Apelidado de “Queixada”, devido ao seu queixo proeminente, Ademir Marques de Menezes foi um verdadeiro símbolo de seu tempo.
Cultuado e venerado, temido e respeitado, a história de Ademir ainda permanece viva como uma das mais belas páginas do futebol brasileiro.
Quem poderia imaginar que aquele garoto magro de pernas finas, nascido e criado na praia do Pina em Recife (PE), seria uma grande estrela do Sport, do Vasco da Gama, do Fluminense e da Seleção Brasileira.
Nascido no dia 8 de novembro de 1922, na Rua 15 de novembro no Bairro do Pina, zona sul do Recife, Ademir se destacava entre os meninos que jogavam peladas sob o pôr-do-sol de um fim de tarde tipicamente nordestino.
Seu pai, o coronel Antônio Menezes, levou o filho para o recém-fundado Centro Esportivo do Pina.
Foi lá que Ademir estufou pela primeira vez as redes imaginárias das balizas daquela praia.
Com um faro de gol incomum para os meninos de sua idade, Ademir foi descoberto pelo técnico do Sport Club do Recife, o uruguaio Ricardo Diaz, no ano de 1937.
Em 1941, com apenas 19 anos, ganhou notoriedade ao ser o artilheiro do campeonato pernambucano com 11 tentos, contribuindo significativamente na conquista do titulo estadual.
Em 1942 o Sport seguiu para uma excursão ao sul e sudeste do Brasil, vencendo times de grande importância: Um deles em especial, o Clube de Regatas Vasco da Gama.
Naquele encontro, Ademir foi soberbo. Deu passes precisos para que seus companheiros anotassem dois gols, enquanto ele mesmo marcou por três vezes, selando assim o triunfo do Sport por 5×4.
Impressionados, os dirigentes vascaínos iniciaram o “namoro” para trazer o atacante para São Januário.
Assim, no final de 1942, Ademir foi negociado com o Vasco da Gama, assinando um contrato que lhe garantia 40 contos de Réis de luvas e 500 mil Réis de salário mensal.
Ademir não era um centroavante nato e nem um meia de armação de jogadas. Nasceu assim o primeiro “ponta de lança” do futebol brasileiro.
As arrancadas irresistíveis e sua incrível capacidade de conclusão logo o transformaram em ídolo da torcida.
Campeão carioca de 1945, trocou o Vasco pelo Fluminense no final da temporada, na chamada transferência da década.
Gentil Cardoso, treinador que marcou época, disse aos dirigentes do tricolor: “Dêem-me o Ademir que lhes darei o campeonato”.
Não deu outra. Ademir ajudou o Fluminense na conquista do campeonato carioca de 1946. Mas, sua permanência nas Laranjeiras durou pouco e no final do ano de 1947 Ademir regressou ao Vasco.
Com uma popularidade enorme, Ademir quase não podia andar sossegado pelas ruas.
Fazia propagandas de vários produtos e sua imagem era estampada em jornais e revistas publicadas em todo o Brasil.
O grande time do Vasco, conhecido como “Expresso da Vitória” conquistou o Sul Americano de Clubes de 1948 e em seguida o campeonato carioca de 1949, o último antes da era Maracanã.
Esse segundo período de Ademir Menezes no Vasco da Gama iniciou sua forte ligação com o impressionante estádio Mendes de Moraes (mais tarde denominado de Maracanã), que estava sendo construído para o mundial de 1950.
Convocado em inúmeras oportunidades para defender o selecionado carioca, seu espaço na Seleção Brasileira foi uma conseqüência natural de seu sucesso.
Campeão Sul-Americano de 1949, sua maior decepção ficou por conta da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, quando nossa Seleção era favorita e permitiu que o Uruguai perpetuasse o “Maracanazo”.
Falando sobre o mundial de 1950, Ademir foi o primeiro jogador a marcar um gol no estádio do Maracanã pela Seleção Brasileira.
O tento foi marcado no jogo de estréia da copa, quando o Brasil goleou o México por 4×0.
Durante a copa, Ademir esteve infernal. Na goleada contra os Suecos pelo placar de 7×1, o “Queixada” assinalou 4 tentos.
Na partida seguinte, contra os espanhóis, ele foi o maestro da torcida enlouquecida que cantou “Touradas de Madrid” com outra goleada retumbante de 6×1 e mais dois tentos de Ademir.
Artilheiro da competição com 9 gols, Ademir também ficou marcado pessoalmente com aquela derrota inesperada contra o Uruguai.
Conforme depoimento publicado no livro “Dossiê 50”, de Geneton Moraes Neto, editora Objetiva, páginas 123 até 128, Ademir descreve o quanto foi prejudicial para o grupo da seleção ficar concentrado em São Januário:
– Não se sabe quem deu essa ordem para mudar de concentração. O ambiente antes da partida final contra o Uruguai era conturbado e não se tinha sossego.
… Eram políticos tirando proveito, torcedores, jornalistas e aproveitadores de plantão. Naquela época, um fotógrafo pediu que nosso time tirasse uma foto para o lançamento da cerveja Antárctica “Faixa Azul”.
… Essa foto foi alterada e dentro da faixa escreveram “campeões mundiais”… Depois do jogo desapareci. Enchi o taque de gasolina e peguei a estrada Rio-São Paulo.
Com o uniforme branco da Seleção Brasileira, Ademir disputou 41 partidas e marcou 35 gols, conquistando também o campeonato Pan-Americano de 1952.
Ainda pelo cruzmaltino, Ademir conquistou os campeonatos estaduais de 1950 (o primeiro título da era Maracanã), 1952 e 1956, ano em que o artilheiro encerrou sua trajetória após uma coleção considerável de títulos.
Aos 32 anos Ademir sentiu pela primeira vez que a velocidade estava no fim.
O fôlego era o mesmo do antigo menino das peladas na praia do Pina, no Recife, mas o joelho inchava em cada partida disputada.
Operou o joelho e não era mais um jogador de noventa minutos. Foi adiando sua despedida até que o Vasco enfrentou o Corinthians, em amistoso realizado no estádio do Maracanã em 1956.
O técnico Martim Francisco o escalou no lugar de Pinga. Foi tão de repente, foi tão surpreendente que ele até agradeceu:
– Obrigado, seu Martim; é uma ótima oportunidade porque eu acho que vou abandonar o futebol hoje.
O encerramento da carreira é explicado por Ademir com uma simples frase: “Abandonei o futebol antes que ele me abandonasse”.
Ademir concorda que poderia ter jogado por mais algum tempo, mas outra séria contusão no pé antecipou sua parada definitiva. Ao todo, disputou 429 partidas e marcou 301 gols pelo Vasco.
Em 1957, Ademir voltou para Recife onde participou de um jogo de despedida atuando pelo Sport contra o Bahia. Posteriormente, trabalhou como treinador e como comentarista de jornal, rádio e TV.
Ademir faleceu no dia 11 de maio de 1996, no Rio de Janeiro (RJ), vítima de câncer na medula.
Em julho de 1999, o Sport mandou construir uma estátua de dois metros de altura em frente a sua sede para homenagear o ídolo.
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Teixeira Heizer, Hideki Takisawa e Mílton Costa Carvalho), revista Esporte Ilustrado, revista Vida do Crack, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Globo Sportivo, revista O Cruzeiro – encarte ídolos do futebol brasileiro, revistafootball.com.br, revista Grandes Clubes Brasileiros, memoriafutebol.com.br, fluminense.com.br, netvasco.com.br, kikedabola.blogspot.com.br, campeoesdofutebol.com.br, leodevezas.com, futurosport.com.br, sportrecife.com.br, sovascodagama.blogspot.com.br, Arquivo Público do Estado de São Paulo – Memória Pública – Jornal Última Hora, site do Milton Neves, museudosesportes.blogspot.com, Livro: Dossiê 50 – Geneton Moraes Neto – Editora Objetiva.
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