O desesperado Atlético Mineiro manda embora Marcelo Oliveira. Em meio à decisão da Copa do Brasil. O presidente Nepomuceno age como torcedor. E busca o “Lisca Doido mineiro”. O futebol brasileiro vai de mal a pior…
É o efeito Lisca Doido elevado à nona potência. A direção do Atlético Mineiro conseguiu entrar para os anais do futebol brasileiro. Demitir um treinador que está disputando a decisão de um torneio nacional. O presidente Daniel Nepomuceno não se conformou com a derrota do time para o Grêmio, por 3 a 1, em pleno Mineirão. O dirigente passou muita vergonha. Gastou, montou um time caro 'para ser campeão', como ele mesmo frisou. Do Brasileiro ou da Copa do Brasil. Não aceitaria desculpas.
O time já não tem mais condições de conquistar o Brasileiro. É o quarto colocado, 12 pontos distantes do líder e provável campeão Palmeiras. A equipe tem chance de nem chegar em terceiro e ter de disputar a 'Pré-Libertadores'. E a derrota de ontem torna muito difícil uma reviravoltas em Porto Alegre. Ou seja, além de não conquistar nenhum título, um time com Robinho, Fred, Lucas Pratto, Victor, Erazo, Cazares, não consegue chegar nem direto à fase de grupo da Libertadores.
Para Nepomuceno, algo precisava ser feito. E as vaias de milhares de torcedores e as reclamações de inúmeros conselheiros mostraram o caminho. Demitir Marcelo Oliveira. A decisão foi tomada pelo presidente na madrugada. Ele convocou Marcelo Oliveira para uma reunião durante a manhã e o mandou embora. Sem o menor constrangimento. Se esqueceu que, quando o convidou a voltar ao clube, ofereceu contrato até dezembro de 2017. Seria o seu treinador preferido. O que deu o bicampeão brasileiro ao Cruzeiro. Apostou que não teria como não fazer o mesmo com o elenco importante, caro que o Atlético Mineiro montou.
Mas Marcelo Oliveira mostrou o mesmo defeito que custou seu emprego em um momento improvável, no Palmeiras. Aliás, sua permanência foi considerada um erro por Alexandre Mattos e Paulo Nobre. O time venceu a Copa do Brasil, mas seguia jogando muito mal. Com o time preso, como pebolim, no esquema 4-2-3-1. E uma característica ruim, péssima, que segue Oliveira. O difícil relacionamento que mantém com os jogadores. Depois de determinado tempo, ele não consegue cobrar o elenco para dar resultados. E acaba escolhendo um ou dois atletas para sacrificar e mostrar força. Foi assim com Leandro Almeida. No Atlético, escolheu Cazares e Rafael Carioca.
Mas não estava adiantando. Ele havia perdido o comando do time. O domínio da equipe.
"Era um jogo díficil, tentamos nos motivar. O que foi pedido, o que a gente cobrou no vestiário a gente não fez. Era decisão, não era qualquer jogo, não era "peladinha". Tinha que ter entrado com mais vontade, com mais garra, para conseguir a vitória", desabafou Marcos Rocha.
"Nós temos que criar vergonha e mudar nossa postura lá (em Porto Alegre). Temos capacidade, temos qualidade para virar lá também, por que não? Mas é preciso vergonha, querer ganhar", disse Leandro Donizete.
Os desabafos repercutiram. Todos sabiam que havia um comandante que deveria motivar o time. Fazer com que entrasse com outra postura. A de mandatário, dono da casa. Se impor diante do Grêmio. E essa pessoa deveria ser Marcelo Oliveira.
Além do estado psicológico, há o estratégico. O Atlético Mineiro atuando em um patético 4-3-3, ofereceu todo o meio de campo para o Grêmio, que atuou com cinco jogadores constantes no meio de campo. Era injusta a briga nas intermediárias. Sobravam gaúchos. Eles dominavam o jogo e desesperavam a torcida.
Os atleticanos que lotaram o Mineirão viam. Mas não conseguiam entender o que estava acontecendo. E tratavam de pedir, em coro 'raça, raça, raça'. Mas não era só raça faltava o óbvio a um time de futebol que quer ser grande: organização. Robinho e Lucas Pratto seguiam mais isolados que Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. A bola não chegava. Era como se o Atlético Mineiro revolucionasse o futebol mundial. Atuando no 6-0-4. Não existia meio de campo.
O resultado foi deprimente.
Mas faltando seis dias para o jogo decisivo, mandar embora Marcelo Oliveira é algo insano. O que poderá fazer um novo técnico na próxima quarta-feira? Apesar de Nepomuceno querer Roger, ex-Grêmio, o time deverá ser comandado por Diogo Giacomini, técnico do sub-20. O presidente atleticano não deveria ser omisso, nunca. Mas agiu por impulso, raiva. Não é dessa maneira que dá satisfação a milhões de torcedores decepcionados pelo Brasil. Ele teve seis meses para demitir Marcelo Oliveira que, quer queira ou não, levou o time à decisão da Copa do Brasil. Mas entre os dois jogos finais é uma atitude intempestiva, digna de torcedor.
Ficou constrangedor para Nepomuceno.
A incompetência não foi apenas de Marcelo Oliveira.
Mas do presidente em escolher o comandante da equipe caríssima que montou.
O dirigente espera que o famoso 'fato novo' motive os jogadores.
E os façam vencer o bem montado Grêmio de Renato Gaúcho, em Porto Alegre.
Tudo é muito amador, improvisado.
Marcelo Oliveira sai desmoralizado, sem dúvida alguma.
Ele deveria saber como as coisas funcionam.
Afinal, esta foi sua sétima passagem pela Cidade do Galo.
Foi onde nasceu como jogador.
Mas o pior personagem nesta tragédia é Daniel Nepomuceno.
Um dirigente precisa ser coerente.
Levar a sério o planejamento.
O trabalho não ficou ruim ontem.
Já deveria estar há tempo.
Trocar de treinador no meio de duas finais é o fundo do poço.
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