terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ESQUADRÃO IMORTAL – REAL MADRID 1998-2003

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Grandes feitos: Bicampeão Mundial Interclubes (1998 e 2002), Tricampeão da Liga dos Campeões da UEFA (1997-1998, 1999-2000 e 2001-2002), Campeão da Supercopa da UEFA (2002), Bicampeão Espanhol (2000-2001 e 2002-2003) e Bicampeão da Supercopa da Espanha (2001 e 2003).
Time-base: Casillas (Illgner); Panucci (Michel Salgado), Sanchís (Helguera), Hierro e Roberto Carlos; Redondo (Makélélé / Solari), Karembeu (McManaman / Zidane) e Seedorf (Figo); Raúl (Guti); Morientes (Sávio / Ronaldo) e Mijatovic (Anelka / Suker). Técnicos: Jupp Heynches (1998-1999) e Vicente del Bosque (1999-2003).

“Bem vindo de volta, Vossa Majestade Real Madrid…”
Uma vez rei, sempre rei, mesmo que para retomar o trono perdido se espere 32 anos. Esta frase se aplica muito bem ao Real Madrid CF, cuja torcida ficou mal acostumada na segunda metade da década de 50 com o pentacampeonato europeu conquistado pelo esquadrão comandado por Di Stéfano. O time viveu um curto hiato e voltou a celebrar em 1966, mas, depois disso, o clube amargou um jejum inacreditável de mais de três décadas, que geravam até a dúvida se o time voltaria a levantar uma taça da Liga dos Campeões novamente. O consolo na década de 80 foi o bicampeonato da Copa da UEFA, mas nem isso reanimou a torcida, que via os rivais chegarem cada vez mais perto do hexa madrileno, em especial o Milan. Mas, na temporada 1997-1998, tudo mudou. A mística brancaleone do clube que, tempo depois, seria escolhido pela FIFA como o melhor time do século XX, voltou. Com craques de puro talento comoHierro, Roberto Carlos, Redondo, Seedorf, Morientes, Mijatovic e um jovem e endiabrado Raúl, o Real fez a festa ao conquistar a sétima Liga de sua história, derrotando a poderosíssima Juventus de Zidane e Del Piero na final. O caneco serviu como pontapé inicial para um dos períodos mais vertiginosos da história do clube, que passou a ser mais querido e visto em todo mundo, explodindo suas receitas de marketing com a contratação de grandes nomes do futebol nos anos seguintes, como Zidane, Figo, Makélélé e Ronaldo. Eram os “Galácticos”, como ficou conhecido o esquadrão montado para dar show e comandado pelo sisudo Vicente del Bosque. Mais duas Ligas dos Campeões vieram em 2000 e 2002, e o Real alcançou a incrível marca de nove taças europeias, recorde mundial em competições continentais. É hora de relembrar as façanhas do time que polarizou a mídia (e o futebol) na virada do século.
Chega de ser coadjuvante
Em 1997, quando se falava em futebol espanhol, se falava em Barcelona. E em Ronaldo. O clube catalão era a sensação do país com várias conquistas recentes, seja em âmbito nacional, seja internacional, com a taça da Recopa da UEFA de 1996-1997. O clube contava com grandes nomes no elenco como Vitor Baía, Ferrer, Guardiola, de la Peña, Luis Enrique, Reiziger, Figo, Nadal, Amor e os brasileiros Giovanni, Rivaldo e Ronaldo, este que se transferiu para a Internazionale no mesmo ano de 1997. Já o Real tentava voltar desesperadamente aos tempos áureos, e focava em um ponto para o sucesso: boas contratações. O time, na época presidido por Lorenzo Sanz, decidiu contratar grandes e pontuais nomes como Roberto Carlos (ex-Palmeiras e Internazionale), Mijatovic, Suker e Seedorf (estrela do Ajax campeão europeu de 1995). Ao lado dos craques já presentes no clube como Illgner, Hierro, Redondo e um jovem atacante Raúl, o Real Madrid estava forte de novo. E a primeira mostra disso foi a conquista do Campeonato Espanhol de 1996-1997, dois pontos a frente do Barcelona, que teve o melhor ataque da competição com 102 gols, 17 a mais que o próprio campeão, Real. A taça deu ao time merengue a chance de disputar a Liga dos Campeões de 1997-1998. E tentar voltar ao topo do continente.
Missão Europa
Comandado pelo alemão Jupp Heynches, o Real Madrid fez da temporada 1997-1998 derradeira para a conquista da Liga dos Campeões da UEFA. O torneio era cada vez mais disputado e todo ano um clube diferente levantava o troféu, passando longe das hegemonias comuns em décadas passadas. De 1991 até 1997 foram sete campeões diferentes (Estrela Vermelha, Barcelona, Olympique de Marselha, Milan, Ajax, Juventus e Borussia Dortmund), fator que estimulava os espanhóis. Afinal, se todos eles já haviam sido campeões, porque não a nossa vez?
O Real Madrid caiu em um grupo relativamente fácil, o D, ao lado de Rosenborg (NOR), Olympiacos (GRE) e Porto (POR). A equipe estreou com goleada, 4 a 1, sobre o Rosenborg, com gols de Panucci, Zé Roberto, Raúl e Morientes. Na sequência, vitória por 2 a 0 (gols de Hierro e Raúl) sobre o Porto, em Portugal; 5 a 1 no Olympiacos (dois gols de Suker, um de Morientes, um de Victor e um de Roberto Carlos) em Madrid; empate sem gols com os gregos, na Grécia; derrota por 2 a 0 para o Rosenborg na Noruega e vitória por 4 a 0 em casa contra o Porto, gols de Hierro, Suker (2) e Roberto Carlos. O time se classificou para o mata-mata com quatro vitórias, um empate e uma derrota.
Exterminador de alemães
Nas quartas de final, o time encarou o Bayer Leverkusen, da Alemanha. No primeiro jogo, fora de casa, o Real saiu atrás, mas arrancou um empate com Karembeu, em 1 a 1. Na volta, o mesmo Karembeu fez mais um, Morientes e Hierro ampliaram, e o Real goleou por 3 a 0. Nas semifinais, novo adversário alemão, dessa vez o então campeão europeu e mundial, Borussia Dortmund. No primeiro jogo, em Madrid, Morientes e Karembeu deram a vitória por 2 a 0 ao time espanhol. Na volta, o time segurou a pressão e empatou em 0 a 0, garantindo a vaga em uma final de Liga dos Campeões depois de 17 anos.

Duelo de titãs
A moderníssima Amsterdã Arena, na Holanda, foi o palco da grande final da Liga dos Campeões da UEFA de 1997-1998 entre o Real Madrid de Panucci, Hierro, Roberto Carlos, Redondo, Karembeu, Seedorf e Raúl, e a Juventus de Peruzzi, Montero, Iuliano, Di Livio, Deschamps, Davids, Zidane e Del Piero. Os italianos chegavam pela terceira vez seguida na final da Liga e tentavam conquistar a taça perdida na temporada anterior. Já o Real tinha a grande chance de levantar uma taça que ele, por incrível que pareça, não estava mais acostumado a levantar.
O jogo foi equilibrado e extremamente disputado, com equipes fortes no meio de campo e no ataque. Depois de um primeiro tempo sem gols, aos 67´da segunda etapa, Mijatovic aproveitou a sobra de um chute de Roberto Carlos, driblou o goleiro italiano e chutou para o gol vazio: Real Madrid 1×0 Juventus. Festa na torcida merengue! O gol, em um jogo tão disputado e difícil, era o que a equipe precisava para colocar a mão na taça. E foi o que aconteceu. O time segurou o placar e levantou, pela sétima vez e depois de 32 anos, a Liga dos Campeões da UEFA. Era o título para lavar a alma da torcida e de todos os amantes do esquadrão brancaleone. O topo da Europa pertencia, de novo, ao Madrid.

Topo do mundo
Sem dar bola para os torneios nacionais, que ficaram com o Barcelona, o Real Madrid disputaria ainda naquele ano de 1998 a Supercopa da UEFA e o Mundial Interclubes. Na primeira final, derrota por 1 a 0 para o Chelsea, campeão da Recopa da UEFA. Na segunda, o time espanhol contou com o mais puro talento de Raúl para fazer bonito em solo japonês. A equipe enfrentou o Vasco, campeão da Libertadores daquele ano. O primeiro gol do jogo foi contra, do volante Nasa, que cortou com a cabeça para dentro do gol de Carlos Germano um chute de Roberto Carlos, no primeiro tempo. Na segunda etapa, Juninho, num golaço, empatou o jogo para o Vasco. Faltando apenas 7 minutos para o fim do jogo e início da prorrogação, uma obra prima: Seedorf lançou Raúl, que driblou dois zagueiros do Vasco e marcou um dos gols mais bonitos da história do Real Madrid: 2 a 1 para os espanhóis. O Real era bicampeão mundial e encerrava o ano com chave de ouro.
Temporada de decepções
Na temporada seguinte, o Real Madrid pecou na inconsistência e na troca de treinador no meio da temporada e ficou em jejum de títulos. No Campeonato Espanhol, novo caneco para o Barcelona, que ficou 11 pontos a frente dos madrilenos. Na Copa do Rei, o time de Madrid foi eliminado pelo Valencia de maneira vexatória, ao levar de 6 a 0 no primeiro jogo da semifinal, no Mestalla, e vencer por apenas 2 a 1 na volta, em Madrid. Na Liga dos Campeões, a equipe chegou apenas nas quartas de final, onde perdeu para o surpreendente Dynamo Kyiv (UCR), do astro em ascensão Shevchenko. A equipe ainda disputou, no começo de 2000, o confuso Mundial de Clubes da FIFA, no Brasil, mas nem sequer chegou a final, vencida pelo Corinthians (BRA). Com fracassos, o time precisava se reerguer para não decepcionar na próxima temporada. E foi o que aconteceu. Nas eleições presidenciais, Florentino Pérez assumiu o time para instaurar uma nova era no clube: a era dos Galácticos.
Comprar é o que há
Com novo presidente, o Real Madrid definiu a política de “grandes estrelas formam grandes esquadrões” e começou a almejar apenas nomes consagrados do futebol mundial. O primeiro a desembarcar no time foi o português Luis Figo, que deixou o Barcelona por 38,7 milhões de libras em 2000. O time já tinha, também, técnico novo: Vicente del Bosque, com seu jeito calado e sisudo de sempre, mas muito talentoso. Com um elenco formidável em mãos, e grandes jogadores para todas as posições, o treinador sabia que a diretoria não admitia outro resultado senão uma conquista de peso. E a Liga dos Campeões era a oportunidade ideal para isso.
Olhos para a Europa
Mais uma vez, o Real Madrid fez pouco caso do Campeonato Espanhol (ficou na quinta posição) e focou na Liga dos Campeões na temporada 1999-2000. Mais uma vez, o Real teve em seu grupo Olympiacos (GRE), Porto (POR), e um clube da Noruega, mas o Molde. Lembra algo? Sim, quase os mesmos adversários da campanha do título de 1997-1998. Era um bom presságio… O time estreou com um empate em 3 a 3 com o Olympiacos, na Grécia, com os gols espanhóis marcados por Sávio, Roberto Carlos e Raúl. Em seguida, goleada por 4 a 1 sobre o Molde, em Madrid, com gols de Morientes, Sávio (2) e Guti; 3 a 1 no Porto, em casa, com gols de Morientes, Helguera e Hierro; derrota por 2 a 1 para os portugueses, em Portugal, com o gol do Real marcado por Emílio Peixe (contra); vitória por 3 a 0 sobre o Olympiacos, na Espanha, com gols de Raúl, Morientes e Roberto Carlos e vitória por 1 a 0 sobre o Molde, na Noruega, gol de Karembeu.
Nas quartas de final, duelo eletrizante com o Manchester United, então campeão da Europa e do Mundo. No primeiro jogo, em Madrid, empate sem gols. A torcida temia pelo pior, pois o Real teria que derrotar o Manchester de Beckham, Giggs, Scholes e companhia em pleno Old Trafford. Mas quem teme algo quando se tem um Raúl endiabrado? O craque espanhol, ao lado do magnífico meio campista Redondo, foi o nome do jogo e marcou duas vezes para o Madrid na vitória por 3 a 2, que colocou o time espanhol na semifinal. Nela, a equipe eliminou o eterno carrasco Bayern München, com vitória por 2 a 0 em casa (gol contra de Jeremies e outro de Anelka), e derrota por 2 a 1 fora, mas o golzinho salvador de Anelka colocando a equipe em mais uma final europeia.
A vingança
Pela primeira vez na história da Liga dos Campeões da UEFA, dois clubes de um mesmo país se enfrentaram em uma final naquele ano de 2000, justamente na última Liga do século XX. O belíssimo Stade de France, em Saint-Denis, foi o palco mais do que apropriado para abrigar o duelo entre Real Madrid e Valencia, dois times fortíssimos e muito bem estruturados. De um lado, os madrilenos Casillas, Helguera, Roberto Carlos, McManaman, Redondo, Raúl, Morientes e Anelka. Do outro, os bravos valencianos Cañizares, Angloma, Pellegrino, Mendieta, Kily González e Claudio López. O Real tinha a chance de se vingar da dolorosa goleada da temporada anterior. O Valencia, a chance de manter a “freguesia” e levantar seu primeiro título da Liga. Mas, ao contrário dos prognósticos preliminares, o jogo foi de um time só. O Real Madrid simplesmente atropelou o Valencia e fez 3 a 0, gols de Morientes, McManaman e Raúl, este último um lindo gol, de contra-ataque. De maneira categórica e incontestável, o Real Madrid conquistava seu oitavo título europeu, encerrando o século XX da Liga dos Campeões como ele começou, lá em 1955-1956: campeão.

Derrota no Mundial e consagração secular
Depois da conquista da Europa, o Real voltou a decepcionar na Supercopa da UEFA, quando perdeu para o Galatasaray (TUR) de Taffarel, Jardel, Hagi, Popescu e Korkmaz por 2 a 1. Em dezembro, um momento ruim e um bom. O ruim foi a perda do título mundial para o Boca Juniors (ARG) de Palermo, Riquelme, Battaglia, Ibarra, Serna e Delgado (além do mago Carlos Bianchi no banco) com a derrota por 2 a 1. O bom foi a nomeação do clube como “O Clube do Século XX” pela FIFA, com 42,35% dos votos, deixando para trás Manchester United, Bayern München, Barcelona e Santos, respectivamente.

Novo galáctico
Na temporada 2001-2002, o Real Madrid voltou a ser o centro das atenções quando anunciou a contratação mais cara da história do futebol até então: o francês Zinedine Zidane, vindo da Juventus por 46 milhões de libras. O craque chegava para brilhar ao lado dos Galácticos e para dar de volta ao time um caneco que há tempos não se via pelas bandas de Madrid: o Campeonato Espanhol. E foi o que aconteceu. O time teve o melhor ataque da competição com 81 gols, Raúl foi o artilheiro do torneio com 24 gols, e os merengues tiveram uma das melhores defesas com 40 gols sofridos. A equipe foi campeã com sete pontos à frente do vice, o Deportivo La Coruña.
Na Liga dos Campeões, o time foi avançando, avançando, até encontrar o Bayern nas semifinais e ser eliminado com duas derrotas (1 a 0 em Madrid e 2 a 1 em Munique). Era preciso começar tudo de novo.
Ano sim, ano não, o Real é campeão
Com os títulos europeus de 1998 e 2000, a torcida do Real tinha a certeza de que 2002 seria o ano do “sim” na Liga dos Campeões, afinal, “ano sim, ano não, o esquadrão espanhol era campeão”. A expectativa era ainda maior porque em 2002 o clube completaria 100 anos de vida, ou seja, um centenário com um troféu continental não seria nada mal, não é mesmo?
A temporada 2001-2002 começou bem, com a conquista da Supercopa da Espanha em cima do Zaragoza, com empate em 1 a 1 na primeira partida e vitória por 3 a 0 na segunda, com três gols de Raúl. No Campeonato Espanhol, o time viu o Valencia ficar com a taça, mas na Liga dos Campeões, os comandados de Vicente del Bosque prepararam uma grande surpresa.
No Grupo A, o time estreou com vitória sobre a Roma de Totti, na Itália, por 2 a 1 (gols de Figo e Guti). No jogo seguinte, vitória por 4 a 0 sobre o Lokomotiv Moscow (RUS), com gols de Munitis, Figo, Roberto Carlos e Sávio. Em outra partida no Santiago Bernabéu, goleada por 4 a 1 sobre o Anderlecht (BEL), gols de Celades, Raúl (2) e Solari. No returno do grupo, vitória por 2 a 0 sobre o Anderlecht, fora de casa (gols de Roberto Carlos e McManaman), empate em casa em 1 a 1 com a Roma (gol de Figo) e derrota por 2 a 0 para o Lokomotiv, na Rússia
Na segunda fase de grupos, o time liderou novamente sua chave e ficou à frente de Panathinaikos (GRE), Sparta Praga (RCH) e Porto (POR). Classificado para as quartas de final, o time merengue encarou a pedra no sapato Bayern München, então campeão europeu e mundial (pela terceira vez, a semelhança com as conquistas anteriores). No primeiro jogo, em Munique, vitória alemã por 2 a 1. Na volta, vitória espanhola por 2 a 0, gols de Helguera e Guti. A vitória colocou o Real na semifinal para enfrentar o maior rival: o Barcelona.

Maravilhosa classificação
Encarar o maior rival em uma semifinal de Liga dos Campeões foi uma grande prova do poder de fogo daquele Real Madrid. O time merengue era levemente favorito, mas o Barça era perigoso, com nomes com Reiziger, Frank de Boer, Saviola, Cocu, Kluivert, Overmars, Luis Enrique e Thiago Motta. O primeiro jogo foi disputado no gigante Camp Nou, com mais de 98 mil pessoas. Depois de um primeiro tempo morno, o Real colocou as cartas na mesa e liquidou a fatura, com gols de Zidane e McManaman: 2 a 0. Na volta, em Madrid, empate em 1 a 1 que colocou o Real na final da Liga dos Campeões da UEFA pela 12ª vez na história, um recorde na competição.
A glória no centenário
Na final, contra os alemães do Bayer Leverkussen, da grande revelação Ballack, o Real Madrid mostrou estrela, sobriedade, entrosamento e muito talento. O mítico estádio Hampden Park, na Escócia, viu o time merengue abrir o placar com Raúl, aos 8´do primeiro tempo. Aos 13´, o brasileiro Lúcio empatou para o Bayer. Aos 45´, com o jogo em um ritmo alucinante, um dos maiores craques do planeta mostrou porque tinha tal condição: Zidane. O lateral Roberto Carlos avançou pela esquerda, cruzou para a área e Zidane, num dos lances mais mágicos, geniais e maravilhosos da história do futebol mundial, deu um voleio de perna esquerda de primeira que estufou as redes do goleiro Hans Butt: Real Madrid 2×1 Bayer. Golaço! O tento é considerado por muitos como o mais bonito da história da Liga dos Campeões, e é figurinha fácil em qualquer seleção de gols mais bonitos da história do futebol (o golaço está lá embaixo, na seção “Extras“).  O placar permaneceu assim até o final e o Real Madrid conseguiu a proeza de conquistar sua nona taça de Liga dos Campeões da UEFA em pleno ano do centenário. Era bom demais para ser verdade! O time merengue não tinha rivais, era extremamente eficiente com a bola nos pés e contava com o peso de sua centenária camisa para fazer história. E pensar que ainda teria muito mais pela frente…

Novo galáctico e a taça que faltava
Depois da conquista europeia, o Real voltou a fazer uma aquisição de peso: o atacante Ronaldo, estrela da Copa do Mundo de 2002, por 30 milhões de libras. Com ele e Raúl na frente, a torcida madrilena ria a toa. Para o ano ficar ainda melhor, o time conquistou, enfim, a Supercopa da UEFA, ao derrotar o Feyenoord (HOL) por 3 a 1, com gols de Paauwe (contra), Roberto Carlos e Guti. Mas ainda restava o último compromisso do ano: o Mundial Interclubes.
Mundo merengue
Com a base campeã da Europa, mais o reforço de Ronaldo e Cambiasso, o Real Madrid foi disputar o Mundial Interclubes, no Japão, contra o Olimpia (PAR). Os paraguaios sentiram a pressão de enfrentar os galácticos e não foram páreos para o esquadrão brancaleone, que venceu por 2 a 0, gols de Ronaldo e Guti. O jogo foi especial por um motivo: ambas as equipes comemoravam 100 anos exatamente em 2002. Pena que apenas uma teve o sabor de ser campeã mundial… O clube de Madrid encerrava um centenário praticamente perfeito, com as conquistas da Supercopa da Espanha, da Liga dos Campeões da UEFA, da Supercopa da UEFA e do Mundial Interclubes. Nunca um centenário foi tão saboroso…
O caneco derradeiro e o fim da magia
Na temporada 2002-2003 o Real voltou a levantar o Campeonato Espanhol. O time fez uma ótima temporada com 22 vitórias e apenas 4 derrotas em 38 jogos. Zidane brilhou como um dos grandes garçons do torneio, ajudando nos gols marcados por Ronaldo e Raúl. Ao lado de Figo e do mais novo galáctico, o inglês Beckham, o Real tinha ainda a esperança de vencer tudo novamente, mas o outro torneio que veio no ano foi apenas a Supercopa da Espanha. Na Liga dos Campeões, o time foi eliminado pela Juventus, que chegaria à final, perdendo para o Milan. Ali, começaria a guerra de egos no elenco merengue, a escassez de títulos e a crescente ascensão do Barcelona, que tomaria para si o protagonismo do futebol mundial nos anos seguintes. Com isso, chegava ao fim um dos períodos mais gloriosos da história do Real Madrid, em que ele renasceu para o futebol com a majestade e hegemonia que sempre lhe foram características, aliadas a jogadores de puro talento, técnica e futebol bonito de se ver. Do time campeão europeu de 1998 até os Galácticos de 2002, algumas peças mudaram, mas a base foi sempre a mesma: vencer, com estilo, classe e aura de rei. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Casillas: se tornou, em 2000, o goleiro mais jovem a disputar uma final de Liga dos Campeões da UEFA na história, com apenas 19 anos, mantendo a meta merengue intacta na vitória por 3 a 0 sobre o Valencia. Nascido no Real e identificado ao extremo com o clube, o goleiro foi um dos grandes nomes no período, substituindo muito bem o alemão Illgner. É capitão da equipe atualmente e um dos maiores goleiros do mundo.
Illgner: foi o goleiro do time nos grandes anos de 1997 e 1998, com muita segurança, reflexos apurados e frieza. Fez defesas cruciais na campanha do título da Liga dos Campeões de 1998 e na final do Mundial Interclubes do mesmo ano.
Panucci: lateral de muita força defensiva e de marcação, Panucci já havia brilhado no Milan campeão da Europa em 1994 antes de embarcar no Real Madrid. Trouxe segurança pelo lado direito e dava todo o apoio para o meio de campo da equipe brilhar. Saiu do time em 1999 para jogar na Internazionale.
Michel Salgado: é sempre lembrado pela falta de criatividade e por ser o “patinho feio” dos galácticos super campeões de 2000 e 2002. Não era nem sombra de Roberto Carlos, que voava na outra lateral, mas cumpriu seu papel no time com desarmes, raça e muita disposição. Jogou 10 anos no clube merengue e ganhou quase todos os títulos possíveis.
Sanchís: o zagueiro espanhol foi o capitão da tão sonhada “séptima”, como foi chamada pela torcida merengue a Liga dos Campeões de 1998. Ao lado de Hierro, compôs uma das mais sólidas defesas que o Real Madrid já teve, que aliava técnica, raça e disposição. Cria do clube, Sanchís jogou de 1983 até 2001 no time e se tornou um dos maiores vencedores da história com 22 títulos conquistados. Foram mais de 700 jogos com a camisa brancaleone.
Helguera: ótimo zagueiro central e muitas vezes líbero, Ivan Helguera compôs a zaga do time espanhol de 1999 até 2007, fazendo parte dos Galácticos e de importantes conquistas no período. Com presença física e boa antecipação, foi um dos destaques do setor no período.
Hierro: pura classe em campo, Fernando Hierro foi um dos maiores ídolos da história recente do Real Madrid, jogando no clube de 1989 até 2003. Conquistou 16 taças, jogou tanto como zagueiro quanto como volante e brilhou muito, também, com a camisa da seleção. Tinha muita qualidade no passe e era elemento surpresa no ataque, qualidade que o fez marcar mais de 100 gols pelo Real, tornando-o um dos maiores zagueiros-artilheiros do futebol mundial.
Roberto Carlos: o que dizer de Roberto Carlos, um dos maiores laterais-esquerdo da história do futebol mundial, mítico com a perna esquerda, impecável nos passes e lançamentos e com um vigor físico impressionante? O craque brasileiro foi um símbolo da faceta vitoriosa e imponente do Real Madrid por 11 anos, exemplo de lateral moderno, que atacava quando necessário e defendia quando preciso, tanto é que se tornou o segundo melhor jogador do mundo pela FIFA em 1997. Dos seus pés, saíram passes para gols históricos (como o de Zidane, na final da Liga dos Campeões de 2002), lançamentos maravilhosos e, claro, muitos gols. Ídolo eterno do Real Madrid.
Redondo: gigante argentino no meio de campo do Real, Fernando Redondo trazia classe, estilo e qualidade nos passes ao setor merengue. Foi ídolo e um dos mais cobiçados jogadores do planeta naquela segunda metade da década de 90. Foi essencial nas conquistas da Liga dos Campeões da UEFA de 1998 e 2000, esta última como capitão e com uma atuação de gala na partida contra o Manchester United, nas quartas de final. Brilhou, também, pela seleção argentina, mas jogando apenas a Copa de 1994, ficando ausente da de 1998 pelo fato de não cortar seus longos cabelos a pedido do sistemático técnico portenho à época, Daniel Passarella.
Makélélé: o “motorzinho” francês foi brilhante no Real de 2000 até 2003, contribuindo para a conquista da Liga de 2002. Fazia o papel de um falso líbero no sistema defensivo, deixando Figo e Solari mais abertos. Deixou a equipe em 2003 para brilhar, anos depois, no Chelsea de José Mourinho.
Solari: depois de um começo ruim no time espanhol, o meio campista encontrou seu melhor futebol na temporada 2001-2002, ajudando a equipe principalmente na Liga dos Campeões. Bom nos passes e também no apoio ao ataque, o argentino foi titular na decisão contra o Bayer.
Karembeu: com seus dreadlocks, Karembeu era a figura mais fácil de se notar em campo com a camisa do Real Madrid. Mas se notava, mais ainda, seu futebol. O francês foi decisivo para o título europeu do Real Madrid em 1998, marcando três importantes gols ao longo da campanha. Compôs um dos melhores meios de campo da história do Real, ao lado de Seedorf e Redondo. O único ponto negativo de sua passagem pelo clube foi o drible entre as pernas que levou do capetinha Edílson no Mundial de 2000, no empate em 2 a 2 com o Corinthians…
McManaman: inglês cheio de talento, McManaman trouxe muita qualidade ao meio de campo do Real em 1999, sendo fundamental para a conquista da Liga dos Campeões da UEFA de 2000, quando marcou um dos gols da final contra o Valencia. Tinha muita qualidade no passe e um ótimo chute. Foi um dos poucos ingleses a ter destaque em clubes de “fora da ilha”.
Zidane: melhor jogador do mundo por três vezes, Zidane desfilou seu talento com a camisa do Real por seis anos, marcando golaços, dando assistências e virando ídolo. Seu gol na final da Liga dos Campeões de 2002 é impagável, lindo e eterno, um dos mais bonitos da história do torneio (e do futebol mundial). Foi um dos Galácticos de Madrid ao lado de Figo, Ronaldo e Beckham.
Seedorf: único a vencer três Ligas dos Campeões da UEFA por três clubes diferentes, Clarence Seedorf começou já era estrela quando chegou ao Real Madrid, depois de ter brilhado com a camisa do Ajax. Com uma visão de jogo absurda e muita precisão nos passes e lançamentos, Seedorf foi crucial para os títulos europeu e mundial de 1998, dando o passe para o golaço de Raúl na decisão contra o Vasco, no Japão.
Figo: chegou com muita badalação ao time e teve a honra de ser o primeiro Galáctico contratado pelo presidente Florentino Pérez. Teve grandes momentos com a camisa merengue, mas não foi tão decisivo quanto havia sido no Barcelona. Entrou em conflito alguns anos depois com a diretoria e elenco e partiu para a Internazionale, em 2005.
Raúl: maior artilheiro da história do Real com 323 gols, jogador com maior número de jogos (741), um dos maiores artilheiros da história da Liga dos Campeões com 71 gols… Raúl é um craque imortal e ídolo incontestável no Real Madrid. Seus gols, dribles e jogadas o tornaram “Raúl Madrid”, fazendo o atacante sinônimo do sucesso da equipe por 16 anos. Foi essencial para o sucesso da equipe de 1998 até 2002 e decisivo quando o Real mais precisou dele, basta ver seus gols em retas finais de Ligas, em finais e na decisão do Mundial Interclubes de 1998, quando destroçou a defesa do Vasco.
Guti: rebelde e bad boy, ainda sim Guti foi um dos grandes nomes do Real de 1995 até 2010. Cria das categorias de base dos merengues, aliava boa técnica e raça no meio de campo. Comprometeu sua reputação justamente pela falta de bom senso e temperamento explosivo, que o levavam várias vezes ao banco de reservas.
Morientes: ao lado de Raúl, fez história com títulos, gols e tabelinhas mágicas. Muito oportunista, fez um trio de ataque poderoso na Liga de 1998, com o compatriota e com Mijatovic. Jogou de 1997 até 2005 e atuou nas três finais europeias vencidas pelo Real, marcando gol em 2000, o primeiro da vitória sobre o Valencia por 3 a 0.
Sávio: vindo do Flamengo, após vário atritos com Romário, o atacante brasileiro brilhou muito na equipe, jogando em cinco temporadas. Participou de diversas conquistas, mas sofreu com a concorrência no ataque e as lesões.
Ronaldo: foi o terceiro Galáctico contratado por Pérez em 2002, logo após brilhar na Copa do Mundo da Coreia do Sul e Japão. Viveu bons momentos com a camisa merengue, foi decisivo no título mundial do centenário, mas iniciou sua já conhecida luta contra a balança e com as primeiras contestações sobre seu futebol. Mesmo assim, foi muito querido pela torcida.
Mijatovic: jogou de 1996 até 2000 no Real e foi o herói da conquista da Liga dos Campeões de 1998, quando marcou o gol do título merengue depois de 32 anos. Rápido, oportunista e driblador, o iugoslavo foi um dos grandes destaques do time no período.
Anelka: chegou badalado e com estrela em 1999, marcou gols importantes (como os dois na semifinal contra o Bayern, na Liga dos Campeões de 1999-2000), mas logo caiu no ostracismo e nas polêmicas, como quando foi multado por se negar a treinar. Deixou a equipe já em 2000. Não deixou saudades…
Suker: o artilheiro da Copa de 1998 teve bons momentos com a camisa do Real, a qual vestiu entre 1996 e 1999. Seus quatro gols na campanha do título europeu de 1998 foram essenciais para o sucesso do time. Não brilhou mais pela concorrência com Raúl, Morientes e Mijatovic.
Jupp Heynches e Vicente del Bosque (Técnicos): o alemão Heychens conseguiu fazer o Real Madrid forte novamente, tornar a camisa merengue temida e dar a glória europeia ao clube depois de longos 32 anos. Com um time jovem, talentoso e muito técnico, soube como ninguém neutralizar craques adversários e usar todas as qualidades de suas armas letais (Hierro, Roberto Carlos, Redondo, Seedorf, Raúl…). Já Vicente del Bosque trouxe mais cadência, tranquilidade e, claro, eficiência ao esquadrão, com muita conversa, padrão de jogo e superação. Com ele, o Real não se importava em jogar em casa ou fora dela, impunha seu jogo em qualquer campo e não se importava em ganhar de apenas 1 a 0 ou de 2 a 1. O importante era a vitória. Mas sempre com estilo. Foram imortais e ídolos para a torcida.

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