Diario Catarinense
Vestir a camisa de um grande time e subir ao gramado com outros craques é a realização de qualquer garoto que sonha em ser jogador de futebol. Mesmo na base de um clube, só os mais talentosos alcançam o trampolim até o grupo principal. Paciência e cuidado são a receita para evitar que uma aposta de futuro seja exposta antes do tempo e permaneça como eterna promessa. Mas como planejar o amanhã quando o próprio presente do clube ficou em dúvida da noite para o dia?
Em meio a tantas interrogações, uma certeza na Chapecoense é de que a reconstrução da equipe passa pela base. Ainda que o time possa contar com reforços emprestados por adversários nas futuras competições, a formação do elenco principal deverá ser reestruturada a partir da garotada do sub-20.
— É um processo que a gente vai ter que acelerar. Nosso projeto era ir encaixando dois, três meninos. É um processo lento, tem toda uma adaptação, mas acredito que será acelerado — avalia o supervisor das categorias de base da Chapecoense, Roberto Ferreira.
Hoje, a Chape tem cerca de 20 jovens atletas profissionalizados. Na prática, diz o supervisor, já bastaria para um recomeço dentro das quatro linhas. A direção das categorias de base, no entanto, considera aspectos emocionais e que vão além do campo de jogo.
- Se a gente precisasse treinar na semana que vem, seria possível. Mas, antes disso, temos outras questões para pensar. Precisamos reconstruir tudo - aponta Ferreira.
O técnico da equipe sub-20, Emerson Cris, chegou a assumir o time principal provisoriamente em junho, na saída de Guto Ferreira. Como não viajou para Medellín, Emerson é um dos remanescentes mais abalados pela tragédia.
Se dependesse dos atletas, a equipe sub-20 da Chapecoense entraria em campo já na próxima segunda-feira, em disputa pela Taça Piratini, voltada a equipes juvenis no Rio Grande do Sul.
Jovens se colocam à disposição para jogar
Em uma reunião com a direção na manhã desta quarta, o grupo de garotos manifestou vontade de participar. A presença do clube, por enquanto, ainda é discutida pela direção e toda participação em competições segue suspensa.
Ouvidos pela reportagem do DC, atletas do sub-20 da Chapecoense se mostraram dispostos a reerguer o clube.
— Agora somos o grupo da Chapecoense. O sub-20 é a categoria mais acima antes do profissional. É complicado dizer "estou preparado para jogar". Mas, se tiver que jogar, vamos jogar. Esse clube não pode acabar, de uma forma ou de outra a gente tem que se reerguer — anunciou Guilherme Puerari, 17 anos, volante.
Fã do lateral Gimenez, o lateral-direito Mathias Firmino, de 19 anos, reforça a vontade de protagonizar o futuro do clube.
— Querendo ou não, o futuro da Chapecoense somos nós. É isso o que a diretoria está tentando nos passar nesse momento. Temos que levantar a cabeça e seguir em frente — destacou.
O momento, reconhece o lateral-esquerdo Bruno Bortolini, de 18 anos, ainda é de angústia. Mas a vontade de jogar já na segunda-feira, diz ele, ganha força no grupo.
— É um clima de dúvida. A cabeça fica um pouco pesada, mas está boa sim — diz.
Tragédia da Chape expõe via-crúcis de times em viajar pela América do Su
A investigação em torno do acidente do avião da Chapecoense indica a precariedade da empresa aérea Lamia, fretada para fazer o voo da Bolívia até a Colômbia. A opção pela companhia é explicada pelas condições difíceis dos times nacionais em viajar pelo continente. Conexões longas e complicadas, regras de restrição ou preços altos são rotina para os clubes brasileiros na disputa da Libertadores e Sul-Americana.
O blog apurou nos últimos dias com dirigentes de times que relatam os empecilhos que enfrentam a cada etapa que avançam nos campeonatos. Tanto que há empresas que foram criadas só para tentar auxiliar os times a realizar as viagens. Vamos conta-los em seguida:
Conexões ruins para certos países
Quando os times brasileiros têm que ir para países mais ao Norte da América do Sul, as conexões muitas vezes são feitas no Panamá. Ou seja, um time do Sul, por exemplo, teria de pegar um voo para São Paulo, depois para o Panamá e depois de volta para a Colômbia ou Venezuela. Isso implicaria em um dia de viagem para uma distância de cerca de seis horas.
Falta de companhias de fretamento no país infla preço
São poucas companhias com aviões de tamanho médio com 100 lugares como a Lamia. Para fretar aviões no país para voos ao exterior, os dirigentes costumam ter de fretar um avião da Gol ou da Tam. Como têm que tirar um aeronave de linha, cobram valores bem mais altos. Há estimativas entre US$ 150 mil e US$ 200 mil. Dentro do Brasil, para distâncias similares, é possível fretar por valores a partir de R$ 100 mil.
Regras restritivas de aluguel de aeronaves
A Anac proíbe que sejam fretados aviões que não sejam do Brasil ou do destino final. É uma regra comercial comum que se pratica em outros países. Com isso, os clubes ficam restritos ao uso de aviões dos caros aviões do Brasil ou aos do outro país.
Condições climáticas na linha do Equador
Os voos para os países do Sul do continente são tidos como tranquilos por dirigentes. Mas, nas proximidades da linha do Equador, são comuns os relatos de turbulências, além de aeroportos problemáticos. A maioria que viaja muito já passou por uma situação difícil ou outra.
Estratégia
Para escapar de todos esses empecilhos, os grandes clubes têm duas táticas. O bloqueio de passagens aéreas com bastante antecedência para garantir, e aceitar o pagamento de valores mais altos para fretar os aviões brasileiros.
autor ; Rodrigo Mattos
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