O projeto de criação da Botafogo S/A não precisa de nenhuma nova legislação para clubes virarem empresa no Brasil. Pelo contrário. Ele pode perfeitamente existir nos modelos atuais, como já fez o xará do time carioca em Ribeirão Preto. Só que, se o plano der errado, mais uma vez a “culpa” recairá sobre o modelo de empresa, e não sobre o real problema que assola a cabeça do nosso futebol: pensar apenas na bola!
Se quiser ser bem-sucedido no futebol, o Botafogo precisará pensar, primeiro, em arrumar a casa. Do jeito que as coisas estão, é inviável o clube tentar atuar em alto nível. Isso é algo, aliás, que não ocorre há vários anos. Ao criar a S/A, o Botafogo parece querer se livrar de um problema, que são as dívidas, e deixá-lo para quem cuida do departamento social resolver.
O problema é que, ao que tudo indica, quem está assumindo a gestão do clube são torcedores endinheirados que sonham em ver o Botafogo glorioso que não pode perder para ninguém, como diz o hino do clube. E, com esse pensamento, em vez de o clube passar a ter uma gestão racional, será apenas mais um time que, do dia para a noite, encontra um pote de ouro, mas não sabe o que fazer com ele e transforma a riqueza em loucura em questão de tempo.
O fundamental para o Botafogo, nesse primeiro momento, é organizar a vida. Mais do que sair contratando jogadores para montar um time competitivo, à espera de que isso vá gerar mais engajamento da torcida, valorização do clube e consequentemente maior receita no médio prazo, é preciso primeiro melhorar o produto. E isso não significa investir tudo no futebol, mas em profissionais que fora de campo vão dar sustentação para que dentro dele tudo possa correr com naturalidade.
Quando o River Plate caiu para a Série B na Argentina, foi buscar um executivo no McDonald’s para reorganizar a casa. Hoje, o River é, com folga, o clube mais sólido do futebol argentino, sem cometer loucuras e sem deixar a dívida aumentar.
Não existe milagre do dinheiro no futebol, e Palmeiras e Flamengo estão aí para provar isso. Só com a casa organizada que o crescimento pode ser sustentável. Para o Fogão voltar a ser protagonista, tem de esquecer a bola e olhar para fora do campo.
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