Tudo está em aberto. Em primeiro lugar, é necessário entender o contexto. Começando pela vertente legal: esta não é uma situação prevista nos regulamentos. No artigo 4.º do Regulamento de Competições da Liga é explícito que o organismo «poderá, em caso de força maior e em circunstâncias excecionais, devidamente justificadas, prorrogar o termo da época desportiva, assim como suspender total ou parcialmente qualquer competição oficial por si organizada», mas o quadro normativo não prevê situações excecionais como esta.
O artigo 16.º aponta que «as competições oficiais por pontos terão obrigatoriamente duas voltas simétricas e os participantes encontrar-se-ão todos entre si, uma vez na condição de visitados e outra na de visitantes, nos respetivos estádios, não sendo autorizada a inversão dos jogos», mas caso a paragem se prolongue no tempo é muito provável que não seja possível levar a cabo as 10 jornadas que faltam.
todos a favor ou então...
Nesse caso, e face a este vazio regulamentar, teria de ser a comissão executiva da Liga a propor uma solução. Optar pelo sistema de play-off de apuramento de campeão e de descida como se fala em Itália ou pura e simplesmente não atribuir o título de campeão são hipóteses em cima da mesa que teriam de passar obrigatoriamente por uma Assembleia Geral extraordinária da Liga. Com um pormenor: a decisão só poderia ser ratificada por unanimidade em vez da maioria qualificada por se tratar de uma alteração para a época ainda em curso.
E se não houvesse unanimidade (nada que surpreendesse face às divergências entre os principais contendores)? O cenário mais extremo teria de passar pelas mãos do Governo, ou seja, via secretaria de Estado da Juventude e Desporto, que invocaria o interesse público para tomar uma deliberação final.
Outro ponto importante está relacionado com as vagas para a Europa. Num hipotético campeonato cancelado em definitivo e sem um campeão, as vagas para a Champions e Liga Europa teriam de ser comunicadas pela Liga à UEFA, mas também aqui teria de haver consenso entre os clubes. Caso contrário, o limite dos limites passaria por algo tão simples e que remonta aos primórdios das competições europeias: seria a UEFA a fazer convites aos clubes - ironicamente, aquilo que a associação dos emblemas mais ricos da Europa pretende para a superliga em regime fechado, estilo NBA, ao que a UEFA se opõe.
São cenários estranhos, é certo, mas a época que vivemos também o é.
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