Como Mancini ganhou a disputa com Levir Culpi. Na juventude, na gana, na vontade de recuperar títulos e respeito nacional. Como Caio Júnior. Mancini é o novo comandante da Chapecoense…
Um treinador com gana, ambição, vontade de recomeçar a carreira. Lutar para figurar entre os melhores treinadores do Brasil. Como um dia parecia que seria. Alguém que precise de conquistas para recuperar o respeito da opinião pública.
E saiba trabalhar com jogadores que precisem ser valorizados.
Formar um grupo solidário, amigo, competitivo.
Capaz de lidar bem com a ansiedade de uma cidade ferida.
Esses foram os critérios da diretoria da Chapecoense para escolher Vagner Mancini com seu novo treinador. O homem que vai substituir Caio Júnior, morto no trágico acidente na Colômbia.
Mancini vive um idêntico momento ao que Caio Júnior vivia, quando aceitou o posto. Ambos tiveram uma boa carreira como jogadores. Inteligentes, compensavam a falta de talento diferenciado pela dedicação tática. Virarem treinadores foi mais do que natural.
Caio conseguiu o primeiro destaque como técnico ao fazer o Cianorte golear o Corinthians por 3 a 0 na Copa do Brasil de 2005. Depois, em 2006, classificou o Paraná Clube à sua primeira e única Libertadores. No Palmeiras, chegou como prodígio. E teve um trabalho regular. Mesma coisa no Flamengo, Botafogo. No Grêmio ficou apenas oito partidas.
Só conquistou títulos no Catar, com Al-Gharafa, em 2010. Voltou a ser campeão no Vitória, em 2013, ganhando o Baiano. Foi para a Arábia Saudita e acumulou no currículo a Copa do Golfo. O mercado dos grandes clubes brasileiros estava fechado para ele. No começo ficou resistente, mas acabou aceitando a proposta da Chapecoense, não só deu sequência, como aprimorou o bom trabalho de Guto Ferreira. O casamento foi perfeito.
A campanha surpreendente na Sul-Americana surpreendeu até os dirigentes. A cidade estava ensandecida de tanto orgulho. A Arena Condá cada vez mais lotada. Até que chegou a final contra o campeão da Libertadores, o Atlético Nacional. E chegou a infeliz economia no voo da Lamia. E a morte...
Levir Culpi, treinador rodado, vivido. 63 anos estava disposto a assumir o clube. Trabalharia três meses de graça. E depois, falaria sobre salário. A direção da Chapecoense, a princípio, gostou da ideia. Só que depois percebeu que estaria presa. Caso o trabalho fosse muito bom, Levir ficaria à vontade para pedir o salário que quisesse. Não haveria como recusar.
Contra ele pesou seus dois últimos trabalhos. Principalmente a saída do Atlético Mineiro e do Fluminense. Foi detectada uma apatia que não encaixava com o desejo dos dirigentes na reconstrução da Chapecoense.
Estava decidido, Levir, não.
Então os olhos caíram sobre Vagner Mancini. Sua carreira está em um momento ruim, como a de Caio Júnior quando assumiu a Chapecoense. Depois de um começo arrasador, ganhando a Copa do Brasil com o Paulista de Jundiaí, em 2005. Trocaria de clubes mais três vezes. Passou voando pelo Grêmio, seis jogos. Santos, Vasco e Botafogo. Com trabalhos médios. Só voltaria a ser campeão com o Ceará e com o Vitória. Venceu dois estaduais.
Havia sido demitido pelo time baiano em setembro. Seu trabalho era fraco. Mantinha a equipe na zona do rebaixamento. Desde a demissão, não foi procurado por clube algum. Se comprometeu com um curso de treinador na CBF. Foi quando surgiu a Chapecoense.
A conversa foi rápida.
Está claro que ele terá de seguir a mesma cartilha na busca de uma equipe competitiva, moderna, ambiciosa, sem medo. E com futebol para frente, capaz de tornar a cidade de Chapecó sua cúmplice. E lotar constantemente a Arena Condá.
Ao garantir que sim seu contrato de um ano foi assinado.
Ele acaba de ser apresentado.
"Começamos a trabalhar hoje, fizemos a primeira reunião. É um desafio gigantesco. É desnecessário dizer o desafio numérico de compor um elenco inteiro. São competições extremamente importantes. E o que a gente já sabe, de forma transparente, com todos departamento de futebol, com presidente é que a gente precisa ter um processo ágil. E vai demandar análise do perfil e da filosofia do clube. Das condições. Chegou a hora da verdade."
O novo treinador da Chapecoense tem 50 anos. 13 a menos que Levir Culpi.
Mancini chegou ao clube com Rui Costa, ex-executivo do Grêmio. Os dois estudarão os jogadores a serem contratados. Serão cerca de 20. Perto de 10 subirão das categorias de base.
A diretoria quer manter o mesmo padrão salarial do time que sucumbiu no acidente.
Teto em cerca de R$ 90 mil. Sem grandes medalhões. O clube tinha sete competições em 2017: Libertadores, Copa Sul-Americana, Brasileiro, Primeira Liga, Campeonato Catarinense, Copa do Brasil, Copa Suruga. Terá a oitava.
Disputará o torneio Juan Gamper, com o Barcelona. Em um único jogo. Receberá do clube catalão, 250 mil dólares, cerca de R$ 843 mil. Mais passagens e transporte. O torneio é apenas um confronto. O que importa é publicidade, a repercussão internacional de enfrentar o clube catalão. Jornalistas espanhóis garantem que Neymar pediu uma 'ajuda' à Chapecoense.
O jogo contra o Atlético Mineiro foi cancelado.
Um pouco de bom senso à CBF.
Considerado W.O. para as duas equipes no domingo.
A cidade começa a se recuperar.
O luto será eterno.
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