Nascimento: 08 de Novembro de 1922, no Recife, PE, Brasil. Faleceu em 11 de Maio de 1996, no Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Posições: Centroavante e Ponta-de-lança.
Clubes: Sport-BRA (1939-1942), Vasco-BRA (1942-1945 e 1948-1956) e Fluminense-BRA (1946-1947).
Principais títulos por clubes:
1 Campeonato Pernambucano (1941) pelo Sport.
1 Campeonato Sul-Americano de Clubes (1948) e 4 Campeonatos Cariocas (1945, 1949, 1950 e 1952) pelo Vasco.
1 Campeonato Carioca (1946) pelo Fluminense.
Principais títulos por seleção:
1 Campeonato Sul-Americano (1949) e 1 Campeonato Pan-Americano (1952) pelo Brasil.
Principais títulos individuais e artilharias:
Artilheiro da Copa do Mundo da FIFA: 1950 (8 gols – algumas fontes dizem nove, mas um dos gols de Ademir no torneio, contra a Espanha, foi creditado ao defensor Parra, que desviou o chute do atacante)
Artilheiro do Campeonato Pernambucano: 1941 (11 gols)
Artilheiro do Campeonato Carioca: 1949 (31 gols) e 1950 (25 gols)
Artilheiro do Torneio Rio-SP: 1951 (9 gols)
Eleito o Melhor Jogador do Campeonato Sul-Americano de 1949
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1950
Eleito o 68º Maior Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999
Eleito o 44º Maior Jogador Sul-Americano do Século XX pela IFFHS: 1999
Eleito o 18º Maior Jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS: 1999
Eleito um dos 100 Maiores Jogadores do Século XX pela revista World Soccer: 1999
Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times
Eleito o 95º Maior Jogador da História das Copas pela revista Placar: 2006
Eleito para o Time dos Sonhos do Vasco pela Revista Placar: 2006
“O genial Queixada”
Ninguém podia com suas arrancadas (ou “rush”, para os cronistas), muito menos com seus chutes potentes vindos de ambas as pernas. Os zagueiros tinham seus pontos fracos decifrados em pouquíssimo tempo e eram simplesmente destruídos por aquele atacante virtuoso e imponente. Dentro da área, era um definidor pleno. Fora dela, não encontrava adversários à altura para evitar o que mais gostava de fazer na vida: gols, seja com a camisa que ele tanto amou, a do Vasco da Gama, seja com a branca com toques azuis da Seleção Brasileira. Tivesse sido campeão do mundo na Copa de 1950, aquele goleador de queixo avantajado teria alcançado um status estratosférico de gênio, mito, lenda. Mas, num capricho ácido e rude do futebol, ele não ganhou a taça e perdeu a oportunidade de residir no mais alto pódio dos grandes nomes do esporte. Mas, para aqueles que realmente entendem e dignificam os méritos e o talento de um atleta, Ademir Marques de Menezes, ou simplesmente Ademir, foi um dos maiores atacantes de toda a história do futebol pelos títulos, pelos gols, pelo jeito de jogar e por tudo o que fez dentro de campo. Ele era uma verdadeira máquina de fazer gols e um pesadelo para qualquer defensor. E ele se garantia fosse qualquer jogo ou situação. Ademir foi o maquinista principal do lendário Expresso da Vitória cruzmaltino que marcou época no futebol sul-americano nos anos 40, campeão com todas as camisas que vestiu e um dos primeiros camisas 9 de sucesso na Seleção, além de ter sido um dos poucos que se livraram das críticas no fatídico Maracanazo. É hora de relembrar.
Paixão à primeira vista
Nascido no Recife (PE), Ademir começou a despontar para o futebol barbarizando em peladas nas praias pernambucanas e demonstrando muita força, inteligência, velocidade e habilidade plena para chutar com as duas pernas. Muito elogiado pelos colegas, ele se encorajou a tentar carreira no Sport mesmo contra a vontade de sua mãe, que queria para o filho a solidez de uma faculdade de Medicina ou Odontologia. Ademir entrou para as categorias de base do Leão em 1938, ano em que venceu o Campeonato Pernambucano Juvenil como capitão e principal nome do time. Em 1939, entrou para o time principal do clube rubro-negro e, com apenas 16 anos, disputou apenas um jogo, participando de mais partidas na temporada de 1940, mas a maioria como suplente por causa da pouca idade.
Foi em 1941 que o atacante mostrou, enfim, seu talento para todo o estado. No campeonato estadual daquele ano, o Sport foi campeão invicto com 11 vitórias e um empate em 12 jogos e Ademir se tornou o artilheiro do time e da competição com 11 gols, um feito notável para um jovem de apenas 18 anos. Após a conquista e ser reverenciado por toda a imprensa pernambucana, Ademir disputou alguns jogos pela Seleção Pernambucana e viajou com seus companheiros para o Sul e Sudeste do país, a fim de disputar uma série de amistosos pelo clube rubro-negro. Quando aportou no Rio de Janeiro, Ademir arrebatou com dirigentes vascaínos que se impressionaram com o “garoto de queixo avantajado” principalmente após ele marcar três gols em um duelo contra o Flamengo e por comandar uma vitória do seu Sport sobre o próprio Vasco, de virada, por 5 a 3, com três gols dele e uma assistência. Apaixonados por Ademir, os dirigentes cruzmaltinos não perderam tempo e contrataram o atacante para a temporada de 1942 por 800 mil réis e luvas de 40 contos, algo inédito para um jogador profissional na época. Começaria ali a crescer a fama de goleador do Queixada, apelido que ganhou por causa do tamanho proeminente de seu queixo.
Craque completo
Em suas primeiras partidas pelo Vasco, Ademir deixou as mostras de que era realmente um jogador fora de série. Ele não só finalizava bem dentro e fora da área com as duas pernas e de cabeça como também construía jogadas para os companheiros e atraía a marcação para si, além de ser capaz de atuar em qualquer uma das cinco posições de ataque do 2-3-5 tão utilizado na época. Não bastasse todas essas qualidades, Ademir ainda se habituava a guardar em sua memória os trejeitos e manias dos zagueiros que enfrentava. Motivo: saber quais eram seus pontos fracos e vencê-los pelo “calcanhar de Aquiles”, como ele mesmo disse certa vez:
“Pavão, do Flamengo, era firme na direita; então eu driblava para a esquerda; Gérson, do Botafogo, só dava pancada; o jeito era não deixar que ele encostasse. Havia os marcadores técnicos, que gostavam de tentar dribles depois de ganhar a jogada; nesses, eu dava um bote rápido e às vezes me dava bem”. Ademir de Menezes, em entrevista publicada no especial “As Maiores Torcidas do Brasil – Vasco”, da Placar, em 1989.
Após dois anos marcando gols, mas sem levantar a almejada taça do Campeonato Carioca, Ademir celebrou o caneco em 1945, quando o Vasco faturou o troféu de maneira invicta com 13 vitórias e cinco empates em 18 jogos, sendo o primeiro clube na era do profissionalismo a ser campeão carioca sem sofrer uma derrota sequer. Ademir balançou as redes 13 vezes e colaborou para o companheiro Lelé ser o grande artilheiro com 15 gols. Jogando ao lado de jogadores como Barbosa, Rafagnelli, Augusto, Ely, Djalma, Jair e Chico (e, a partir de 1946, o “príncipe” Danilo), Ademir era um dos grandes craques que fariam daquele Vasco o principal clube do estado (e do Brasil) na segunda metade da década. A única coisa que o artilheiro lamentava era a ausência da Copa do Mundo por causa da II Guerra Mundial. Com isso, ele tinha que se contentar com o Campeonato Sul-Americano de Seleções e amargar vários revezes para a forte Argentina da época.
Chega Ademir, chega o título!
Encantado com o futebol apresentado por Ademir no Carioca de 1945, o técnico do Fluminense na época, Gentil Cardoso, fez um desafio à diretoria do clube tricolor ao dizer, já visando a temporada de 1946: “Deem-me Ademir que eu lhes darei o campeonato”. Como o craque não tinha passe fixo e não havia recebido um tostão do prêmio extra do caneco de 1945, Ademir foi para o Flu já na temporada seguinte e, para a alegria dos tricolores, barbarizou. Jogando ao lado de Pedro Amorim, Careca, Orlando Pingo de Ouro e Rodrigues, o Queixada marcou 24 gols em 23 jogos e foi um dos responsáveis pela marca de 97 gols anotados pelo Flu na campanha do título carioca de 1946, conquistado com uma vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo com gol, claro, de Ademir. No final do jogo, o craque foi para os braços da torcida e arrancou lágrimas do técnico Gentil Cardoso, que via o artista que ele tanto queria cumprir a promessa do título. Durante a campanha, Ademir teve tempo, também, de dar uma “cutucada” no Vasco ao fazer o gol da vitória por 2 a 0 no primeiro clássico após sua saída de São Januário, que teve muitas vaias por parte da torcida cruzmaltina, mas um gol cheio de raiva de Ademir, que partiu com seu rush pra cima de Barbosa, driblou o goleirão sem dó e estufou as redes vazias.
Em 1947, Ademir continuou como principal jogador do Flu e marcou 16 gols no Carioca daquele ano, mas o troféu ficou com o super Vasco, que voltou a conversar com o craque para um retorno já em 1948. Com muito carinho pelo clube, Queixada aceitou voltar e desembarcou na Colina para uma segunda estadia. E ela seria ainda mais brilhante que a primeira.
No embalo do Expresso
De volta ao Vasco, Ademir viu um esquadrão tinindo, embalado e jogando por música. A equipe tinha um padrão de jogo fantástico e simplesmente destruía seus adversários com uma qualidade impressionante para a época. O título de boas-vindas do craque foi o melhor e mais portentoso possível: aconteceu no Chile, em 1948, quando o Vasco faturou o 1º Campeonato Sul-Americano de Clubes da história, uma espécie de embrião da Copa Libertadores. Ademir deixou sua marca na goleada sobre o Nacional-URU, mas acabou machucando o tornozelo e ficou de fora das partidas seguintes que consolidaram a histórica conquista internacional do clube carioca. Após a ressaca do título de 1948, Ademir e seus companheiros retomaram o posto de reis do Rio em 1949 e com Ademir como o grande artilheiro com 31 gols marcados. O Queixada foi o verdadeiro terror naquela competição e deixou sua marca em cinco dos seis clássicos disputados, com o destaque que ele marcou todos os gols das vitórias sobre Flamengo (2 a 1), Fluminense (2 a 0) e Botafogo (2 a 1) no returno.
Ainda naquele ano, o craque conquistou seu primeiro título pela Seleção Brasileira: o Campeonato Sul-Americano, no qual anotou sete gols e foi o principal craque de um torneio que o Brasil dominou: sete jogos, seis vitórias, uma derrota, 39 gols marcados e sete sofridos, uma média de 5,57 gols por jogo. Mas o que ele queria, mesmo, era o maior dos títulos: a Copa do Mundo, que voltaria a ser disputada depois de 12 anos. E justamente no Brasil.
Ele merecia sorte melhor
Nenhum comentário:
Postar um comentário