terça-feira, 15 de novembro de 2016

CRAQUE IMORTAL – DINO ZOFF



futebol interior


Soccer - FIFA World Cup Final 1982 - Italy v West Germany - Santiago Bernabeu Stadium
Nascimento: 28 de Fevereiro de 1942, em Mariano Del Friuli, Itália.
Posição: Goleiro
Clubes: Udinese-ITA (1961-1963), Mantova-ITA (1963-1967), Napoli-ITA (1967-1972) e Juventus-ITA (1972-1983).
Principais títulos por clubes: 1 Copa da UEFA (1976-1977), 6 Campeonatos Italiano (1972-1973, 1974-1975, 1976-1977, 1977-1978, 1980-1981 e 1981-1982) e 2 Copas da Itália (1978-1979 e 1982-1983) pela Juventus.

Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo (1982) e 1 Eurocopa (1968) pela Itália.

Principais títulos individuais:
Melhor Goleiro da Copa do Mundo da FIFA: 1982
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1982
Vencedor do Prêmio Jubileu de Ouro da UEFA
Eleito o 41º melhor jogador do século XX pela revista Placar: 1999
Eleito o 3º Melhor Goleiro do Século XX pela IFFHS
Eleito o 2º Melhor Goleiro do Século XX da Europa pela IFFHS
Eleito o Melhor Goleiro Italiano do Século XX pela IFFHS
FIFA 100: 2004
Eleito o 40º maior craque das Copas do Mundo pela revista Placar: 2006
Eleito um dos 1000 maiores esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Italiano: 2012
“Veterano, capitão e campeão do mundo”
Ele ganhou mãos divinas que ajudaram seus clubes e sua amada seleção nos momentos mais difíceis. Com elas, operou milagres, salvou bolas quase dentro do gol e levantou o maior de todos os troféus – a Copa do Mundo. Para o bem do futebol, ele usou-as no gol, pois  não fosse o esporte mais popular do mundo elas teriam sido utilizadas no plantio de hortaliças ou no conserto de carros, segundo o próprio dono: Dino Zoff, o maior goleiro da história do futebol italiano no século XX e um dos maiores de todos os tempos. Para Zoff, tudo começou tarde. Ele cresceu tarde, conseguiu a chance num grande clube de seu país com 30 anos e foi campeão do mundo aos 40. Como conseguiu tanta longevidade assim? Comendo, bebendo, fumando e falando pouco, sempre na dele. Ídolo na Juventus dos anos 70, o goleiro de reflexos rápidos e grande senso de colocação foi um virtuose no gol e uma das estrelas da Itália campeã da Copa de 1982 quando todos apostavam no título do Brasil. E apostaram errado. Culpa de Paolo Rossi, claro, mas também de Dino Zoff, que fez a maior defesa de sua vida justamente nos minutos finais daquele embate do Sarriá após uma cabeçada fatal de Oscar. Estava escrito que aquele goleiro seria campeão. E que se consagraria de vez no esporte. É hora de relembrar.

Cresça, menino!
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Dino Zoff nasceu em uma família de camponeses, em Mariano Del Friuli, nordeste da Itália. O jovem queria ser goleiro, mas não colocava isso como grande objetivo de vida, se dedicando mais aos estudos e aos afazeres na oficina do pai. Com 14 anos, tentou a sorte na Juventus e na Inter, mas foi rejeitado por conta da altura: apenas 1,66m. Os dirigentes acharam que aquele garoto não cresceria mais que aquilo e não deram chances para o goleiro. Por conta disso, Zoff passou a seguir uma dieta intensiva feita por sua avó, que incluía mais de meia dúzia de ovos por dia. O garoto comeu ovos e mais ovos durante anos, mas só foi crescer mesmo aos 18 anos, quando atingiu uma boa altura para o gol: 1,82m. Esguio, com uma boa estatura e muito sério, Zoff chamou a atenção de olheiros da Udinese, que viram o garoto jogando no Marianese, time de sua região, e o levaram para Udine em 1961. A estreia do goleiro foi a pior possível: derrota por 5 a 2 para a Fiorentina e um mundo inteiro desabando nas costas do italiano. Como jogava em uma equipe fraca e sem grandes talentos, Zoff não conseguiu destaque e acertou sua transferência para o Mantova já em 1963. Na calmaria do norte italiano, Zoff iria conseguir, enfim, brilhar.

Despertando olhares e o primeiro título
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No Mantova, Zoff disputou três temporadas na série principal e uma na segunda divisão, se sobressaindo perante os demais companheiros com ótimas atuações, reflexos apurados e muita segurança no gol. Seu desempenho chamou a atenção de grandes clubes do país, entre eles o Milan, que por pouco não contratou o jovem goleiro. Em 1967, o Napoli venceu a disputa e levou Zoff para o San Paolo, mesmo local da estreia do goleiro pela seleção italiana, na vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária pelas quartas de final da Eurocopa de 1968. A Itália havia perdido o primeiro jogo por 3 a 2 e precisava do triunfo para se garantir na fase final do torneio, que teria como sede a própria Itália. Zoff não sentiu o peso da estreia e garantiu a meta da Azzurra intacta naquele jogo.
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Nas semifinais, Zoff voltou a manter o gol italiano seguro no empate sem gols contra a URSS. A classificação, acredite se quiser, foi decidida na moedinha (!), e deu Itália, que derrotou a Iugoslávia por 2 a 0 na grande final (após 1 a 1 no primeiro jogo) e se sagrou campeã europeia. Zoff conquistava naquele ano seu primeiro título como jogador profissional e logo com a camisa da seleção. Era o início de grandes anos para o goleirão.

Nápoles, México e Turim
Cara de susto para a foto dos convocados da Copa do Mundo de 1970, no México.
Cara de susto na foto dos jogadores italianos convocados da Copa do Mundo de 1970, no México.

Com a camisa celeste do Napoli, Zoff continuou a jogar o fino, mas sem chance alguma de título. Era mais do que certo que ele só conseguiria uma taça por clube se fosse contratado por algum dos gigantes do Calcio. Em 1970, Zoff integrou a seleção italiana que disputou a Copa do Mundo do México, mas não teve chances contra o goleiro Albertosi, titular do vice-campeonato. Porém, em 1972, o goleiro conseguiu a tão sonhada chance de sua vida: jogar na Juventus. E seria em Turim, 33 centímetros mais alto que em 1961 e com 30 anos, que o goleiro iria se consagrar de vez como uma lenda.
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Intransponível
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Zoff estreou pela Juventus na temporada 1972-1973 e não saiu mais do gol alvinegro nos 10 anos que se seguiram.  O craque disputou 330 partidas consecutivas pela Juve, um recorde histórico. No entanto, o goleiro vibrou mesmo foi com o Scudetto conquistado já em 1973, quando a equipe de Turim ficou um ponto à frente do Milan. A alegria com a Juve foi somada ao ótimo momento de Zoff na seleção, na qual ele ficou de setembro de 1972 até junho de 1974 sem levar um gol sequer, totalizando 1142 minutos, um recorde internacional. A façanha só foi quebrada na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, a primeira de Zoff como titular da Azzurra. Mas em solo germânico a equipe italiana sequer passou de fase. Em 1978, outra Copa e mais uma decepção, com a Itália terminando na quarta colocação ao perder a disputa do terceiro lugar para o Brasil por 2 a 1, na qual Zoff foi duramente criticado por uma suposta falha no gol de Nelinho.
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Mesmo sem títulos pela seleção, o goleiro colecionou taças na Juventus. Foram oito títulos nacionais (seis Scudetto e duas Copas da Itália) e uma Copa da UEFA na temporada 1976-1977, a primeira conquista internacional da história da equipe de Turim, com Zoff magnífico ao lado de estrelas como Scirea, Gentile, Causio, Boninsegna e Bettega. O time alvinegro foi campeão ao derrotar o Athletic Bilbao-ESP por 1 a 0 no primeiro jogo, em Turim, e perder por 2 a 1 a volta, levando o título graças ao gol marcado fora. Aquela, porém, foi a única glória continental de Zoff, que nada pôde fazer para evitar as derrotas de sua Juve nas finais das Ligas dos Campeões da UEFA de 1973 e 1983, perdidas para o Ajax-HOL e Hamburgo-ALE, respectivamente.

Contestado
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Os anos foram se passando e Zoff continuava em forma, titular na Juventus e na seleção e com mais algumas temporadas pela frente. Porém, começaram a chover críticas contra o goleiro, que “sufocava uma geração inteira de goleiros” na Itália e não deveria ser tão intocável na equipe nacional. O técnico Enzo Bearzot tinha total confiança no veterano jogador e o mantinha como o camisa 1 e capitão às vésperas de mais uma Copa do Mundo, em 1982, na Espanha. Ter um goleiro de 40 anos como líder de uma seleção que entrava na disputa em frangalhos após um polêmico esquema de manipulação de resultados era algo que doía na imprensa e gerava muita desconfiança. Ninguém, absolutamente ninguém tinha esperanças em qualquer tipo de sucesso da Azzurra no mundial. E o início da equipe em terras espanholas daria plenos motivos para isso.

Sem brilho e capengas
O camaronês Roger Milla (à esq.) cumprimenta Dino Zoff na  Copa de 1982: duas lendas veteranas.
O camaronês Roger Milla (à esq.) cumprimenta Dino Zoff na Copa de 1982: duas lendas veteranas.

Historicamente, a Itália quase sempre passa apuros na primeira fase de uma Copa. Em 1982, porém, ela abusou do artifício: foram três empates em três jogos: 0 a 0 contra a Polônia, na estreia, 1 a 1 contra o Peru e 1 a 1 contra a boa seleção de Camarões. O time se classificou apenas no quesito gols marcados, gerando ainda mais desconfiança na torcida. Como uma seleção que não vencia poderia ir adiante naquela Copa? Para blindar os atletas, o técnico Bearzot proibiu seus jogadores de dar entrevistas, para manter o foco na competição. A atitude foi muito criticada, claro, mas fundamental para a mudança drástica que ocorreria na segunda fase.

O despertar do gigante
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Sem apresentar um bom futebol na primeira fase do mundial, a Itália caiu no Grupo 3 da segunda fase ao lado de ninguém menos que Argentina (campeã da Copa de 1978) e o sublime Brasil, de Zico, Falcão, Sócrates, Éder, Leandro, Júnior, Serginho e Toninho Cerezo. Cair em um grupo tão difícil deixou a torcida italiana ainda mais desconfiada e sem esperança. Mas foi nessa adversidade que o gigante despertou. Na primeira partida, contra a Argentina, a Itália mostrou um futebol totalmente diferente da primeira fase: mais aguerrido, mais técnico, mais eficiente, sem erros. Maradona, craque maior do time argentino, foi anulado sem dó pelo “carrapato da Copa” Gentile. O italiano não deixou o argentino respirar, garantindo a segurança para que a Azzurra vencesse o jogo por 2 a 1, gols de Tardelli e Cabrini. O time conquistava uma importante vitória. No jogo seguinte, o Brasil eliminou a Argentina ao vencer por 3 a 1. E a decisão pela vaga nas semifinais seria entre brasileiros e italianos. Era a chance de Dino Zoff vencer de uma vez por todas o rival que ainda estava engasgado em sua garganta pelas derrotas nas Copas de 1970 e 1978.

A batalha do Sarriá
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O jogo entre Brasil e Itália estava cercado de expectativa. Todos esperavam ver naquela ensolarada tarde do estádio Sarriá mais um baile canarinho. No entanto, a Itália estava mordida pelas derrotas de 1970 e 1978 e queria acabar de uma vez por todas com sua freguesia. Zoff, concentrado como sempre, nem parecia sentir o peso daquele jogo. O capitão estava frio, sereno e com foco total em parar aquele ataque fatal vestido em amarelo e azul. Um empate bastava para o Brasil. Mas o atacante italiano Paulo Rossi não entendeu assim. Aos cinco minutos de jogo, Rossi abriu o placar. Sete minutos depois, Sócrates empatou para o Brasil. Aos 25´, Rossi fez mais um. No segundo tempo, Falcão empatou num golaço. Mas aos 30´, Rossi, de novo, fechou a conta para a Itália: 3 a 2.
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Perto do final do jogo, o zagueiro brasileiro Oscar quase empatou para o Brasil, mas Dino Zoff fez uma defesa que, segundo o próprio, foi a mais sensacional de sua carreira, ao pegar a bola em cima da linha. Era o fim da geração de ouro do Brasil. E a vitória que a Itália e Zoff precisavam para calar a boca de críticos, imprensa e torcedores que não acreditavam naquele time. O tri era, sim, possível.

Rossi de novo e o tri histórico
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Com o entusiasmo lá em cima, a Itália partiu com tudo rumo à final. Nas semis, a equipe reencontrou a Polônia, adversário da primeira fase. Dessa vez, o jogo não foi monótono como outrora e Paulo Rossi confirmou sua estrela ao marcar mais dois gols, os dois da vitória italiana por 2 a 0. A equipe, depois de 12 anos, estava na final e iria medir forças contra a Alemanha. A Itália estava tinindo, apenas com a ausência de Antognoni, que se machucou na partida contra a Polônia. Já a Alemanha estava exausta por conta da desgastante semifinal contra a França, decidida apenas nos pênaltis após empate e 1 a 1 no tempo normal e 2 a 2 na prorrogação. O filme era o inverso do vivido pela Itália em sua última decisão de Copa, em 1970, quando chegou à final contra o Brasil mal fisicamente depois de uma partida de tirar o fôlego contra a Alemanha, decidida na prorrogação.
Zoff com a Taça FIFA: no topo do mundo.
Zoff com a Taça FIFA: no topo do mundo.

Os italianos tiraram proveito da situação e dominaram o jogo desde o início, mas não conseguiram abrir o placar e ainda desperdiçaram um pênalti. Na segunda etapa, aos 11 minutos, Paulo Rossi, sempre ele, marcou seu sexto gol na Copa e o primeiro da Itália na decisão. Aos 24´, Tardelli ampliou, e, aos 35´, Altobelli fez 3 a 0. Breitner descontou para a Alemanha dois minutos depois, mas já era tarde. O time não tinha mais forças para correr atrás do placar. A Itália era tricampeã mundial de futebol e conquistava a Copa depois de 44 anos. Era a coroação de uma equipe que chegou desacreditada à Espanha, mas que saía campeã do mundo. Era também o título para mostrar ao mundo a eficiência e precisão de jogadores como Conti, Scirea, Cabrini, Tardelli, Gentile, Rossi e Dino Zoff, o goleiro, capitão e mais velho jogador a ser campeão mundial, com 40 anos de idade. No Santiago Bernabéu, Zoff repetiu o goleiro italiano Combi, de 1934, e se tornou o segundo guarda-metas a erguer como capitão a Copa do Mundo. Aquele 11 de julho de 1982 era, sem dúvida, o maior momento da vida do italiano, que quebrava outro recorde ao ser o primeiro e único jogador da Itália a ser campeão europeu e mundial com a seleção.
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Hora de pendurar as luvas
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Depois do título mundial, Zoff jogou algumas partidas pela seleção durante as eliminatórias da Eurocopa de 1984, mas a Azzurra foi eliminada e não disputou o torneio. Com isso, o goleiro deu adeus à equipe depois de 112 jogos, um recorde que só seria superado mais de uma década depois por apenas três jogadores: Paolo Maldini, Fabio Cannavaro e Gianluigi Buffon. O adeus definitivo dos gramados ocorreu na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1982-1983, quando a favorita Juventus perdeu para o Hamburgo na decisão disputada em Atenas-GRE em 25 de maio.
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Depois de se aposentar, Zoff decidiu seguir a carreira de técnico e teve momentos felizes comandando a Juve em duas conquistas: a Copa da UEFA e a Copa da Itália, ambas na temporada 1989-1990. O mito italiano ainda teve uma passagem pela seleção e por pouco não conquistou a Eurocopa de 2000, perdida na prorrogação para a França. Zoff até iria continuar no cargo após o vice, mas não aturou as críticas do então primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e deixou o comando da Azzurra para ser dirigente e, depois, se retirar dos holofotes.

Lenda do Calcio
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Exemplo clássico de longevidade, Dino Zoff foi um dos gigantes do futebol mundial e deixou sua marca para sempre no futebol italiano. Superou rejeições, soube levar uma vida coesa e equilibrada para jogar em alto nível por décadas e alcançou o auge já veterano. Ídolo alvinegro e da seleção, Zoff provou em campo e nos números o quão imortal ele foi. Uma lenda do esporte.

Números de destaque:
Disputou 112 jogos pela seleção da Itália.
Disputou 570 jogos na série A do futebol italiano.
É o 5º jogador que mais vestiu a camisa da Juventus na história com 476 jogos disputados.
Disputou 330 partidas consecutivas do Campeonato Italiano entre 1972 e 1983, feito que o coloca na 6ª posição na lista dos que mais jogaram a Serie A pela Juventus.
Detém a segunda maior invencibilidade de um goleiro na história do Campeonato Italiano: 903 minutos sem levar gols.

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