sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Dor. Solidariedade. Dignidade... É doloroso, mas o Campeonato precisa ter um final

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autor ;   Emerson Gonçalves

Dias terríveis...
Segurar as lágrimas foi impossível muitas vezes.
Ainda é...

Depois do choque, a dor.
Durante a dor, sem que ela fosse embora, outros sentimentos começaram a nascer e tomar conta de todos nós: um verdadeiro encantamento com a solidariedade do povo de Medellin e de toda a Colômbia para com as vítimas da tragédia e para com a Chapecoense.
A Chapecoense somos nós.
Força Chapecoense!
O Atlético Nacional, de maneira quase imediata, tomou uma decisão que só posso chamar de digna: pediu à CONMEBOL para reconhecer a Chape como a Campeã da Copa Sul-Americana de 2016.
E o mundo abraçou Chapecó e a Chapecoense.
Os grandes times da Europa, a NBA, os clubes brasileiros e muitos, muitos clubes sul-americanos também abraçaram a Chape. Seu escudo decorou camisas como a do Racing. Ontem, o River Plate, vencedor da disputa do ano passado, jogou de preto com o escudo ACF no peito, venceu e foi para a final da Copa Argentina.  E o paraguaio Libertad ofereceu todo o seu time para a Chape poder jogar.
Uma solidariedade imensa, mas não só de clubes...

De repente, expontaneamente, as pessoas começaram a acessar o site do clube e se associar. Em dois dias, apenas, milhares de inscrições para os programas de sócio-torcedor da Chapecoense foram feitas. Uma solidariedade tão linda quanto prática e necessária para o clube.

Em meio a tanta tristeza, foi bonito.
Juntamente com os jogadores, dirigentes e convidados, também perdemos 21 jornalistas no acidente, pessoas que estavam em nossas vidas através da televisão, rádio, jornais, sites...
Simplesmente, não tenho palavras para conseguir exprimir tudo que senti nesses dias. Estou certo que todos sentiram o mesmo. Falávamos, escrevíamos, mas não conseguíamos transmitir o que sentíamos.
As lágrimas, porém, fizeram isso por nós.

Um pouco de meu sentimento exprimi em duas frases que postei numa rede social:
Os pessimistas que me desculpem, mas a Humanidade tem futuro, sim.
O povo colombiano está provando isso.


A dura e triste realidade do retorno ao dia a dia

A CBF agiu com total correção e sensibilidade ao suspender os jogos previstos para o meio dessa semana e esse final de semana. Infelizmente, porém, e por mais triste e doloroso que seja, o Campeonato Brasileiro da Série A de 2016 precisa chegar ao final.
Caso os elencos decidam não jogar e consigam levar isso a cabo, como mostra a matéria do portal GloboEsporte (aqui), teremos uma situação de caos pronta a ser  instalada, já que, muito provavelmente, um ou dois ou três ou mesmo os quatro clubes rebaixados irão reclamar judicialmente.
Isso acontecendo, toda a organização duramente conquistada pelo futebol brasileiro depois de 2003 será perdida.
O efeito de tal medida, mais uma vez muito provavelmente, será contrário ao pretendido pelos jogadores: “passar uma mensagem de solidariedade aos 19 atletas mortos na Colômbia”, como destaca a matéria linkada acima logo em seu início.
Porque, infelizmente, estará aberto o caminho para contestações, para ações judiciais, para, mais uma vez, voltarmos a ter “virada de mesa” no futebol brasileiro, que é, justamente, o oposto de tudo que a Chapecoense conseguiu.


Chapecoense, o clube de gestão exemplar

A grande diferença da Chape em relação à maioria, quase totalidade, dos clubes brasileiro, era, é e, eu acredito, continuará sendo sua gestão. 
Uma gestão diferenciada em relação ao cenário habitual, principalmente por se tratar de um clube pequeno no que diz respeito à sua receita e ao tamanho de sua torcida, e que em poucos anos conduziu seu time a uma linda sequência de conquistas:

2009 - disputando a Série D do Campeonato Brasileiro, conquistou sua subida para a Série C, ao ficar em 3º lugar na classificação final.
2012 - subiu mais um degrau e foi para a Série B, ficando na 3ª colocação geral.
2013 - mais uma conquista e a subida para a Série A: o time foi Vice-Campeão Brasileiro da Série B, ficando atrás apenas do Palmeiras.
2014 - o torcedor brasileiro começou a se familiarizar com a Chapecoense e com sua casa, a Arena Condá; para surpresa de muitos, o time novato da cidade de Chapecó manteve-se na 1ª divisão e terminou o campeonato na 15ª colocação, três pontos acima do 16º colocado, o mesmo Palmeiras do ano anterior e hoje campeão, e 5 confortáveis pontos à frente do primeiro rebaixado para a Série B, o Vitória.
2015 - e a Chapecoense já começou a virar Chape, carinhosamente; o time manteve-se firme na 1ª divisão do futebol brasileiro, terminando o campeonato na 14ª colocação; o ano, porém, não se resumiu a isso: em sua primeira copa continental, a Chapecoense  chegou às quartas-de-finais da competição e foi eliminada, num significativo placar agregado de 3x4, pelo tradicional e copeiro River.

2016... O ano que seria perfeito...
Nesse momento, a Associação Chapecoense de Futebol é a 9ª colocada no Campeonato Brasileiro da Série A.
E é, também, a Campeã da Copa Sul-Americana de 2016.


Terminar o Campeonato Brasileiro será uma forma de homenagear não só a Chapecoense, mas também o trabalho de seus dirigentes.
Esse ano deve entrar para a História de nosso futebol pela beleza da conquista da Chape, o belíssimo campeonato do Palmeiras e o bonito retorno da Seleção Brasileira.
Nenhuma virada de mesa, nenhuma ação judicial pode empanar a trajetória e a conquista da Associação Chapecoense de Futebol.


 Post scriptum
Até para responder a leitores que postaram comentários e e-mails: o jogo Chapecoense x Atlético Mineiro tem valor real apenas para um ou outro somar pontos e gols pensando nos índices históricos.
A Chape, infelizmente, não tem time, não tem atletas em número suficiente para reunir e enfrentar o Galo. Mesmo que tivesse, tal jogo, nessas circunstâncias, inclusive pelo que ele vale, seria muito injusto com os jogadores dos dois times, em primeiro lugar, e com os torcedores também.
Destaco a nobreza e dignidade do gesto do Clube Atlético Mineiro em dizer que não vai a campo. Parabéns, Galo!
Destaco a pobreza da decisão do presidente da confederação, que não pôs os pés em Medellin, e ficou a exigir a realização desse jogo.
Por último, mas não menos importante:
Obrigado, Ministro José Serra. Você me representou no Atanazio Girardot e, acredito, representou a todos os brasileiros de forma muito digna e emocionante.

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