domingo, 3 de maio de 2020

Criatividade: veja como Ceará, Ferroviário e Fortaleza têm arrecadado recursos durante a pandemia

Ceará, Fortaleza e Ferroviário buscaram maneiras de arrecadar fundos mesmo com a paralisação do futebol


Já são quase 50 dias sem futebol. Junto com a bola, muitas receitas dos clubes também deixar de entrar nos cofres. Bilheteria e tudo que vinha das partidas (como bares e estacionamentos, por exemplo), já não entram na contabilidade das equipes desde 17 de março.
Sem futebol, alguns sócios-torcedores entenderam que não valia mais a pena pagar ou renovar contrato e outros patrocinadores precisaram reduzir o dinheiro investido pela mesma crise, mas também pela diminuição de visibilidade. No momento mais crítico, o pagamento das cotas de TV também minguou.
Com o problema financeiro escancarado à frente, os clubes tiveram que se mexer. Para equilibrar as contas, precisaram ajustar salários e utilizar mecanismos governamentais. Para além da economia, porém, era necessário “dinheiro novo”, que só pode emergir do que não estava programado. É hora de usar a criatividade.
Os clubes cearenses têm se saído bem nesse quesito. De eventos virtuais a aulas de futebol ministradas à distância, Ceará, Fortaleza e Ferroviário estão conseguindo colher em período de seca. É claro que as receitas não são tão altas quantos as que entrariam em condições normais, mas servem para manter a balança equilibrada.

Leão “vai à Guerra”


Fortaleza transformou primeiro jogo internacional em documentário, dividido em três episódios, e colocou à venda
Fortaleza transformou primeiro jogo internacional em documentário, dividido em três episódios, e colocou à venda (Foto: Dudu Oliveira/Fortaleza )

Com o compromisso de não diminuir o salário de nenhum funcionário (jogadores e comissão técnica não inclusos) e de não perder sócios-torcedores, o Fortaleza criou uma série de medidas para angariar fundos e manter o que chama de “rede de proteção”. De promoções a evento virtual, o departamento de marketing do clube tem demonstrado bastante imaginação.
Com lojas fechadas devido ao isolamento social, o Tricolor apostou em vendas no e-commerce e por whatsapp, com descontos de 50%, alcançando faturamento maior que meio milhão de reais (R$ 515.067,06). Depois, cortando 40% do preço dos planos de sócio-torcedor (com pagamento total, à vista), facilitando a condição do inadimplente e oferecendo como brinde uma camisa modelo 2020 (que ainda será lançada), conseguiu mais R$ 200 mil, com 217 adesões.
O Leão também entendeu que o momento é do clube ir até o torcedor, não contrário, por isso resolveu lançar dois produtos para serem consumidos do conforto do lar. A primeira partida internacional do clube, contra o Independiente-ARG, foi transformada em documentário com três episódios e vendidos aos torcedores, “Primeira vez na América” já conta com 689 assinaturas e segue disponível. A arrecadação, por enquanto, é de cerca de R$ 8 mil.
A investida mais recente do clube é o evento virtual de domingo, 3, que celebrou os cinco anos do título estadual de 2015, o de número 40 na história do Fortaleza. Serão sete horas de programação, entre lives no YouTube e a transmissão do jogo na TV. Tudo de graça, mas ainda assim, o clube conseguiu monetizar o momento. Um ingresso simbólico de R$ 5 foi colocado à venda e até este domingo, 3, já tinham sido vendidos 10.607, garantindo mais de R$ 53 mil em receita (R$ 53.350).
“Posso afirmar com segurança que estamos trabalhando mais na quarentena do que antes da pandemia. Os bons números e a grande repercussão são resultado desta combinação de criatividade e muito trabalho”, disse Marcel Pinheiro, diretor de marketing do Fortaleza.

Vovô fiel e solidário


Campanha Vozão do Bem já teve primeira doação de alimentos, com mais de duas toneladas
Campanha Vozão do Bem já teve primeira doação de alimentos, com mais de duas toneladas (Foto: Bruno Aragão/Ceará )

No Ceará, as ideias para arrecadar recursos tiveram uma finalidade mais filantrópica que propriamente para o clube, mas também foram desenvolvidas plataformas pensando em receitas.
É o caso da escolinha de futebol on-line. No período de isolamento social, a garotada continua praticando o esporte de casa, por meio de um sistema criado pelo clube em que os treinadores conseguem acompanhar os alunos, passando fundamentos e verificando evolução à distância. A inovação não só manteve uma arrecadação que já existia como atraiu novos alunos. São 160, no total, e o faturamento é de R$ 20 mil.
A partir de maio, o Ceará também lançará seu e-commerce, com promoções para sócios-torcedores, o que deve potencializar a entrada de recursos. Antes disso, porém, o clube já vem fazendo ações para fidelizar o associado, que acabou de migrar para o novo programa do clube. Além de conceder mais 30 dias para cada um (nesse primeiro mês sem futebol), as redes sociais do Vovô divulgaram mais de 750 marcas de empresas de seus torcedores oficiais.
O departamento de marketing do Alvinegro lançou ainda duas campanhas solidárias. A primeira foi a Vozão do Bem, que vendia ingressos simbólicos a R$ 20 para converter em doações. O clube não informou quanto arrecadou em dinheiro, mas já fez a primeira doação com duas toneladas de alimento e 500 máscaras. A outra foi a venda de máscaras personalizadas com as cores e escudo do clube. Com cada uma custando R$ 6, oito mil foram comercializadas, o que rendeu R$ 48 mil. Os royalties foram todos revertidos para a produção de mais máscaras, doadas ao Sopai (hospital filantrópico), que já tinha ganhado duas mil no ato do anúncio das vendas.
“Temos que estreitar os laços com quem ficou com a gente, porque eles também estão precisando. A gente precisa se esforçar, ser criativo para divulgar nossa marca, pois perdemos algo em torno de 70% do espaço de mídia espontânea", explicou João Costa, gerente de marketing do Ceará.

Tubarão protetor


Ferroviário acertou com a rede de supermercados Centerbox para ser um patrocinador solidário
Ferroviário acertou com a rede de supermercados Centerbox para ser um patrocinador solidário (Foto: Lenilson Santos/Ferroviário)

O pensamento no Ferroviário é de, principalmente, evitar a evasão de receitas. O diretor de marketing do clube, Chateaubriand Arrais, explicou. “Nesse momento de futebol paralisado, nossa preocupação tem sido em não perder nossas principais fontes de recursos, que são nossos patrocinadores e sócios. A gente tem não deixado nossa marca ficar esquecida, melhorando e ampliando nosso relacionamento por meio de redes sociais, interatividades, lives semanais no Instagram e promoções envolvendo patrocinadores”, disse.
A maior aposta do time coral foi a promoção “meio a meio”, em que permite ao sócio-torcedor diminuir o pagamento de sua parcela em 50% devido a crise gerada pela pandemia. A diretoria mostrou confiança nos corais e pediu para que só solicitasse a redução de valor àqueles que realmente não estivessem em condições de pagar o valor cheio.
Além disso, quem está devendo pode se regularizar com o pagamento de uma parcela (mesmo que cinco estivessem em atraso) e ainda vai continuar pagando metade do preço pelo resto da temporada. A condição dos 50% também vale para novos associados.
Em três dias de campanha, o Ferroviário conseguiu cerca de 200 adesões, entre renovações de contratos, torcedores que voltaram a pagar o plano ou novos associados. Em valor real, significa um entrada de pelo menos R$ 10 mil a mais.
Clube da Barra do Ceará, o Ferroviário não esqueceu a comunidade em que está inserido. Abriu mão do único espaço que ainda tinha por comercializar na camisa para um patrocinador solidário. A rede de supermercados Centerbox vai ter a marca estampada no uniforme coral até o fim do ano e em troca doou 600 cestas básicas, distribuídas entre famílias do bairro.

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