Ano que deveria servir para reestruturar o clube passa em branco e não tem impacto esperado na história carijó. GloboEsporte.com elenca causas do rebaixamento
Ninguém disse que 2016 seria um ano fácil para o Tupi-MG. Aliás, há muito tempo a palavra facilidade passa longe de Santa Terezinha. Porém, depois da promoção à Série B do Campeonato Brasileiro, em outubro de 2015, muita gente acreditou no discurso de que o acesso seria a chave para a mudança, a reestruturação e a afirmação alvinegra no cenário do futebol nacional. Nada disso aconteceu. Pouco mais de um ano depois de chegar à Série B, o Tupi-MG se despede da competição com as mãos vazias e sem ter o que comemorar, nem dentro, nem fora de campo.
O rebaixamento para a terceira divisão nacional, decretado nesse sábado, foi se desenhando com uma sucessão de acontecimentos, que surgiram por culpa ou pela incapacidade do clube em evitá-los. O GloboEsporte.com tentou elencar as razões para explicar a derrocada carijó. No "jogo dos sete erros" do Tupi-MG, a palavra "planejamento" foi retirada do tabuleiro, e a brincadeira não acabou bem, nem para o clube, nem para os torcedores alvinegros.
1 - CINCO TREINADORES EM UMA TEMPORADA
Daí em diante, nomes de grife vieram, mas não conseguiram implantar a filosofia de trabalho em Santa Terezinha. Afinal, nem tanto tempo para isso eles tiveram. Ricardo Drubscky, campeão da Série D do Brasileiro em 2011, salvou a equipe da queda no Campeonato Mineiro, mas só teve sete jogos da Série B até ser sacado do comando técnico. Estevam Soares o substituiu, comandou a equipe durante um turno inteiro, fez o time jogar bem e foi quem mais se aproximou de tirar a equipe do Z-4. Por divergências internas, acabou demitido, dando lugar a Ricardinho, que teve nove jogos pela frente. Por não concordar com a maneira como o elenco vinha se portando em treinos e jogos, o treinador pediu o boné e deu lugar ao auxiliar permanente, Júlio Cirico.O Tupi-MG demorou duas semanas para rasgar as primeiras páginas de seu planejamento para 2016. Após encerrar sua participação na Série C, sendo eliminado pelo Londrina, em novembro de 2015, o clube não renovou com Leston Júnior e passou a procurar o homem que seria o responsável pela montagem do elenco. Não demorou muito, e Júnior Lopes foi anunciado. Um mês e meio depois e com apenas dois jogos no comando carijó, o treinador já estava demitido e toda a pré-temporada feita em Juiz de Fora não valeu muita coisa.
Com tantos nomes e trocas no comando, nenhuma filosofia de trabalho foi assimilada e as contratações pedidas por um treinador não foram tão bem aproveitadas assim pelo seguinte. Sem contar que, até o técnico que acabara de assumir conhecer o elenco e conseguir resultados, pontos já haviam sido deixados pelo caminho, comprometendo a campanha na Segundona.
2 - GESTÃO DO FUTEBOL: MUDANÇA E GUERRA POLÍTICA
Durante 2016, o Tupi-MG teve dois homens responsáveis por gerir o futebol. Todo o planejamento e montagem do elenco para a temporada foram feitos por Cloves Santos, que montou a equipe que conseguiu o acesso em 2015. Porém, desde os últimos meses do último ano, a relação entre ele e a presidente Myriam Fortuna e seus pares não era das melhores, fato que culminou na saída do dirigente antes mesmo do término do Campeonato Mineiro. Daí em diante Cloves deixou de ser diretor de futebol e passou a fazer oposição a Myriam Fortuna. As eleições estavam programadas para este ano, mas em razão de um imbróglio jurídico, o pleito ainda não ocorreu.
No meio do caos, com o time precisando se livrar do rebaixamento no Estadual e com a missão de remodelar o elenco para a Série B, com novas contratações pedidas por Ricardo Drubscky, Gustavo Mendes chegou a Juiz de Fora, precisou conhecer o clube, as dificuldades orçamentárias e a mentalidade da diretoria. De imediato, o gerente de futebol e a cúpula carijó, de uma maneira geral, passaram a trabalhar em cima dos contratos de atletas que não estavam nos planos e tinham compromissos mais longos. Isso gerou custo para o clube, fosse na rescisão (caso do meia William Kozlowski), ou no pagamento de parte do salário em caso de empréstimo (situação específica do lateral-direito Osmar, que tinha boa relação com Cloves Santos, foi emprestado ao Volta Redonda e teve entre 60% e 70% dos vencimentos pagos pelo Galo Carijó).
Após arrumar a casa, Mendes e o clube tiveram dificuldades para repor as saídas de atletas importantes, de jogadores como o zagueiro Heitor e o volante Rafael Jataí. O clube se virou com o que tinha nos cofres, trouxe os experientes Gabriel Santos e Renan, mas não teve condições de trazer reforços de peso para a disputa da competição.
Na base da criatividade, alguns atletas, como o meia Octávio, em baixa no Botafogo, vieram por empréstimo. Outros jogadores, como o volante Fahel, ex-Botafogo e Bahia, o meia Mancini, ex-Atlético-MG e Inter de Milão (ITA), e o meia Edno, ex-Botafogo e Portuguesa, chegaram a ser oferecidos ao clube, que não tinha condições de bancar os salários dos atletas e escolheu ir por outros caminhos na montagem do elenco.
3 - LESÕES: PREJUÍZO TÉCNICO E FINANCEIRO
Sidimar se lesionou em abril (Foto: Bruno Ribeiro)
Um time que disputa uma competição de regularidade precisa estar preparado para eventualidades, como lesões. Porém, o Tupi-MG não conseguiu repor as saídas de determinados jogadores por questões médicas. Em abril, o Galo perdeu o zagueiro Sidimar, que foi um dos destaques do Alvinegro na Série C de 2015. O jogador, que escolheu vir para o Tupi-MG no início do ano em vez de assinar um contrato de dois anos com o Atlético-MG, sofreu uma lesão no joelho e não voltou mais a jogar em 2016.
Outro atleta que era titular e se machucou foi Filippe Formiga. O lateral-direito sofreu uma fratura na perna direita na derrota para o Londrina, no dia 4 de junho, no Estádio do Café. O atleta também não atuou na sequência da temporada. Mais um que abandonou os campos em 2016 foi o zagueiro Hélder, também uma ruptura de ligamentos do joelho direito. O Tupi-MG precisou arcar com os direitos de imagem dos jogadores, sem poder utilizá-los no restante da segunda divisão.
4 - ORÇAMENTO
Alguns torcedores do Tupi-MG acreditaram na ilusão de que os mais de R$ 5 milhões da cota de televisão seriam suficientes para montar um elenco cascudo, capaz de seguir na segunda divisão nacional. No entanto, a captação de parceiros seria ação fundamental para conseguir custear a formação do grupo para 2016. O momento financeiro do país não ajudou e, além de não captar grandes patrocinadores, o Carijó conseguiu perder o principal parceiro privado.
A MRS Logística tinha uma parceria de quase dez anos com o time de Juiz de Fora. Mesmo tendo reduzido seu aporte financeiro nos últimos anos para o Galo, a verba para custear as despesas do futebol era bem-vinda em Santa Terezinha. Após o fim do contrato, no início do ano, o time demorou a conseguir um substituto para o espaço nobre na camisa. O Plasc, empresa de planos de saúde, acertou contrato de um ano com o Carijó, a partir de julho. O elenco, no entanto, já estava montado, e o Tupi-MG teve dificuldades para ir ao mercado e trazer jogadores de qualidade para reforçar o grupo.
5 - CADÊ O MARKETING?
Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? A analogia não é das melhores, mas serve para discutir as razões dos baixos públicos do Tupi-MG na temporada 2016. Será que o público não abraçou o Galo na Série B ou o Alvinegro não fez com que o público sentisse vontade de ir ao Mário Helênio? A questão é que, do ponto de vista do marketing, as ações para atrair os torcedores ao estádio não tiveram êxito.
Algumas promoções pontuais, como gratuidade para mulheres, vestidas com a camisa do Tupi-MG ou não, foram tentadas, assim como promoções de chute a gol do meio-campo valendo brindes. Porém, nenhuma intervenção como chamadas na TV aberta, redução do preço de ingressos e outras tentativas para aproximar o público do Carijó foi colocada em prática.
Segundo levantamento feito pelo GloboEsporte.com, o Tupi-MG tem a 18ª colocação na média de ocupação de estádios, com 1.290 torcedores por partida. A mostra disso aparece no ranking de públicos da competição nacional. Dos cinco jogos que tiveram menos público na Série B, quatro deles tiveram o Tupi-MG como mandante.
Além disso, o Galo é o quinto que menos arrecadou na competição, com pouco mais de R$ 595 mil de renda bruta. E olha que o preço médio do ingresso do clube foi um dos mais caros da Série B, custando R$ 25. Só os bilhetes para jogos do Vasco, que tinham valor médio de R$ 34, eram superiores.
6 - DEMISSÃO DE ESTEVAM SOARES
O único momento em que o Tupi-MG deu mostras de que poderia ter uma reviravolta na temporada 2016 foi sob a batuta de Estevam Soares. O desempenho dele à frente do Galo não foi algo impressionante. Foram cinco vitórias, sete empates e sete derrotas em 19 jogos. Porém, o time vinha de resultados e atuações razoáveis, que permitiriam uma possibilidade de reação.
No início do returno, o time havia perdido para o Goiás, empatado com o Vasco e vencido o Paysandu, fora de casa. Depois veio a ducha de água fria, com a derrota para o Bragantino, e dois empates, diante dos também ameaçados Joinville e Oeste. A partida contra o time de Itápolis, em Osasco, foi a última de Estevam. Mas não foi só a questão técnica e de resultados que derrubou o treinador.
O GloboEsporte.com apurou que um mal-estar surgiu após o jogo diante do Rubrão. Vinícius Kiss vinha de um problema na coxa direita. Antes da partida, o médico e vice-presidente de futebol José Roberto Maranhas teria orientado Estevam a não escalar o jogador, pelo risco de agravar a lesão. Porém, Estevam escalou o meio-campista, que se colocou à disposição do treinador para atuar. Kiss durou oito minutos em campo, não aguentou as dores e foi substituído. Dois dias depois, a diretoria demitiu o comandante.
Os porquês da decisão de demitir Estevam, no entanto, não são o assunto principal. O debate está na nova mudança no comando técnico, restando apenas 12 rodadas para o fim da Série B do Brasileirão. O time, que dava sinais de que poderia escapar da degola com Estevam, não engrenou com Ricardinho, e acabou sendo rebaixado para a Série C.
7 - NENHUMA VITÓRIA EM CONFRONTOS DIRETOS
O entorno contribuiu para que o Tupi-MG não tivesse êxito na principal competição que disputou em sua história. Porém, é inegável que o campo teve parcela considerável. Além da péssima campanha até aqui, em que o clube não conseguiu vencer dois jogos seguidos e conquistou apenas uma vitória fora de casa, diante do Paysandu, o Galo não bateu nenhum de seus adversários diretos na briga contra o rebaixamento. O Alvinegro perdeu as duas partidas para o Bragantino, e empatou um jogo e perdeu o outro para Sampaio Corrêa, Oeste e Joinville.
globo.com
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