quinta-feira, 30 de abril de 2020

OS ABASTADOS DA BAVIERA E OS TRABALHADORES DA REGIÃO DO RUHR

Alemanha equipa nacional de futebol, emblema, logo, federação de ...


FC Bayern de Munique, Borussia Dortmund ou FC St. Pauli? Para uma Alemanha louca por futebol, a questão do time favorito é também uma questão de identidade e ideologia.
“A grande arma da Bundesliga, a primeira divisão do futebol alemão, continua a ser o modelo das torcidas organizadas” – foi com essas palavras que um ativista do futebol inglês elogiou, em março de 2018, na revista 11 Freunde, o fato de o futebol alemão continuar sendo relativamente resistente à comercialização total. Na Alemanha, há cerca de 25 mil clubes de futebol. Na seleção abaixo, é possível ver como o relacionamento dos torcedores alemães com seus times é realmente especial e que papel exercem, por exemplo, o posicionamento político e a sensação de pertencimento a determinado grupo.

FC BAYERN MÜNCHEN: ACOSTUMADOS A GANHAR

O FC Bayern, campeão incontestável da Bundesliga, com seis vitórias seguidas no Campeonato Alemão, é visto como um clube com um público dramático, reclamão e cheio de espectadores da grande mídia. O que se esquece é que, em Munique, há grupos bem conectados de torcedores muito fanáticos. Esses ultras – como são chamados – lutam, por exemplo, contra o racismo. Os preços dos ingressos durante a temporada, entre 140 euros para lugares em pé e 750 euros para a primeira classe, contribuem automaticamente para a seleção dos grupos, privilegiando os mais abastados.

BORUSSIA DORTMUND: SER TORCEDOR DÁ TRABALHO

Os torcedores do eterno rival do Bayern, o Borussia Dortmund, têm fama de ser especialmente leais e resistentes a crises. É isso que sugere, pelo menos, o lema “amor verdadeiro” divulgado por torcedores e pelo clube – em rejeição a ambições capitalistas e à mania de grandeza manifestada nas compras de passes nos anos 1990. Os torcedores do BVB gostam de se definir – distinguindo-se do rival Bayern de Munique – como mais sólidos e sinceros. De fato, a “parede amarela”, a arquibancada sul do estádio local, que comporta mais de 80 mil espectadores, constitui um cenário impressionante que promove a identificação com o time. Mas às vezes as pessoas esquecem que um clube como o Dortmund também é comandado principalmente por interesses financeiros. E os torcedores fomentam isso não apenas com ideologia, mas também com recordes de até 1,4 milhão de espectadores por temporada.

FC SCHALKE 04: CLUBE DOS MINEIROS E ARQUIRRIVAL




O FC Schalke 04, com sede em Gelsenkirchen, fica a 50 quilômetros de distância da sede do Borussia Dortmund. Os dois são considerados os maiores rivais da história do futebol alemão. As disputas entre eles – conhecidas como “clássicos da região das minas de carvão” – têm para os torcedores quase o significado de uma partida final da Liga dos Campeões. No entanto, as torcidas e os times têm mais pontos em comum que diferenças. É verdade que o Schalke 04 tem o maior número de sócios depois do FC Bayern e gasta mais de 90 milhões de euros com sua equipe. Apesar disso, tanto o Schalke quanto o BVB se veem como times de operários, baseando-se na longa tradição, que chega a ser quase mística, de clubes de mineiros de carvão.

RB LEIPZIG: O CLUBE ANTITRADIÇÃO

Um competidor relativamente novo na luta pelos primeiros lugares da tabela é o RB (Rasenballsport – “desporto de bola no gramado”) Leipzig. O clube foi fundado em 2009, sendo que o grupo de empresas Red Bull detém 99% das quotas. Ridicularizado tanto por torcedores quanto pela imprensa especializada como “time de plástico”, o clube conseguiu subir facilmente da Quinta para a Primeira Divisão e já disputou a Liga dos Campeões. Há quem, em tom de ironia, afirme que não existem torcedores autênticos do Leipzig – mas, a cada jogo, 30 mil espectadores aparecem no estádio. Há muito tempo, porém, a Red Bull Arena, o estádio sede do RB Leipzig, não esteve mais lotada.

ENERGIE COTTBUS: BEAST FROM THE EAST?

O Energie Cottbus, um dos poucos clubes remanescentes da Alemanha Oriental, integra atualmente a Terceira Divisão e gera polêmicas com manchetes negativas. As grosserias racistas de centenas de torcedores extremistas de direita do Cottbus acabaram levando à campanha nacional intitulada “Nazistas fora dos estádios”. Em maio de 2018, torcedores do Cottbus posaram com capuzes brancos em estilo Ku Klux Klan. Hoje, a diretoria do clube se defende contra a imagem de piromaníacos e direitistas atribuída a seus adeptos – e convida o público mais numeroso, porém mais retraído, a participar de ações contra a xenofobia, a fim de “divulgar uma imagem verdadeira dos torcedores de nosso clube”.

FC ST. PAULI: PIRATAS DO BEM



O clube da Segunda Divisão, com sede em Hamburgo, está profundamente ancorado na cena de esquerda das ocupações de casas (squatts) no país. Ele é visto tanto como a “consciência social” do futebol alemão, como também como padroeiro do autêntico torcedor alemão. Na temporada de 2018/19, os jogadores vão usar camisetas nas cores do arco-íris da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, transgêneros, intersexuais e queer). Além disso, o clube organiza uma “Corrida contra o racismo”, colabora com a campanha global por água potável ”Viva com Água” e se empenha contra a publicidade sexista. No FC St. Pauli, 30% das cadeiras cativas são assinadas por mulheres e, num levantamento feito em 2017, a proporção de torcedoras alcançou os 41,4%.

Nenhum comentário:

Postar um comentário