quinta-feira, 7 de maio de 2020

Insatisfação, novos exames e receio: casos de Covid-19 agitam bastidores do Flamengo

A notícia dos 38 casos positivos para COVID-19 chacoalhou o ambiente no futebol do Flamengo. O desconforto de quem atua no dia a dia do Ninho do Urubu ficou mais evidente nos bastidores com a confirmação de que aproximadamente 13% do total das 293 pessoas testadas entre atletas, funcionários, dirigentes e familiares já tiveram contato com o vírus que assola o mundo.

A falta de condições para retorno imediato às atividades é opinião que encontra reflexo em ampla maioria. A diretoria rubro-negra entende que o retorno aos treinamentos ficou bem difícil no curto prazo diante dos resultados dos testes. Mas há quem acredite - e defenda - em um pontapé inicial após o fim dos decretos de isolamento social de Governo e prefeitura, já na próxima semana.
Agora o clube calcula os passos a seguir e já encomendou novos kits de testagem para realizá-los de forma periódica. Antes do retorno ao dia a dia do Ninho uma nova bateria de testes será necessária.
Os últimos dias foram de aflição, reuniões e expectativa por informações sobre os resultados entre funcionários, atletas e dirigentes. A morte do massagista Jorginho devido a complicações da doença foi um baque. Nesta quarta-feira desde a tarde já circulava nos bastidores a informação de que alguns jogadores teriam o resultado de positivo em mãos.
O sigilo foi absoluto, já que dias antes ao menos quatro funcionários já tinham sido diagnosticados com o novo coronavírus. No fim da noite, em nota oficial, o clube informou que entre as 38 pessoas com laudo positivo, todas assintomáticas, 25 são familiares de jogadores ou funcionários, seis do grupo de apoio ao clube e dois funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviços regulares no CT.
Três atletas do elenco estão entre os diagnosticados com coronavírus e dois apresentaram anticorpos IgG positivos. Ou seja, já tiveram um contato anterior com o vírus, caso de 11 pessoas no total do grupo testado. Depois da chamada janela imunológica, geralmente de uma semana, o clube vai repetir os exames para observar evolução ou ter detecção de novos casos.
Os testes ocorrem em duas fases. A primeira é a do chamado PCR. Consiste em coleta - chamada swab - de material na faringe através das vias nasais e identifica se o vírus está presente no organismo, o que geralmente ocorre a partir do terceiro dia após infecção. A segunda é a de sorologia, um exame de sangue que indica se o paciente já apresenta um entre dois tipos de anticorpos: o IgM, característico da fase aguda da doença, com contato recente com o vírus, e que precisa de sete a dez dias após a infecção para ser detectado; ou IgG, da fase tardia, quando são necessários ao menos 14 dias para ser detectado.
Este último indica que o paciente já está imunizado de acordo com o comportamento usual de outras doenças, embora a ciência ainda analise se a imunização é transitória ou não por se tratar de um novo tipo de vírus.
Diante desses parâmetros, o Flamengo dividiu todos em quatro grupos. O primeiro de já imunizados, na teoria já livres para exercer qualquer atividade cumprindo os protocolos de segurança. O segundo é o jogador ou funcionário que não recebeu o diagnóstico de positivo e tem algum familiar também sem o vírus detectado. Neste caso a análise é de que poderia frequentar o CT também seguindo à risca os protocolos de segurança.
Em terceiro, já de quarentena, os jogadores ou funcionários negativos, mas com familiares positivos - que devem ficar isolados em um cômodo da casa. E, por fim, os 38 casos positivos, que devem permanecer isolados e em quarentena, com posterior repetição de testes para garantir que tem anticorpos, ou seja, está na teoria imunizado.
O Ninho do Urubu foi completamente higienizado e passará por este processo diário, além de ter restrições como os fechamentos da academia e restaurante e a redução de 800 para cerca de 70 pessoas entre atletas do profissional e da base (325 no total) e funcionários do departamento de futebol na frequência diária.
Mesmo com todos os protocolos, o desejo de grande parte do dia a dia do futebol rubro-negro é de retornar apenas mais à frente, com maior segurança. Durante a semana, o vice de futebol Marcos Braz já tinha sido indicativo no seu perfil no Twitter ao postar a frase "no tempo certo". Assim como o homem forte do futebol, Gabigol era muito ligado ao massagista Jorginho e em uma live na FlaTV na noite de quarta-feira externou a posição do grupo.
"Já estou aqui no Rio há alguns dias. Agora temos de esperar as programações de quando vão ser os treinos, se vai haver treino. Mas como falei, tudo com muita calma, muita tranquilidade. Infelizmente a gente teve a perda do Jorginho agora por causa do corona. Algo que me abalou, me machucou bastante, me deixou muito mal. Ele foi o primeiro cara que encontrei no Flamengo quando entrei no Ninho. Foi o primeiro cara que me deu boas-vindas, o primeiro cara que me fez a massagem, que perguntou como eu estava nos primeiros treinos. Então isso é algo que tem me machucado bastante, estou muito triste. E também já falei com a maioria, sou a favor também que não volte agora em luto por ele", disse o atacante.

Outro ponto que não caiu bem entre atletas e funcionários do clube foi o parágrafo final do comunicado rubro-negro, em que garante que o clube está "em total sintonia com as autoridades governamentais" colaborando "com o importante retorno às atividades do futebol no menor prazo possível".

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