segunda-feira, 7 de novembro de 2016

FC Porto-Benfica, 1-1 (crónica)

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Profecia de Vitória com estrela de tricampeão


«O que eu gostava era de marcar aos 94 minutos e ganhar». A profecia de Rui Vitória não se cumpriu em pleno mas o empate tem claro sabor a triunfo. Houve estrela de tricampeão no clássico com o FC Porto (1-1).
O Benfica sai do Estádio do Dragão com os mesmos cinco pontos de vantagem sobre o adversário e nem se importará com o fim de um ciclo de triunfos consecutivos fora de portas. Lisandro López, no período de descontos, anulou o golo de Diogo Jota.
Ora Lisandro, que entrou mais uma vez por lesão de Luisão, foi exemplar no plano defensivo e subiu à área contrária marcar assinar o 1-1 final para lá dos noventa minutos.
Hector Herrera saiu do banco para entregar o ouro. O mexicano, defendido por Nuno Espírito Santo mas criticado pelos adeptos, tentou acertar com a bola num adversário e cedeu de forma disparada um canto. Daí nasceu o golo do Benfica.
A formação encarnada, que pressionara com intensidade na derradeira etapa da partida, teve nova oportunidade para ser feliz e demonstrou a habitual apetência para bolas paradas. Lisandro ganhou nas alturas e mudou o estado de espírito dos 50 mil adeptos que seguiam o encontro.
O FC Porto teve o jogo nas mãos, merecia algo mais que o empate mas terá de encontrar em si as respostas para a perda de pontos vitais na luta pelo título.
Dragões em cima dos substitutos encarnados
Voltemos ao início. Nuno Espírito Santo surpreendeu com a mudança para o tradicional 4x3x3, procurando claramente tirar partido das alterações forçadas no Benfica.
Maxi Pereira manteve-se no onze do FC Porto e partilhou o flanco direito com Jesús Corona, que travou duelo com Eliseu, substituto de Grimaldo. Herrera foi o sacrificado.
A principal alteração, ainda assim, residiu na colocação de Otávio ao centro, na zona de atuação de Samaris, escolhido por Rui Vitória para o lugar do lesionado Fejsa. O Benfica demorou a assentar o seu jogo e adaptar o processo defensivo a essa variante portista.
Otávio e Óliver, com o apoio de Danilo, garantiam superioridade a meio-campo face a Samaris e Pizzi. Sem capacidade para fazer a ligação entre setores, o tricampeão nacional remetia-se à defesa perante sucessivas investidas portistas.
Diogo Jota dividia-se entre o flanco esquerdo e o apoio a André Silva, Alex Telles garantia profundidade e valeu ao Benfica a inspiração de Ederson (para além de Nélson Semedo) a negar o golo ao FC Porto.
Durante cerca de meia-hora, a equipa de Nuno Espírito Santo dominou o encontro e criou várias oportunidades de golo, com grande destaque para duas perdidas de Jesús Corona.
Ederson brilhou aos pés de Corona
Aos minutos 14 e 24, o mexicano apareceu na cara de Ederson mas o guarda-redes do Benfica levou sempre a melhor. Na primeira ocasião, aliás, a defesa provocou-lhe dores de estômago e vómitos.
Por essa altura, Luisão já se tinha queixado ao banco do Benfica e Lisandro López preparava-se para substituir o capitão. Uma vez mais.
Após a segunda perdida de Jesús Corona, o FC Porto viu uma clara oportunidade de golo ser-lhe negada por mão na bola de Felipe, que viria a assistir André Silva. Lance polémico, já que antes de Felipe, é Mitroglou quem parece desviar a bola com o braço na área encarnada.
O Benfica sofria. Restava o excelente desempenho de Nélson Semedo na direita (e alguns esboços de Gonçalo Guedes), durante largos minutos, até que o ritmo baixou e a equipa visitante logrou respirar. Criou até uma boa ocasião para marcar, num desvio infeliz de Felipe após pontapé de canto, levando a bola a embater no poste da sua baliza.
Intervalo, tudo a zeros.
Diogo Jota de coração azul e branco
Rui Vitória não mexeu, acreditou que os instantes finais da primeira parte seriam o prenúncio de algo melhor para o Benfica. Pelo contrário. Quem mais acertou na etapa inicial viria a abrir caminho para o golo do FC Porto.
Tudo começou em Jesús Corona, até então o pior elemento portista. O mexicano abriu para Diogo Jota na área, pela esquerda, e o jovem conseguiu bailar sobre Nélson Semedo. Seguiu-se um remate seco, para o poste que Ederson desvia cobrir. Culpas para o guarda-redes.
A justiça no marcador chegava no pé esquerdo de Jota, com quarenta minutos de jogo pela frente e a maioria de 50 mil adeptos a rejubilar de alegria. Grande espetáculo no Estádio do Dragão.
O Benfica tinha de fazer o que não fizera até então: assumir a iniciativa. Deixou essa ideia no ar com um bom remate de Samaris para defesa de Casillas, mas a verdade é que o FC Porto continuou a procurar o 2-0.
A superioridade a meio-campo era essencial para o domínio de jogo. Rui Vitória procurou chegar a esse ponto com a troca de Cervi por André Horta, Nuno Espírito Santo respondeu pouco depois com o sacrifício de Jesús Corona – após grande lance do mexicano – para a entrada de Rúben Neves. Foi o primeiro sinal de um recuou no terreno que se revelou fatal para os portistas.
Tirando mais tarde Óliver (muito bem até então) e por fim Diogo Jota, o treinador do FC Porto procurou guardar a baliza mas colocou-a mais próxima da equipa contrária, que teve autorização para subir em bloco.
Benfica a crescer, FC Porto a recuar até ao empate
O FC Porto não permitia grandes oportunidades de golo ao adversário, que teve Raúl Jiménez como derradeiro argumento, mas os últimos minutos foram de crescente pressão encarnada e sucessivos tiros nos pés da formação azul e branca.
Vejamos: Nuno Espírito Santo tira Diogo Jota para colocar Héctor Herrera ao minuto 87. Chega o período de descontos e nada parece mudar. De repente, entre a confusão na direita, Herrera tenta acertar com a bola num adversário e cede de forma disparada um canto. André Horta bate, Lisandro López sobe e marca.
O Benfica anulava a desvantagem ao minuto 92, garantindo um resultado determinante na luta pelo título. Enquanto a formação encarnada festejava com os seus, sabendo que esteve perto de perder no Dragão, Héctor Herrera ficava de braços caídos junto ao grande círculo, sem ninguém em seu redor.
Grande resultado para o Benfica, castigo pesado para um FC Porto que criou mais oportunidades para vencer. Não só estrela, não só azar, talvez uma tendência fatalista para desaproveitar e uma crença que não se abate do lado encarnado.

FC Porto-Benfica, 1-1 (destaques das águias)


A FIGURA: Lisandro López
Chamado a jogo a frio, qual 112, face à lesão de Luisão, respondeu à altura e vestiu a pele de herói encarnado, salvando um ponto em cima da hora. O Benfica não tremeu com o argentino, porque foi, a par de Semedo, o melhor do quarteto defensivo. Dois cortes sobre André Silva, no segundo tempo, foram a amostra perfeita para um final de tarde positivo. O golo, num cabeceamento colocadíssimo no último canto do jogo, a cereja que buscava.
O MOMENTO: gelo argentino no Dragão
Minuto 90. Nunca um resultado de 1-0 deixa um jogo decidido, mas o Benfica não parecia ter arte para conseguir o que não tinha até então. Mesmo que o FC Porto tenha recuado nos minutos finais, a situação aparentou estar sob controlo. Um erro de Herrera que deu um canto ao rival em cima da hora fez tocar a sirene: poderia vir aí o pior para os dragões. E veio. Lisandro saltou mais alto do que toda a gente e colocou a bola na baliza. Empate que sabe a vitória para as águias.
Nelson Semedo
Perdeu um duelo em campo e foi logo aquele que não poderia perder. Deu espaço a mais a Diogo Jota no lance que desequilibrou a balança, mas era cruel castigá-lo por isso. Até porque voltou a mostrar, no resto do tempo, que está um senhor jogador. Correto a defender e vistoso a atacar, ficando na retina um nó cego em Oliver dentro da área portista, antes de cruzar. Na segunda parte, já com o Benfica em desvantagem, Nuno colocou Layún em campo para vigiá-lo de perto. Era por ali que o Benfica tentava a igualdade. Sinal de respeito portanto. Cresce de jogo para jogo e nem ambientes difíceis como o do Dragão o intimidam nesta fase.
Ederson
Curiosamente, depois do herói Lisandro, os dois melhores do Benfica foram também os que erraram no golo portista. Nelson Semedo, driblado, e Ederson, que não pode deixar uma bola entrar por aquele lado. Uma nódoa na pintura de qualidade que estava a desenhar. Num jogo em que até vomitou em campo depois de uma defesa quase por instinto e à queima roupa face a Corona, o brasileiro não deixou de ser figura de destaque do Benfica. Transmitiu segurança à equipa e, além desse lance com Corona, teve outro, novamente face ao mexicano, em que foi um gigante a cobrir o caminho da baliza. Depois do golo, recompôs-se e evitou que um livre de Alex Telles fizesse funcionar novamente o marcador.
Gonçalo Guedes
A ligação do Benfica ao ataque foi débil. Gonçalo Guedes, por ser o mais móvel da dupla, foi, também, o que esteve mais em jogo. Fez por isso, de resto, vindo atrás buscar jogo, tentando empurrar a equipa para a frente. Nem sempre decidiu bem, é certo, mas ficou com o mérito de ter tentado.
Samaris
Substituto natural de Fejsa mas com um andamento muito diferente. Tardou em entrar no jogo, comprometeu num par de lances, o maior quando quase entregou o ouro a André Silva, ainda no primeiro tempo, e não conseguiu ser o primeiro construtor do futebol encarnado, obrigado Pizzi a essa tarefa. Depois, claro, faltava gente mais à frente e a dupla atacante aparecia isolada e facilmente manietada. A confirmar o futebol paradoxal do Benfica, se os melhores erraram no golo de Diogo Jota, Samaris, em nível bem mais baixo que os restantes, foi o que esteve mais perto de marcar, num remate que obrigou Casillas a voar.
Luisão
Não tendo sido relevante para o jogo, nova lesão de Luisão deve preocupar o já de si ocupado departamento médico do Benfica. E Rui Vitória, por acréscimo.


Esta é a palavra que mais se adequa à época do Benfica

A palavra que mais se adequa à campanha do Benfica esta época é sobrevivência.
Sobreviveu ao mar de lesões que devastou a equipa em largas semanas da temporada, voltou a sobreviver agora a mais duas, sobretudo a de Fejsa, antes do clássico. Sobreviveu a ganhar, até aqui, mas o empate é meia-vitória. Pelo menos.
No Dragão, sobreviveu a erros posicionais, a exibições frágeis de três ou quatro jogadores, até a um golo mais consentido por parte do seu guarda-redes. Que negou outros, sublinhe-se.
No futebol praticado, nas oportunidades criadas, no número de ataques, o FC Porto foi melhor. Até ao golo de Jota, a equipa de Nuno Espírito Santo foi mesmo muito melhor.
Depois, o campeão puxou dos galões e tentou forçar o empate. Não o fez sempre da melhor forma, longe disso, mas foi-se aproximando de Iker Casillas, ao mesmo tempo que Nuno recuava com uma ou outra substituição. Ao contrário de Rui Vitória, bem mais assertivo.
O FC Porto foi perdendo terreno, e numa bola parada, nos descontos, o Benfica igualou. Tem mérito pelo esforço, tal como teve demérito em grande parte do resto do tempo pela falta de controlo que teve na partida. Mas, e parece que ficou claro, cumpriu o objetivo: sai como entrou, com cinco pontos de avanço sobre o rival direto.
Os dragões precisam de juntar regularidade à irreverência e ao talento individual que existe. Óliver. André Silva. Otávio. Todos eles tiveram bons momentos. O FC Porto esteve muito perto de vencer o campeão e recuperar boa parte do atraso, mas a verdade é que voltou a falhar ao segundo clássico. Tem um ponto em seis possíveis.
Sim, o Sporting voltou à normalidade. O normal é que bata o Arouca em Alvalade, como bateu. Recuperou dois pontos a Benfica e FC Porto, já tem de novo Adrien, um jogador que acrescenta intensidade e agressividade ímpares dentro do grupo, e Jorge Jesus já sabe mais algumas coisas sobre os (muitos) reforços. O normal é que entre em velocidade de cruzeiro rapidamente.
Grande trabalho de Pedro Martins em Guimarães, depois de outros em outras equipas. O Vitória é quarto, a um ponto de FC Porto e Sporting, e a par do rival Sp. Braga. Bom futebol, filosofia ofensiva e muito boa organização fazem dos minhotos uma excelente notícia para o campeonato português. Frente ao Nacional, ainda teve de virar um resultado negativo frente ao Nacional reduzido a dez, depois da expulsão de Marega. É obra. Obra de um excelente treinador.
Já aqui elogiei, mas nova nota para os trabalhos de Leonardo Jardim no Monaco, e Antonio Conte e Jurgen Klopp, respetivamente no Chelsea e no Liverpool. São projetos que entusiasmam. Muito.

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