi esse encaixe tático e de postura colocando os jogadores onde eles se sentem melhor.

O que dá para se tirar de positivo após esse primeiro trimestre do Náutico que teve tantas decepções?

Acho que a união que o grupo fez aqui dentro. Pelo compromisso de tentar lutar por objetivos maiores. Se abraçar em um único pensamento e no intuito de fazer com que o clube cresça para disputar de igual para igual com outras equipes. A gente sabe que deixou a desejar, muito talvez por problemas que não competem aos jogadores, mas que dentro de campo é só o resultado final de toda uma situação que acontece. Não é simples de resumir isso, mas é difícil trabalhar com a cabeça cheia de problemas. E isso acaba refletindo nos 90 minutos e o saldo positivo é essa agregada que o grupo deu e é isso que temos que levar pelo restante da temporada.

O que o Náutico tem que melhorar para entrar bem nesta Série B?

Acho, sinceramente, falando de todo coração, o Náutico tem que melhorar como um todo. O clube tem um grande potencial para estar em outro patamar. Extracampo acho que as pessoas que gostam do Náutico e têm esse poder de agir diretamente no clube, que possam todos entender que estão lutando pelo mesmo clube. Pela mesma paixão. E é o clube que tem que estar acima de qualquer um. O dono do clube são os torcedores e tem que se pensar exatamente nessas pessoas. Eles estão esperando ver uma melhora no clube e nós que estamos dentro de campo temos que refletir isso. Torço do fundo do meu coração, espero que essas pessoas que possam vir agregar, tirar o Náutico dessa situação que está e colocar ele no patamar que pode estar.

Pela sua experiência, o quanto você, que é o líder, tem que atuar dentro do elenco para acalmar essa situação?

(suspiros)Tenho que atuar muito. Até mais do que deveria. Até mais do que pela minha função. Não é por ser capitão que um monte de situações chegam e a gente tem que tentar contornar e tentar segurar de alguma forma. Unir o grupo e colocar todo mundo no mesmo pensamento. Mas, até estava falando isso com Kuki, que o Náutico tem uma sorte muito grande em formar bons grupos com caras de muito caráter e muita hombridade, que às vezes até ouvem muita besteira de pessoas de fora do clube e aguentam calados. Pessoas que não têm dimensão do que acontece aqui no clube e da situação. A gente ouve quieto, não dá uma resposta e acaba que engole seco.  Tomamos uma responsabilidade que não é nossa e sabemos que o produto é aquele que se vê em campo.

E dentro de campo? O que se pode esperar no segundo semestre?

Dentro de campo, temos que levar como lição os bons jogos neste trimestre. Mostramos uma garra, uma luta e um desejo de vitória. Temos que tirar lições de como foram doloridas, como essa virada para o Sport em dois minutos. Temos que utilizar isso para minimizar os erros e evoluir como equipe para que as coisas no final do ano deem certo. No começo da Série B temos que mirar a liderança, a segunda colocação. Se ficar mirando o quarto lugar e der algo errado, não sobe. Temos que pensar naquele provérbio de atirar a pedra mais longe tentando alcançar a lua. Se não acertar, ir mais longe do que o outro conseguiu. Temos que pensar grande no começo da Série B para que as coisas possam fluir e, no fim do ano, a gente possa comemorar.

E pessoalmente? Para em dois anos? Vai virar gerente de futebol? Técnico?

Eu tento me manter na minha melhor forma para desempenhar o meu melhor papel e continuar ajudando os clubes por onde tenho passado. Quando comecei a jogar profissionalmente estipulei que iria jogar até os 35 anos. Hoje, estou com 32 e completo 33 neste ano. Não por questões físicas ou psicológicas, mas acho que 35, 34 é uma idade onde eu vou mudar os rumos e cuidar mais da minha família. Quero estar mais com minha filha e com minha esposa. Quero tocar outros projetos e que a vida possa encaminhar outras coisas. Não sei se vou ficar no mundo do futebol. É uma rotina desgastante e não tem parada. Quero dar para a minha filha o que eu não tive. Minha base é São Paulo e quero deixar ela conviver perto dos primos, tios e avós. Ainda não sei o que fazer depois que parar, mas o homem lá em cima sempre abre algumas portas para a gente poder pensar e decidir o que fazer.

Em 2004, você chegou bem jovem e foi importante naquela temporada. Neste ano, o Náutico tem uma base muito presente no elenco. O acesso pode passar por eles?

Qualquer clube para sobreviver bem financeiramente tem que dar espaço para essa garotada. O Náutico tem uma safra muito boa de jogadores e temos inúmeros jogadores aqui que podemos falar. Acho que esses meninos têm toda a chance de levar o nome do Náutico onde merecem. São esses meninos que darão o retorno que o clube precisa e tem que ter. Para ter esse espaço, o time tem que estar encorpado para que os atletas não queimem etapas. Para que eles entrem sem a necessidade de abraçar esse jejum que o clube está vivendo. Que eles possam entrar em campo leves e possam colocar todo o talento para fora.

As competições do início do ano foram o suficiente para deixarem eles cascudos para a Série B? 

Acho que é outro estilo de campeonato e outras escolas de futebol, mas eles só vão criar isso jogando e vivendo. Não tem outra forma. Mesmo se o Pernambucano não trouxe isso para eles, acho que eles têm tudo para fazer uma grande Série B.  

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