Alvalade cobriu-se de verde até às orelhas para celebrar uma grande noite europeia. Faz sentido: este Sporting está sedento de vitórias, está sedento no fundo de cumprir o desígnio do fundador.
Tão grandes como os maiores da Europa, lembram-se?
Parece claro, porém, que para ser tão grande como o maior da europa ainda falta a esta equipa qualquer coisa, ainda falta a esta equipa um bocadinho assim.
Um bocadinho de juízo, por exemplo.
Falta, entre outras coisas, que João Pereira não seja João Pereira na pior altura possível: que não se meta em alhadas desnecessárias quando o Sporting está a subir por cima do campeão europeu.
É claro que nesta altura vai haver quem diga que não, que não deu um murro em Kovacic. Sou capaz de jurar que sim, que bateu mesmo com o punho direito no peito do adversário, mas pouco interessa: importante aqui é que não podia arriscar tanto numa altura delicada.
Não podia colocar-se ao jeito de um imponderável qualquer.
Ao enrolar-se com o adversário nas barbas do árbitro assistente, e numa situação tão desnecessária, João Pereira colocou-se na esfera do julgamento do árbitro. Viu o vermelho direto e deu outro murro: este no estômago do Sporting, que cambalelou penoso e sofredor durante largos minutos.
É certo que depois a equipa ainda chegou ao empate, numa grande penalidade descabida de Fábio Coentrão, que colocou uma mão à bola e permitiu que Adrien fizesse golo da marca de onze metros.
Nessa altura voltou a ver-se um Sporting de peito feito e fogo nas pernas.
Tudo isso é certo, como também é certo, de resto, que mesmo a jogar em inferioridade numérica, com menos um no relvado, a formação leonina pareceu querer encostar o Real Madrid às cordas e alimentar até ao fim a esperança de alcançar a vitória que conservava o sonho do apuramento.
No entanto era um encomenda demasiado delicada para quem só sonha ser tão grande como os maiores da Europa. Depois de um susto ou outro, o Real Madrid voltou para a frente e chegou à vitória: a três minutos do fim, Benzema aproveitou um cruzamento de Sérgio Ramos para marcar.
O desígnio do fundador ruiu num instante.
Um segundo tão pequeno como aquele em que João Pereira perdeu o juízo e nos disse a todos que falta a esta equipa um bocadinho assim para ser tão grande como o maior da Europa.
Foi realmente pena, porque o Sporting fez um excelente jogo a maior parte do tempo.
O Real Madrid apostou na mesma fórmula com que venceu o Atlético no fim de semana, com Ronaldo e Isco no centro do ataque, e Benzema no banco. Mas o que mudou mesmo na equipa foi a atitude: muito mais pressionante e solidária do que no jogo de há dois meses no Bernabéu.
Por isso entrou mandona e autoriária, a tentar recuperar rapidamente a bola. O Sporting deu a posse ao adversário, defendeu bem e saiu rápida para o ataque.
A maior parte das vezes fazia-o com uma fórmula que Jorge Jesus já utilizava no Benfica: assim que recupera a bola, a equipa metia-a logo na esquerda, sobre a linha do meio-campo, onde aparecia Bas Dost a fugir à marcação para combinar com quem subia, abrindo linhas de passe do lado oposto. Na Luz era Cardozo que fazia este papel muito bem, no Sporting tenta ser Bas Dost.
Talvez por isso, e mesmo sem ter bola, o Sporting chegou ao intervalo a perder, mas com bem mais ocasiões de golo: o Real Madrid marcou por Varane, e rematou uma vez por Ronaldo, o Sporting ameaçou duas vezes por Bruno César, mais uma por Bas Dost e outra por Gelson Martins.
Nesta altura convém fazer um parágrafo para falar de Ronaldo. Foi ovacionado antes, durante e no fim do jogo. Alvalade ama-o e ele ama marcar em Alvalade: esta noite não o conseguiu, é verdade, foi aliás a primeira vez que não o fez como adversário, mas fartou-se de tentar. Os grandes jogadores são assim.
Voltando ao jogo, convém dizer que na segunda parte tudo mudou menos o essencial: o Sporting entrou mais forte, mais pressionante, mais rápido, por isso apertou o Real Madrid, encostou-o às cordas e criou mais ocasiões de golo.
Estava por isso na melhor fase do jogo quando João Pereira deitou tudo a perder. Agora não há mais nada a fazer, a não ser ir a Varsóvia na última jornada defender o terceiro lugar e a Liga Europa: Borussia Dortmund e Real Madrid estão apurados para a próxima fase da Champions.
E a formação leonina esteve tão perto de uma vitória histórica.
Faltou-lhe um bocadinho assim...
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