imortal do futebol
Nascimento: 25 de Setembro de 1955, em Lippstadt, Alemanha.
Posição: Atacante
Clubes: Bayern München-ALE (1974-1984), Internazionale-ITA (1984-1987) e Servette-SUI (1987-1989).
Principais títulos por clube: 1 Mundial Interclubes (1976), 2 Liga dos Campeões da UEFA (1974-1975 e 1975-1976), 2 Campeonatos Alemães (1979-1980 e 1980-1981) e 2 Copas da Alemanha (1981-1982 e 1983-1984) pelo Bayern München.
Principal título por seleção: 1 Eurocopa (1980) pela Alemanha.
Principais títulos individuais e artilharias:
Bola de Ouro da revista France Football: 1980 e 1981
Melhor jogador alemão do ano: 1980
Melhor jogador do mundo pelo Guerín Sportivo: 1980
Onze d´Or: 1980 e 1981
Artilheiro da Bundesliga: 1980 (26 gols), 1981 (29 gols) e 1984 (26 gols)
Artilheiro da Liga dos Campeões da UEFA: 1980-1981 (6 gols)
Artilheiro do Campeonato Suíço: 1989 (24 gols)
Bola de Bronze da Copa do Mundo da FIFA: 1982 (5 gols)
Chuteira de Prata da Copa do Mundo da FIFA: 1982 (5 gols)
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1982
FIFA 100: 2004
“Nem parecia alemão…”
Ele era forte, arisco, inteligente, driblador, tinha uma aceleração explosiva, iniciava as jogadas, mas também as construía na plenitude, marcando gols de arrancadas fulminantes, de cabeça e de tudo quanto era jeito. Um desavisado poderia até pensar que ele era latino. Mas não. Ele era alemão. E muito. A começar pelo nome: Karl-Heinz Rummenigge. O mundo do futebol teve o privilégio de presenciar no final dos anos 70 e em grande parte da década de 80 o esplendor de um dos maiores atacantes da história do esporte e também um dos mais talentosos que já existiu. Com a bola nos pés, Rummenigge parecia um touro fulminante que deixava gélidos os zagueiros rivais, que não tinham ferramentas ou talento disponíveis para frear aquele craque que transbordava talento, objetividade e faro de gols. Depois que Franz Beckenbauer deixou o Bayern, foi Rummenigge o responsável por colocar embaixo de seus braços toda uma torcida carente de seu ídolo. O mesmo aconteceu na seleção, quando Rummenigge a capitaneou em duas Copas seguidas e por pouco, mas muito pouco, não levantou a taça mais cobiçada do planeta. Rummenigge foi vítima de uma curiosa pregação de peça dos deuses da bola que privaram tantos craques de uma Copa do Mundo, tais como Puskás, Cruyff, Zico, Platini, Maldini e muitos outros. Mesmo assim, o astro alemão conseguiu a imortalidade e até mesmo a honra de ter sido considerado por muitos o segundo melhor jogador alemão de todos os tempos, abaixo apenas de Beckenbauer e à frente de Lothar Matthäus. É hora de relembrar.
Funcionário do futebol
Nascido em Lippstadt, centro-norte da antiga Alemanha Ocidental, Rummenigge se inspirou em ninguém mais ninguém menos que Pelé quando decidiu seguir na carreira futebolística, a mesma que seus irmãos, Wolfgang e Michael, também seguiram. Porém, antes de se dedicar em tempo integral ao esporte mais popular do mundo, o futuro craque trabalhou como funcionário de um banco até 1974, ano em que deixou o Borussia Lippstadt, equipe amadora de sua cidade, para jogar no poderoso Bayern München, o melhor time da Alemanha, da Europa e do mundo na época. Em seu começo de carreira, Rummenigge ainda não era o goleador sagaz no qual ele iria se transformar, mas já tinha um grande repertório de dribles que o destacava perante os tradicionais atacantes alemães, que eram fortes e finalizadores, mas sem grandes artifícios para escapar das marcações rivais.
Aprendendo com os mestres
No Bayern, Rummenigge estava no clube certo, no momento certo e na hora certa. Os bávaros eram os reis do continente após a conquista da Liga dos Campeões da UEFA de 1973-1974, base da seleção alemã recém-campeã da Copa do Mundo de 1974 e tinha astros como Sepp Maier, Franz Beckenbauer, Gerd Müller e muitos outros. Ao lado de tanta fera, ficou fácil para Rummenigge se aperfeiçoar mais e mais como jogador e melhorar seu poder de finalização, ainda mais vendo um especialista no assunto quase todos os dias nos treinos (Müller). Rummenigge começou a entrar na equipe aos poucos e marcou seu primeiro gol na Bundesliga em setembro de 1974, na goleada de 6 a 3 do Bayern sobre o Köln. Naquela temporada, o craque viu seu time ser outra vez campeão europeu, mas ficar atrás do Borussia Mönchengladbach no Campeonato Alemão. No ano seguinte, Rummenigge ganhou a titularidade e disputou seus primeiros jogos de Liga dos Campeões, competição que ele e o Bayern venceram novamente em 1976, com três gols do atacante na campanha do tri alemão e importante papel de Kalle na decisão contra o Saint-Étienne. Foi também em 1976 que o atacante recebeu sua primeira convocação para a seleção da Alemanha, na vitória por 2 a 0 sobre País de Gales, com grande atuação do craque, que ganhava cada vez mais a simpatia da torcida e do público alemão com seu futebol suntuoso, rápido e cheio de talento.
Em 1977, o técnico Dettmar Cramer deixou o comando do time para a chegada do húngaro Gyula Lóránt, que não conseguiu colocar os bávaros na rota dos títulos. Porém, isso não foi nenhum empecilho para que Rummenigge disputasse em 1978 sua primeira Copa do Mundo, na Argentina. Detentora do título, a Alemanha era uma das favoritas, mas caiu cedo no torneio e não brigou pelo título. Já Rummenigge foi um dos poucos a se destacar com três gols, sendo dois na goleada de 6 a 0 sobre o México na primeira fase, um deles um golaço bem típico do atacante, que arrancou desde o meio de campo e finalizou para o gol. Após o mundial, o atacante começaria a se transformar num dos maiores jogadores do planeta.
FC Breitnigge
A chegada do técnico Pál Csernai ao Bayern, em 1978, foi crucial para que Rummenigge aperfeiçoasse seu poder de finalização e se transformasse naquela virada de década no maior artilheiro da Alemanha e sucessor natural de Gerd Müller. Na temporada 1978-1979, o jogador marcou 14 gols e foi o artilheiro do Bayern na Bundesliga, mas foi na competição seguinte que o atacante deu show com 26 gols e encantou a todos no país com dribles, velocidade, explosão e uma notável parceria com Paul Breitner, que retornava ao Bayern depois de passagens pelo Real Madrid-ESP e Eintracht Frankfurt-ALE. A parceria Breitner-Rummenigge era tão simbiótica e impecável que fez o jornal alemão Bild apelidar o Bayern de “FC Breitnigge” tamanha a importância da dupla para o clube. Aquilo era só o começo, pois o Bayern ainda faturaria o bicampeonato alemão na temporada 1980-1981 (Rummenigge foi o artilheiro com 29 gols em 34 jogos, e Paul Breitner anotou 17 em 30 partidas) e duas Copas da Alemanha, em 1982 (um gol de Rummenigge na final vencida por 4 a 2 sobre o Nuremberg) e 1984 (Rummenigge converteu seu pênalti na decisão vencida por 7 a 6 sobre o Borussia Mönchengladbach, após empate em 1 a 1 no tempo normal). Todos os títulos tiveram participação mais do que decisiva de Rummenigge.
O único ponto negativo dessa era estrondosa do craque com a camisa do Breitnigg… Digo, do Bayern, foi a derrota na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1982, quando o clube alemão perdeu por 1 a 0 para o Aston Villa-ING na final disputada em Roterdã, Holanda. Rummenigge foi o vice-artilheiro do torneio daquele ano com seis gols. Mas não foi apenas pelo Bayern que o craque brilhou naquela época. Pela Alemanha, Kalle foi tão (ou mais) brilhante quanto na Baviera.
O primeiro (e único) título pela seleção
Em 1980, Rummenigge conduziu a Alemanha ao título da Eurocopa. Na primeira fase, composta por dois grupos de quatro equipes cada, com os primeiros colocados classificados para a final, os germânicos comandados pelo técnico Jupp Derwall derrotaram a Tchecoslováquia por 1 a 0 (gol de Rummenigge), a Holanda por 3 a 2 (três gols de Allofs) e empataram sem gols com a Grécia. Na decisão, Hrubesch marcou os dois gols do título alemão na vitória por 2 a 1 sobre a Bélgica, sendo o segundo gol originado de um cruzamento de Rummenigge. A conquista coroou um ano perfeito para o craque, eleito o jogador do ano na Alemanha e na Europa, como bem disse o craque em entrevista ao site da FIFA:
“Eu estava com muita autoconfiança. Depois de ser artilheiro e Jogador do Ano na Alemanha, fui para o torneio muito motivado. O técnico Jupp Derwall também fez de tudo para que nos sentíssemos bem” – Rummenigge.
Em 1981, o craque seguiu em alta e faturou mais uma Bola de Ouro de melhor jogador do continente e conduziu plenamente a Alemanha durante as eliminatórias para a Copa do Mundo. Rummenigge marcou nove gols essenciais para carimbar o passaporte germânico para o mundial da Espanha, que seria, sem dúvida, a Copa de Rummenigge, maior astro do país e um dos maiores do mundo na época, ao lado de Platini.
Baleado, mas decisivo
No mundial da Espanha, Rummenigge começou a todo vapor ao marcar um gol na estreia alemã contra a Argélia (derrota por 2 a 1) e três na goleada por 4 a 1 sobre o Chile. No terceiro jogo, vitória sobre a Áustria por 1 a 0 (gol de Hrubesch) e classificação assegurada para a fase seguinte. No entanto, o craque jogaria bem pouco pela equipe naquela segunda fase por conta de uma contusão na perna esquerda. A Alemanha conseguiu a classificação para a semifinal após empatar sem gols contra a Inglaterra e vencer a Espanha por 2 a 1 (gols de Littbarski e Fischer). Mas os germânicos teriam um duro desafio pela frente: a França de Platini, que chegava como favorita absoluta para o duelo, ainda mais com a Alemanha sem Rummenigge.
No esperado jogo, Littbarski abriu o placar para os alemães aos 17´do primeiro tempo. Tempo depois, Platini empatou para a França, de pênalti, aos 26´. Mesmo jogando melhor, a França não conseguiu furar a retranca alemã. No segundo tempo, o goleiro alemão Schumacher nocauteou, literalmente, o francês Battiston em um lance deplorável, que deixou o jogador dos Bleus inconsciente e com o maxilar quebrado. O juiz holandês Charles Corver entendeu (?) que a jogada foi normal e deu apenas tiro de meta para os alemães. O caso revoltou demais os franceses e a todos no estádio, que passaram a torcer contra a Alemanha. Na prorrogação, a França abriu 3 a 1 com Tresor e Giresse, mas aí o técnico Derwall colocou Rummenigge em campo como a cartada do desespero. Mesmo com uma perna imprestável, Rummenigge mostrou o quanto era decisivo e marcou o segundo gol alemão aos 102´. A força de vontade do astro e capitão alemão inflou a equipe alvinegra, que empatou o jogo com Fischer aos 108´. O 3 a 3 seguiu até o final e o jogo foi para os pênaltis. Nas cobranças, Rummenigge fez o dele, claro, Schumacher defendeu duas cobranças francesas e a Alemanha foi para a final com a vitória por 5 a 4. O jogo foi um dos mais eletrizantes e épicos da história das Copas, mas foi também um dos mais desoladores para aqueles que tanto torciam para a brilhante França, que foi vítima de Rummenigge, seu talento e sua Alemanha.
Na final da Copa, Rummenigge entrou como titular e era a esperança maior dos alemães para o duelo contra a Itália. Porém, o craque da camisa 11 já tinha esgotado seu estoque de façanhas com uma perna só e foi um mero espectador da fácil vitória italiana por 3 a 1, com gols de Paolo Rossi, Marco Tardelli e Alessandro Altobelli. Em sua primeira decisão de Copa, Rummenigge ficava com o vice muito mais pelo fato de estar debilitado fisicamente. Se ele estivesse 100%, a história teria sido bem diferente, pois nem mesmo Scirea e Dino Zoff poderiam segurar o talentoso atacante alemão.
Vestindo nerazurri
Depois da Copa, Rummenigge passou a sofrer com incômodas contusões que o tiraram de vários jogos em sequência. Mesmo assim, a Internazionale acreditou na recuperação do craque e o levou à Milão por 5 milhões de dólares (maior transação do futebol alemão na época). Terminava naquele ano a rica e inesquecível história de Kalle no Bayern, dez anos, 416 jogos e 217 gols depois, sendo 162 gols em 310 jogos de Bundesliga, que fizeram do craque um dos maiores artilheiros da competição na história. Na Itália, Rummenigge não conseguiu repetir o sucesso dos tempos de Bayern e não faturou títulos, mas ainda sim marcou 24 gols em 64 jogos da Serie A. Já acima dos 30 anos, o craque lutava para disputar mais uma Copa, em 1986. E conseguiu, com força de vontade, dedicação e quatro gols em seis jogos das eliminatórias.
Nova Copa, velho vice
Mesmo longe da forma física ideal por causa das contusões, Rummenigge ganhou a confiança do técnico da Alemanha na época, Franz Beckenbauer, e foi com o grupo de jogadores do país para a Copa do Mundo do México em 1986. O jogador não foi titular absoluto, mas entrou no decorrer das partidas para ajudar a equipe no mundial. A Alemanha passou em segundo no Grupo E, atrás apenas da Dinamarca, e foi para as oitavas de final encarar o Marrocos, na primeira grande atuação de Rummenigge no mundial, com boas jogadas e participação na vitória por 1 a 0 (gol de Matthäus). Nas quartas de final, empate sem gols contra o México e triunfo nos pênaltis por 4 a 1. Na semi, outra vez a França pelo caminho, e outra vez a Alemanha venceu: 2 a 0, gols de Brehme e Völler. Os germânicos estavam em mais uma final, a segunda seguida. E Rummenigge tinha a chance de levantar, como capitão, a taça que lhe havia escapado em 1982.
Ele tentou, mas não deu
A final da Copa de 1986 colocou frente a frente dois icônicos craques dos anos 80: Maradona, da Argentina, e Rummenigge, da Alemanha. Era a experiência e sangue frio dos europeus contra a força do conjunto argentino, além do auge de Dieguito. Sabendo da força do baixinho, a Alemanha apostou na marcação individual de Matthäus na estrela argentina. Ela funcionou, mas não nos 90 minutos. A Argentina abriu 2 a 0 com Brown e o matador Valdano, mas os alemães tinha Rummenigge, que diminuiu aos 74´e fez grandes jogadas que culminaram no gol de empate de Völler. Visivelmente cansados com o calor mexicano, a Alemanha tentava levar o jogo de maneira calma, sem velocidade. Porém, a Argentina tratou de acabar com isso e, no pequeno lance em que Matthäus não grudou como deveria em Maradona, o pequenino fez a diferença. O craque, entre dois adversários, deu um passe magistral para Burruchaga fazer o terceiro gol dos argentinos, decretando a vitória por 3 a 2. Fim de jogo. Argentina bicampeã mundial. Rummenigge e a Alemanha bi-vice-campeões mundiais. O capitão alemão era mais um dos gigantes da bola a sucumbir no maior palco do futebol assim como outros mitos já havia sucumbido. Aquela foi a última Copa do atacante, que estava prestes a encerrar de vez sua carreira sem uma merecida taça de campeão mundial.
Aposentadoria suíça e sucesso fora de campo
Em 1987, Rummenigge se despediu da Internazionale e foi jogar no Servette, da Suíça, clube onde o craque encerraria a carreira dois anos depois, aos 33 anos e como artilheiro do Campeonato Suíço de 1989 com 24 gols. O craque colocava ponto final em sua vitoriosa trajetória futebolística com a única frustração de jamais ter vencido uma Copa do Mundo e por ter perdido duas finais seguidas sem poder jogar seu melhor futebol. Fora dos gramados, muitos pensaram que Rummenigge seguiria a carreira de técnico de futebol, mas o alemão negou ao dizer que “não é desse tipo de banco que eu gosto”, fazendo referência a seus tempos de bancário. O astro do Bayern seguiu no mundo esportivo como comentarista de TV, dirigente e até CEO do clube bávaro.
Com talento, lealdade e dedicação, Karl-Heinz Rummenigge foi um dos maiores mitos do futebol alemão e mundial em todos os tempos, ídolo de uma geração de esportistas de seu país e um ícone que quebrou o paradigma de que atacante alemão bom era aquele trombador e apenas fazedor de gols. Rummenigge foi muito mais que isso. Ele foi arisco, driblador, técnico, rompedor de zagas e um artista de seu tempo, que conduziu praticamente sozinho sua Alemanha até duas finais de Copa do Mundo, além de carregar nas costas um Bayern carente de seus ídolos no final dos anos 70. Um craque para a eternidade. E imortal.
Números de destaque:
Disputou 95 jogos pela seleção da Alemanha e marcou 45 gols
Disputou 310 jogos da Bundesliga pelo Bayern München e marcou 162 gols
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